quarta-feira, novembro 04, 2009

O Acidente

Na 2ª feira da semana passada tive um acidente de carro.
Tinha ido de manhã à África do Sul com um motorista de pesados e um responsável da manutenção das viaturas, para ir buscar um camião que tinha ido para reparação. Teoricamente chegávamos a Nelspruit (que entretanto mudou de nome para Mbombela) e depois de almoçar iniciávamos a viagem já com o camião atrás do meu carro. Mas como na empresa só fizeram metade do que estava programado acabámos por esperar 3 horas para a viatura estar pronta. Neste tempo decidi ir comer ao 1º Mac Donalds que aqui na zona (já fui lá duas vezes… o vícios são difíceis de largar). Fui depois ao Mall (Riverside Mall – o antro de perdição para pessoas loucas por fazer compras…) é gigante e para quem não tem muita paciência para ir para sítios fechados barulhentos e cheios de gente, como eu, é quase um martírio ir lá. Mas acabei por aproveitar para comprar algumas coisas que me faziam falta lá em casa e que ainda não tinha tido tempo para ir comprar.
Enchi a bagageira do carro, e com os 2 funcionários voltámos às oficinas onde fizemos nova inspecção da viatura. Tudo em ordem, ou aparentemente em ordem, meti-me no carro com o camião a seguir-me de perto porque era eu que sabia o caminho (mal… mas ainda assim sabia-o).
Já estava escuro quando saímos da cidade (aqui está a escurecer por volta das 18h), e a estrada cheia de carros impedia-nos de seguir a mais de 80 km/h. Fizemos tranquilamente o caminho de 2 h até à fronteira, tratámos das papeladas todas do lado sul-africano e depois do lado moçambicano, e seguimos viagem.
Para quem não conhece a N4, estrada nacional que faz a ligação Maputo-Nelspruit, explico que não passa por povoação nenhuma até chegarmos quase às portas de Maputo. É só mato e mais mato. Sem iluminação na estrada e com muitos camiões e carros a circularem sem luzes. Mas esta noite até estava calma, quase não passavam carros por nós.
Já a meio do caminho íamos a 100 km/h, nada demais quando o limite é 120… eu à frente o camião atrás, felizmente bem atrás. Uma pick-up inicia a ultrapassagem ao meu carro e quando estava ao meu lado surge no meio da via em sentido contrário um homem a pé. Eu só o vi quando estava a menos de 20 m de nós. O carro que me ultrapassava, travou mas não o suficiente, e teve que guinar o volante perdendo o controlo do carro, para não atropelar o homem. Ao perder o controlo bate de lado na parte de trás do meu carro e… bem… o meu carro perdeu o contacto com o piso, saiu disparado para a faixa contrária em direcção ao mato e à valeta que não existe. Percebi imediatamente que se saísse da estrada corria sérios riscos de capotar devido ao desnível. Agarrei-me ao volante e numa cena quase de filme tentava controlar o carro impedindo-o de fazer piões completos. Consegui fazer 3 meios piões, num dos quais fiquei de frente para o camião que me seguia. Consegui voltar a virar noutra direcção, vi pelo espelho retrovisor a pick-up a cair de lado na beira da estrada, e em segundos consegui também imobilizar o meu carro, já fora da estrada.
Parei, respirei fundo… está tudo bem. O funcionário que me acompanhava saiu a correr do carro, eu desliguei o motor e tirei a chave, procurei o telemóvel que entretanto tinha voado juntamente com tudo o que estava solto no carro. Ainda a fechar o carro comecei a fazer as chamadas a pedir auxílio. Procurei o homem que se tinha atravessado na estrada, mas não havia sinal dele. Fui ter com o condutor do outro carro que entretanto saía da viatura virada de lado. Estamos todos bem…
Só na manhã seguinte quando acordei é que me apercebi do perigo que isto foi, podia ter corrido tudo muito mal, mas felizmente correu bem. Não capotei (se isso tivesse acontecido provavelmente não estava aqui hoje), ninguém se magoou (nem um arranhão), e os carros saíram a andar sozinhos… nem sei muito bem como…
Valeu-me o telemóvel, a ajuda de quem passava e de alguns amigos que me apoiaram nas horas e dia seguinte.
Estes últimos dias tenho andado muito zen… ou perto disso. Estou contente por estar bem… e penso nas pequenas coisas que me fazem bem… todas elas muito mais importantes do que a correria do dia-a-dia… Tempo de balanço mais uma vez… E depois desta continua-se em frente com mais força e mais cuidado, com um sorriso nos lábios por, tão simplesmente, ver o sol nascer, mais uma vez.