domingo, abril 24, 2005

As ribeiras de Sto Antão

E é aqui que começa o resumo da minha viagem...
Como passei por este sítios de carro e pouco tempo estive em cada um deles, e como não tenho palavras para os descrever e as fotos também não o conseguem fazer na totalidade... vou só falar-vos da visita num breve resumo:
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No sábado à tarde, depois de um rol de emoções vividas durante a viagem e os primeiros contactos com a ilha de Sto Antão, fomos com o Djin-Djim conhecer as ribeiras que existiam à esquerda da Ribeira Grande, sempre à beira do mar.
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Entre Paúl, Ribeira do Paúl, Janela e Pontinha de Janela... não sei o que gostei mais...
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Durante este percurso vêm-se vilas e aldeias que crescem à beira-mar, junto à praia de pedra rolada, ou mesmo em cima de pequenos penhascos sobre a falésia, que exibem orgulhosas casas e edifícios coloniais lindíssimos e degradados pelo tempo, e ao lado casas novas, feias, cinzentas do reboco ainda por pintar.
Vêem-se também vilas que crescem nas encostas escarpadas das ribeiras já a caminho do interior da ilha, subindo por estradas sinuosas e em caminhos de pé posto, serpenteando por entre os degraus, esculpidos à mão, onde se planta um pouco de tudo...
Vêm-se salpicando as montanhas casinhas de pedra e colmo, as típicas da ilha, onde habitam aqueles que, dia após dia, sobem e descem estas enormes encostas para arduamente ter o seu pão e queijo em cima da mesa ao fim de mais um dia. Estas casas isoladas, longe de tudo e de todos, erguem-se em locais onde jamais um de nós se arriscaria sequer a construir um muro... e no entanto mantêm-se de pé e são habitadas por gente tão dura como a pedra que nasceu debaixo dos seus pés.
Passamos por pocilgas bem escondidas na paisagem, onde os porcos crescem em apenas 1,5m2 até ao dia da matança. Dia esse que permite de 6 em 6 meses que a família coma carne e compre um bocadinho mais de tudo um pouco que ao longo do anos precisam.
Passamos por esses patamares de cultivo que se desenvolvem ao longo de toda a paisagem, em locais íngremes e onde só é possível aproveitar muitas vezes apenas menos de 30 cm de terra para por uma fileira de cana, ou uma bananeira, ou duas fileiras de batatas...
Passamos por trapiches de onde sai um intenso cheiro a grogue que nos embebeda à passagem e nos convida a uma breve entrada para conhecer o dono já velho e a sua muito jovem esposa, "presa" a este casamento de conveniência (com mais vantagens para ele do que para ela) para se "libertar" aos 13 anos da pobreza em que vivia a sua família na ilha do Fogo. Um pouco a medo a jovem agora ainda mais nova do que eu, e não ainda conformada com o seu destino, pede-nos com o olhar que a tiremos dali, enquanto quase resignada nos explica como se faz o grogue, o ponche di mel e o mel de cana, que ali produzem... apresenta-nos ao motor destes trapiche (alambique), o enorme Napoleão, um boi com 2 afiados cornos e de ar carrancudo que nos olha com aparente passividade.
Passamos também por um docel, onde se produzem e vendem os melhores doces que já comi... mas este, tal como outros tantos, corre o risco de não produzir muito mais nos próximos meses, ou mesmo anos, é que a falta de frascos impede a venda e pára a produção que se queria como uma fonte segura de rendimentos para as doceiras e para a cultura santantonense.
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Por todos os sítios onde passamos existem sempre coisas lindas para ver e viver... em todo o lado nascem crianças vindas do nada que se aproximam do carro e rasgam sorrisos quando lhes estendemos rebuçados...
Gritam de alegria quando com a minha máquina fotográfica lhes tiro uma fotografia, e eles em euforia completa chamam os outros e a família para mostrar que eles aparecem ali naquela máquina, dentro daquela pequena caixa cinzenta,
e acreditam quando lhes digo, que quando regressar tratei as suas fotos em papel para lhas dar... e como o que se promete tem de ser sempre cumprido, regressarei lá, a cada um destes sítios para lhes dar um dos maiores presentes do mundo, a prova da sua existência.

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