terça-feira, setembro 27, 2011

Futuro próximo

Ando assim, como que arrastada pela corrente, ora me aproximo de terra ora me afasto novamente para alto mar, lá onde as ondas são altas, onde subo e desço em flutuações de humor, ainda mais enjoativas do que o habitual.
Hoje acordei muitas vezes durante a noite... desde frio, calor, mosquitos, enjoos... a minha cabeça anda às voltas e voltas, e nem este último fim-de-semana grande, nem o reiki ou o yoga, me conseguem acalmar.
Estes meses são parecidos com os que antecederam a minha vinda para Maputo. Estes meses são de silêncio, introspecção, apoio na família (que agora está a 10,5 horas de viagem), expectativa, nervoso miudinho... São o prelúdio do futuro, de um futuro aqui tão perto e ao mesmo tempo, que demora tanto a chegar.
Gosto desta emoção, mesmo que diga que não gosto. Mas gosto de verdade, porque é daqui, deste turbilhão, que sai mais uma mudança, uma daquelas que pode não ser física, mas que é claramente emocional.
O meu coração vibra ao ritmo da minha alma, quero dar um passo em direcção ao meu futuro que já está ali, mas olho em volta, pisco os olhos, tento focar e não o vejo com clareza. Para falar a verdade nem sei por onde devo seguir, nem sei como é este futuro, apenas sei que quero e preciso de avançar.
Mas, por agora, paro tudo e aguardo, aguardo que me digam algo, aguardo que um sino dentro de mim toque exigindo uma reacção.
Não sou, normalmente, uma pessoa que espera acções para depois agir, mas a verdade é que neste momento preciso que todos os restantes actores ajam para que eu, depois de reflectir (e aproveito estes momentos para isso), possa então dar esse passo grande ou pequeno, que me leva para lá, para o meu futuro mais próximo, que está já ali.

quarta-feira, julho 27, 2011

Provérbio zambeziano

“Mulher é terra.
Sem semear, sem regar, nada produz”

Um bocadinho da nossa realidade...

A lixeira de Hulene, na zona suburbana de Maputo, mesmo ao lado do aeroporto, recebe todos os dias os resíduos produzidos por esta cidade em crescimento. A vida e o trabalho ali são duros, e estão longe dos olhares menos atentos de quem vive no centro da cidade. Ali vivem-se vidas, constroem-se famílias, sobrevive-se e criam-se negócios. Ali há gente, muita gente...
A reportagem fotográfica que se pode ver no link mostra um bocadinho desta realidade.
http://www.behance.net/gallery/Trash-Land/1820899

segunda-feira, julho 18, 2011

Hoje parecia Natal...

Hoje, não sei muito bem porquê, parecia Natal.
Talvez tenha sido uma conjugação de factores, que me fizeram sentir o cheirinho no ar daquela típica manhã de véspera de Natal. Aquela manhã em que acordamos todas bem cedo, tomamos um duche e um pequeno-almoço rápido, pomos o leitor de cd ou o gira-discos a tocar aquelas músicas clássicas que já todos sabemos de cor. Aquela manhã em que decidimos qual de nós vai ajudar a mãe e qual vai ajudar a avó. :)
Hoje parecia-me esse momento em que tomo o pequeno-almoço antes de começar a preparar a ceia. E porque é que me parecia esse momento?
Acordei e estava frio, bastante frio. Mas estava sol, aquela luz no ar, aquele tom de azul no céu de inverno. O ar seco do aquecedor, os cães espreguiçam-se com aquela preguiça de inverno, eu levanto-me com um sorriso nos lábios (muito típico do espírito natalício).
Dias antes fui a casa dos vizinhos de cima onde ainda está montada a minha árvore de Natal. Decidimos que como já faltam menos de 6 meses, o melhor é ficar já montada para a próxima ceia.
E para além disto tudo, ligo a televisão enquanto tomo o pequeno-almoço, e ouvem-se as vozes angelicais dos meninos dos coros de Natal.
Por momentos, breves momentos, sorri e sonhei. Hoje para mim é Natal.
E bateu cá dentro um coração cheio de saudades... já foram 2 anos longe do calor da família, não pode passar mais um ano sem que coma o bacalhau e o peru envolvida pelos braços daqueles que sinto demasiada falta. :)
Este ano estarei aí. Feliz Natal

terça-feira, julho 12, 2011

terça-feira, maio 17, 2011

Dia 21 e 22 – da Gorongosa a ...

E é assim que a viagem termina antes do tempo... são 15h e estou no aeródromo do Chimoio, à espera do avião que vem da Beira para nos levar de volta a Maputo. O meu carro morreu... quer dizer, não sei bem se morreu, mas decidiu que era ainda muito cedo para voltar para casa, e deciciu que ir ficar por aqui mesmo, pelo menos mais uma semana. Esta manhã acordei bem cedo para fazer o último safari na Gorongosa, estava cheia de energia resultado daquela esperança que teima até ao fim, que me faz pensar que ainda vou ver leões. Mas depois de 3h vimos apenas os do costume, tirei mais umas fotos dos saltos dos antílopes enquanto fogem, e pouco ou nada mais. Arrumei tudo e fomos de carro novamente para Chimoio, no carro do Sr. Victor. Cheguei à oficina onde estava o carro, e a equipa disse-me que tinha feito vários testes e que não tinha detectado nada de anormal com o carro, nem fugas, nem ruídos, nem aquecimento, nem nada. Pedi-lhes então para fazermos mais um teste e quando dei à chave o carro morreu... e já não saiu mais dali. Com 3 ou 4 telefonemas resolvi a questão do transporte do carro para Maputo, e o local para o arranjar. Enquanto isto o Pedro foi à LAM comprar os nossos bilhetes de regresso. Havia um voo ainda esta tarde, e por isso comecei a arrumar as malas no carro com as coisas pessoais e com os artigos de artesanato que tinha comprado. O resto que era do carro, peças e ferramentes, ficou tudo. Pegámos nas malas e lá fomos nós, embora de Chimoio, sem ir a Manica, sem ver as pinturas rupestres, sem chegar perto das montanhas de Chimanimani, sem sequer ver a Cabeça do Velho ou a Mesquita. Ficámos no aeródromo horas e horas, e segundo a LAM o avião estava já a chegar. Eram 19h quando desistiram e nos levaram para o Hotel Inter. Depois de um check-in atribulado fui tomar um banho quente, e tentar lavar o cabelo com um daqueles sabonetes pequeninos... uma aventura que se traduziu num penteado mais ao estilo ninho de rato. Já a cambalear de tanto sono fui jantar, mas o jantar demorou e demorou... esperei 2 horas... já não aguentava mais e fui refilar. Lá nos trouxeram uma massa com todos e um arroz com peixe... estranho... fiquei-me pela massa. Saí depois a correr para o meu quarto onde aterrei estoirada na cama fofa e quente e onde dormi apenas até às 6h do dia seguinte.
No dia seguinte o despertar foi às 6h, nem sabíamos bem a que horas era o avião, e ao telefone disseram-me que saímos no transfer às 7h. Ok.... lá rebolei para fora da cama, tomei o duche e fechei a mala, desci e comi o pequeno-almoço muito rápido, e seguimos para o aeródromo mais uma vez. Desta vez o avião vinha mesmo.... ou talvez não... afinal estava mesmo avariado e tinha regressado ainda ontem a Maputo vazio. Esperámos e esperámos, ainda pensámos em ir de autocarro mas só saía às 17h e só chegaríamos de madrugada, por isso esperámos mais um pouco. Entretanto uma amiga minha estava na Beira e vinha em trabalho ao Chimoio, pensei que seria boa ideia aproveitar depois a boleia dela para ir à Beira apanhar o avião da noite. Foi nesta altura (eram já 11h da manhã) que nos disseram que um boeing iria tentar aterrar pela primeira vez neste aeródromo para nos ir buscar, pois éramos tantos (já estavam 2 voos inteiros ali à espera). O piloto tentou e conseguiu e 1h depois embarcávamos finalmente rumo a Maputo. Sobrevoámos esta província cheia de magia que não consegui ver, cheia de verde, de montanhas, de palhotas em aldeias perdidas, de tradições, de música, de muito que não vi e queria ver. Terá de ficar para uma próxima vez. Para além desta parte, falhei ainda a cidade da Beira, onde o meu pai nasceu, perdi também o regresso ao Bazaruto e a ida à ilha de Santa Carolina onde os meus pais passaram a lua de mel... perdi isto, mas é já tudo aqui tão perto (a 1 ou 2 dias de viagem de carro, pertinho mesmo), hei-de voltar.
Amei Moçambique, adorei a viagem, e agora no regresso sinto-me bem, sinto-me como se regressasse a casa, à minha casa de Maputo. Ainda tenho um balanço para fazer... mas agora com a minha mãe a caminho para me visitar, este balanço deverá ser feito mais tarde, quando a poeira do caminho assentar.

domingo, maio 15, 2011

Dia 20 – Parque Nacional da Gorongosa

Eram 6h da manhã matabichamos e saímos daí a 30 minutos para mais um safari, desta vez a única coisa que vimos de novo foram algumas aves, incluindo a águia pesqueira e cegonhas pretas, e ainda um hipopótamo que se banqueteava com erva fresca junto a uma das picadas. Regressámos para o acampamento para passar a hora de maior calor, em que também os animais recolhem à sombra fresca do mato. Às 15h novo safari, desta vez tivemos um pouco do mesmo, mas com mais uma manada de elefantes, e quando já ninguém esperava, um Serval, meio escondido no meio do capim. Valeu a pena, mas leões e Pala-Pala nem vê-los. Agora espero o jantar enquanto bebo mais um gin tónico e vejo pela 4ª vez o filme antigo da Gorongosa. Andam por aqui osgas, sapinhos e de vez em quanto uns Facoceros (javalis), de resto tudo calmo. Anseio pelo último safari de amanhã que tem o único objectivo de ver leões e, claro, Pala-Pala.

sábado, maio 14, 2011

Dia 19 – de Chimoio à Gorongosa

Mais um dia sem despertador, mas também mais um dia em que acordámos muito cedo, aliás cedo demais, tão cedo que o portão do backpackers estava ainda fechado e tivemos de esperar o guarda Sr. Rambo para abrir. Saímos à procura de um café aberto para tomar o pequeno-almoço mas a cidade ainda estava a acordar, andámos pelas ruas a tirar fotografias e no desafio de levantar dinheiro, visitámos a Igreja de Maria Emaculada (estava mesmo escrito assim) e lá fizemos tempo suficiente para matabichar (30 minutos de espera para 1 meia de leite e uma mini tosta mista). Era 9h quando o sr. Vitor nos foi buscar para uma viagem de 2:30 até ao Parque Nacional da Gorongosa, aquele que já foi em tempos uma reserva cheia de animais, mas que foram praticamente todos dizimados durante o tempo de fome que acompanhou a guerra civil. Chegados aqui, partimos logo para o safari das 15h às 18h. Vimos antílopes e mais antílopes, os do costume, mas nada de Pala-Pala, nem leões, ao pôr-do-sol ainda conseguimos ver ao longe uma manada de elefantes com mais de 30 elementos. Levantaram as trombas para nos cheirarem mesmo ao longe, e começaram a avançar a passo para o jipe com as orelhas abertas em tom de ameaça. O comportamento dos elefantes foi tão diferente do que tenho visto, dizem que alguns deles ainda são da época das matanças e portanto têm uma atitude mais agressiva do que o normal. De regresso ao acampamento jantámos na companhia de mais 2 portugueses que andam a recordar o país, e depois de muita conversa e gargalhadas fomos dormir já cansados.

sexta-feira, maio 13, 2011

Dia 18 – do Songo a Tete e a Chimoio

Tínhamos decidido que não iríamos sair tão cedo, porque precisávamos de descansar, mas o ritmo já estava instalado, e logo que o sol nasceu, tomei banho, peguei na mala e fui para o carro verificar níveis de tudo e mais alguma coisa ainda antes do Pedro se juntar para seguirmos viagem. Tomei um pequeno-almoço português (meia de leite e tosta mista, que me soube mesmo a Portugal), enquanto falávamos com o Sr. Teles que nos contava histórias de caçadas e pescarias e nos explicou como ver a barragem, agora de dia. Seguimos para lá e infelizmente a vista não é de todo a que esperava, vê-se só de lado, não se vê a parede toda mas só o coroamento. E tentar subir a pé um dos montes para ver melhor? Não é aconselhável sem guia, porque infelizmente durante a guerra os terrenos todos ali à volta foram plantados com minas e claro que o mapa de localização nunca apareceu e ainda não se fez desminagem a toda esta zona. Sendo assim, o melhor era seguir viagem, agora rumo a Tete, um pouco mais acima. Já não ia a Tete à mais de uma ano, e sempre que fui aterrei no aeroporto e pouco tempo tive para ver com calma porque ia em trabalho. A cidade cresceu imenso, está cheia de armazéns, carros, casas, gente, serviços... tudo e nada de interessante para fazer. Demos uma volta e parámos apenas naquela pastelaria de esquina para comer qualquer coisa, atravessámos a ponte do Zambeze, a ponte suspensa já com história e bonita sob um rio largo de águas calmas que reflecte as margens cheias de gente. A seguir a este desvio rumámos para sul, agora sim para iniciar a descida de regresso a Maputo, com paragem em Chimoio, antiga Vila Pery, para tentar ir a Manica, ver pinturas rupestres, ver a Serra Vumba, as montanhas de Chimanimani, o museu de geologia, e em Chimoio para ver a mesquita e a Cabeça do Velho (aquele monte onde ainda se fazem rituais tradicionais, como os casamentos). Mas aconteceu-nos mais uma desagradável surpresa, quando parámos a meio do caminho para novo abastecimento, o carro que vinha a andar bem, aqueceu, outra vez.... parámos 2 horas para deixar arrefecer, aproveitámos para dar uma das bolas que levávamos aos miúdos que pararam ali quando vinham da escola, enchemos o radiador de água (4 lts tinham pura e simplesmente evaporado) e depois de falar com a oficina no Chimoio, mais uma vez, fomos andando com calma tentando não imprimir nenhum esforço excessivo ao carro. Chegámos bem, sem mais percalços, demos entrada da viatura e tivemos de mais uma vez alterar os planos. Confirmei a nossa reserva para dormir no backpackers Pink Papaya, enquanto o Pedro tentava arranjar quem nos levasse ao Parque Nacional da Gorongosa na manhã seguinte. Depois de tudo tratado fomos para o Pink Papaya, largar as coisas. Seguindo algumas indicações da dona saímos a pé pelas ruas escuras da cidade à procura de sítio para comer, quando nos deparámos com tudo fechado, decidimos ficar sem jantar, e no regresso ao backpackers a Anya, aconselhou-nos então a casa de uns indianos que costumam fazer comida para levar. Entrámos pelo portão sentámos numa das mesas e comemos mesmo ali enquanto víamos telenovela brasileira (continuam fantásticas... mesmo depois de muitos anos sem ver nada do género). Tinham acabado de abrir ao público (tem cerca de 2 meses) e o serviço familiar agradou depois de tanta coisa que tinha já corrido mal (afinal era sexta-feira dia 13).

quinta-feira, maio 12, 2011

Dia 17 – de Caia ao Songo

Até hoje nunca tínhamos saído antes do nascer do sol, mas este troço da viagem era grande por isso saímos às 5h da manhã para ver se conseguíamos chegar ao Songo a tempo de ver a barragem de Cahora Bassa. A viagem foi complicada não pela escuridão mas pelo nevoeiro denso que apanhámos durante a primeira hora de estrada. Quando chegámos ao Inchope, provavelmente o cruzamento mais importante e mais movimentado de Moçambique, virámos finalmente para Chimoio de onde seguiríamos para a última subida para norte. Mal saímos da bomba de combustível percebi que estava com a direcção do carro demasiado pesada, abri o capot e tínhamos óleo espalhado por todo o lado. Um outro viajante parou ao nosso lado e logo ali vimos que estávamos sem óleo de direcção no depósito. Abastecemos, ligámos para a oficina da Toyota no Chimoio e avisámos da nossa chegada em breve. Seguimos viagem com cuidado e à chegada foi detectada em pouco tempo a fuga. Um tubo estava já “cansado” e foi substituído, logo depois seguimos viagem para o Songo, mas já com 3 horas de atraso, já não ia dar para ver a barragem de dia e muito menos para seguirmos depois viagem para Tete, onde um amigo do Pedro nos tinha oferecido dormida. A viagem foi relativamente rápida, e particularmente interessante. A paisagem mudava mais uma vez, desfilando do nosso lado esquerdo as montanhas de Chimanimani e do nosso lado direito uma planície sem fim ponteada com inselbergs. Dezenas de povoações ao longo do caminho, de onde saíam cães, porcos, galinhas e cabras, para além da “procissão” de pessoas que em todas as estradas do país percorrem as bermas, apenas andando, carregando à cabeça um pouco de tudo, ou simplesmente paradas, sentadas, como que à espera de algo. À medida que a paisagem ia ficando mais árida também as palhotas ficavam diferentes e também a organização das aldeias mudava novamente de estilo. Já ao pôr-do-sol chegámos à cancela de acesso ao Songo e à barragem, e depois de 20 minutos a mostrar identificação aos polícias e a fazer o nosso registo lá nos deixaram entrar, basicamente com a "condição" de darmos boleia a um dos polícias que ia para a vila do Songo à escola. Fomos pelo lado da barragem, que vimos já iluminada, mas apenas do lado do grande lago. Aqui o carro queixou-se da subida difícil e aqueceu... outra vez... esperámos e depois de arrefecer lá fomos para o Songo para o Centro Social onde conseguimos ainda ficar com o último quarto disponível. Demos uma volta ao Songo, ou melhor dizendo, aos Songos, visto que a vila está dividida em duas zonas, norte e sul, tão separadas uma da outra que mais parecem duas vilas diferentes. Regressámos ao centro social para jantar no restaurante “Teles”, onde efectivamente se come muito bem. Mais uma vez dormir, não sem antes abastecer a viatura com o combustível que tínhamos nos jerricans, não valia a pena andar com 40 kg a mais no carro quando afinal já há postos de abastecimento por todo o país.

quarta-feira, maio 11, 2011

Dia 16 – de Nampula a Caia

Este foi um dos dias mais cansativos de estrada, muitos quilómetros com poucas paragens, e a fazer uma estrada que já conhecíamos. Descemos quase de seguida para Caia onde abastecemos de combustível, e pouco depois entrámos no complexo Dalman, onde se produz madeira para móveis e artesanato. Tivemos a sorte de sermos recebidos pelo dono da exploração (Mr. John White) que nos mostrou e explicou os projectos que têm sido aqui desenvolvidos. Vimos o processamento de madeira desde o corte dos troncos até à secagem da madeira, passando pelo aproveitamento de desperdícios para fazer pequenas cercas de protecção às árvores jovens, a construção de colmeias como parte do projecto comunitário, e a produção de artesanato que é feito na oficina onde se treinam alguns artesãos locais que são depois incentivados a criar a sua própria empresa. Fomos ainda acompanhados por um dos guardas/fiscais desta zona que nos falou do trabalho que desenvolvem no combate a caçadores furtivos e a roubos de madeira. Vimos ainda o viveiro de árvores pequenas que são depois plantadas pela comunidade local, e durante o passeio pela mata conseguimos ver alguns antílopes que habitam no meio da exploração. Regressámos à casa no meio do mato, tomei um banho quente e já no restaurante, enquanto esperava o jantar, comprei ainda algumas das peças que são feitas na oficina pelos artesãos. Deitei-me cedo, pouco depois do pôr-do-sol, porque o cansaço já começa a pesar depois de tantos dias de viagem.

terça-feira, maio 10, 2011

Dia 15 – do Lago Niassa a Nampula

Eram 4:45 quando me foram acordar com o pequeno-almoço já servido na minha varanda. Saí do quarto e fiz o percurso pela praia, despedi-me deste paraíso e com a lágrima no canto do olho segui para Cobué onde o jipe nos esperava. 4:30 de caminho penoso e chegámos a Lichinga onde ainda houve tempo para comprar umas capulanas antes de seguir para o aeroporto. Pouco depois levantámos voo rumo a Nampula, mais uma vez, onde o meu carro me esperava agora já arranjado, para seguirmos viagem. Perdemos o resto da tarde a reaver o dinheiro do voo da LAM que tinha sido cancelado dias antes, e o resto do tempo a jantar na casa do Sporting. Ficámos em casa da minha amiga para no dia seguinte sairmos bem cedo.

segunda-feira, maio 09, 2011

Dia 14 – Lago Niassa

Às 6h da manhã acordei tranquila e preguiçosa, rebolei da cama para fora e caminhei devagar pelo caminho de areia para a praia onde estava completamente sozinha. Óculos de mergulho na cara a fui perder-me nas águas doces do Lago pela última vez. Depois de ter lido 2 livros sobre os ciclídeos no dia anterior, estava agora capaz de os observar e até identificar alguns. Só saí da água quando os dedos começaram a enrugar, e depois de secar um bocadinho ao sol tomei o pequeno-almoço, na praia outra vez... o luxo. Peguei na máquina fotográfica e meti-me no bote em direcção à Ilha de Likoma. A meio caminho parámos em Cobué para carimbar a saída do país, e à chegada a Likoma, no meio do mercado que quase nada tem para vender, encontrámos o fiscal de fronteira do lado do Malawi (a ilha de Likoma pertence já ao Malawi). Era o sr. mais bem vestido da zona, com sapatos e calças pretas, camisa às riscas cor-de-rosa e roxas, que nos disse que o posto de fronteira é móvel e que podíamos sentar ali naqueles bancos para tratar da papelada. Abriu a pasta e sacou os impressos de entrada e também já os de saída, preenchemos tudo e depois do carimbo, ficaram registadas tanto a entrada como a saída, assim não tínhamos de o incomodar mais. Demos uma pequena volta à vila para ver a igreja anglicana que estava fechada, e que só daí a 2 horas podíamos visitar, vimos o hospital e a escola, e na pensão apanhámos o barco de volta para o lado Moçambicano. Disseram-nos que valia a pena ver a ilha, mas sinceramente, era um buraco sem nada para ver ou fazer. Depois de 30 minutos a furar ondas e a apanhar com água de todos os lados, chegámos novamente a Cobué, onde tivemos de esperar pelo fiscal de fronteira que devia estar algures num bar ou em casa a descansar. Aproveitei para fotografar a igreja totalmente destruída (igreja esta que tinha sido incendiada durante a guerra), e ainda tive de aturar um polícia que me queria cobrar dinheiro por fotografar a igreja... enfim... Regresso ao Nkwichi já com o lago mais calmo, almoço tardio na praia, mais um duche e agora um gin tónico ao pôr-do-sol de céu laranja e vermelho, visto de umas pedras lá ao fundo, enquanto o Ernesto tentava roer os meus dedos antes de adormecer. O último jantar foi mais uma vez na praia e o recolher foi bem cedo, porque amanhã o despertar será ainda de noite. Deixei tudo arrumado, tomei banho e sentei-me um bocadinho a ver as estrelas, meti-me na cama e desta vez tive de por o despertador para conseguir acordar.

domingo, maio 08, 2011

Dia 13 – Lago Niassa

Tinha pedido o pequeno-almoço para as 7:30, mas o cansaço era tanto que só acordei às 7:45, tinha sido esta a primeira noite livre de despertador. Depois de um duche rápido mais uma vez no meio do mato, vesti o bikini e levei a minha cesta com os óculos de mergulho para a praia onde uma mesa de pequeno-almoço muito recheada esperava por mim. Comi junto à margem do lago de águas cristalinas, com os pés descalço na areia, e já no fim da refeição comecei a ser “atacada” por um macaco malandro que queria roubar qualquer uma das coisas saborosas que estavam em cima da mesa. Depois de o ter enxotado até ele desistir, equipei-me e entrei dentro de água, ainda nem tinha a água pelo joelho e já via um monte de peixinhos coloridos à minha volta. Milhares de peixes, a grande parte deles ciclídeos, grande parte deles também que apenas existem no lago Niassa, e mesmo em alguns casos só nas margens do lado de Moçambique. Centenas de cores diferentes, as águas transparentes deixavam ver cada risca, cada pinta, cada pormenor, mesmo dos peixes mais pequeninos. Adorei. Voltei para a praia e troquei de roupa rapidamente para iniciar a caminhada pelo mato ali à volta. Saímos apenas com água e fomos às pequeníssimas cascatas/quedas de água, subimos mais até ao viewpoint de onde temos uma vista fantástica sobre o lago, desde as margens até às montanhas do lado do Malawi, pelo meio algumas canoas de pescadores, a ilha de Likoma e a canoa que saiu do Nkwichi para o nosso local de almoço. Descemos até ao Embondeiro / Baobáb, que dizem ter mais de 2000 anos e que tem, dizem também, 29 metros de perímetro. Absolutamente fantástico. Almoçámos à sombra da grande árvore da vida, ou árvore dos espíritos, como é conhecido aqui. O Pedro decidiu continuar a caminhada depois do almoço e eu decidi regressar ao lodge a remar na canoa tradicional. Depois de 30 minutos a remar contra as ondas, cheguei completamente encharcada, mas super feliz. Tomei mais um banho, fui buscar o cão Ernesto ao escritório e fui para a praia ler revistas da Africa Geographic. Estive assim de férias a dar e a receber miminhos do mini cão alucinado, até à hora de jantar. Já junto à fogueira bebi o gin tónico da praxe, jantei à beira lago um peixinho Chambo acabado de pescar, e ficámos à conversa até já ser noite escura, apenas iluminados pelos parcos candeeiros a petróleo que nos rodeavam. Retornei ao meu quarto fantástico e serenamente adormeci.

sábado, maio 07, 2011

Dia 12 – de Nampula ao Niassa

Eram 2h30 da manhã quando começámos a viagem de Pemba para Nampula, andar no meio da noite por uma estrada estreita, esburacada e com demasiados camiões, não é nada fácil, mas o Sr. Valente, nosso motorista, fez a viagem na perfeição, e eu sei porque não conseguia dormir, com o frio, o bater dos buracos e o barulho quase ensurdecedor dos camiões que passavam demasiado perto, misturado com aquela música comercial que saía dos rádio, cd após cd, que o sr. Valente ia escolhendo. Chegámos a Nampula às 7h30 da manhã, fomos tomar o pequeno-almoço e depois fomos procurar lojas de roupa. Tanto eu como o Pedro andamos com a roupa usada e re-usada que levámos para o barco, e as outras peças estavam em casa da Sylvia, que a esta hora ainda estava a descansar. Fuiao Fashion Wolrd e nunca comprei tanta coisa em tão pouco tempo, valeram-me as empregadas da loja que foram super eficientes e simpáticas. Ainda antes da loja abrir escolhi umas calças de ganga da montra e pedi a uma das empregadas para que logo que abrissem, me dar o meu número, me dar também umas t-shirts, uns ténis e o casaco mais quente. Abriram e em 2 minutos estava já no vestiário a experimentar tudo. Umas calças, uma camisola, um casaco de lã, uns ténis, 2 t-shirts e umas meias depois, estava já equipada para Lichinga e Lago Niassa, onde faz frio, principalmente à noite. O Pedro entretanto foi a uma das lojas das calamidades e comprou 3 t-shirts por 250 meticais, bem mais barato do que as minhas compras, mas as minhas pelo menos eram novinhas. Seguimos directamente para o aeroporto, fizemos o check-in (já conhecemos este aeroporto bem demais), e passados alguns minutos entrámos no avião que só serve batatas fritas, sumo de pacote e água, em direcção a Lichinga, a província menos povoada de Moçambique. A vista de cima é fantástica, as palhotas são diferentes e estão mais distantes umas das outras, para além disso, parece-me tudo mais organizado e limpo. Aterrámos e depois de esperar 30 minutos pelo nosso transfer, que apareceu já éramos os únicos no aeroporto, dirigimo-nos para a cidade. Esta paragem não estava nos planos deles mas estava nos meus. Os meus pais viveram em Lichinga durante algum tempo, e todas as fotografias e histórias que conhecia, puxavam-me para cá. Primeiro tentei encontrar a casa onde viveram, mas tudo está diferente, tudo mudou de nome, então “desconsegui”. Então disse que tinha a referência do Sr. Abel Lucas, amigo de família. Conheciam-no muito bem, e levaram-me até à sua nova casa mesmo à entrada da cidade. Pedi licença para entrar à esposa (como vim a saber mais tarde) e quando me apresentei, vi-me envolvida num abraço caloroso em apenas segundos. De imediato começaram a jorrar histórias e mais histórias sobre os meus pais.... Guardo-as para mim... tal como guardo este momento muito especial. As lágrimas corriam pelas minhas faces enquanto um sorriso se alargava cada vez mais... precisava disto, já há muito tempo que precisava disto, e o Sr. Abel percebeu e com todo o tempo e paciência do mundo contava-me cada vez mais. Quando consegui finalmente falar, perguntei-lhe se sabia onde tinha sido a casa dos meus pais, ao que me respondeu “sei sim, depois deles também eu morei ali, foi graças a eles que um técnico como eu se tornou o director provincial de agricultura” e muitas mais histórias vieram a partir daqui. Tirei fotos da família, despedi-me com mais um abraço, e segui para casa, aquela que agora tenho fotos, aquela cujo muro toquei. Entrei no carro e fiz a viagem de 5h até Cóbué em silêncio, pensativa e mais do que agradecida por ter tido o meu/nosso momento neste lugar. Enquanto ainda pensava nas histórias comecei a avistar o lago Niassa, aquele enorme “oceano” no meio do continente, aquele que brilha ao sol, que ondeia com o vento, aquele que até tem marés, claramente mais marés do que marinheiros. Depois de muita picada e muito trilho, chegámos ao Cobué onde um pequeno barco nos esperava. 30 minutos depois e durante o pôr-do-sol, cheguei ao Nkwichi Lodge, onde a Christina e o seu canito Ernesto nos esperavam. Depois de um briefing que não ouvi porque estava entretida a fazer festinhas e tropelias ao Ernesto, fui acompanhada ao quarto, ou melhor à minha casa dos próximos dias, que sítio fantástico. Depois de um merecido banho quente tomado à luz do candeeiro a petróleo, numa banheira ao ar livre no meio das árvores, segui para a praia onde uma fogueira acesa convidava os hóspedes a tomar uma bebida antes do jantar. Éramos apenas 4 hóspedes, e jantámos com a Christina e uma estagiária que estava a fazer um dos projectos comunitários do lodge, todos numa mesa redonda “à beira mar” à luz dos candeeiros... o som das ondas, o reflexo da lua no lago... nessa noite dormi bem... fui assim adormecendo suavemente enquanto me enroscava nos lençóis da cama gigante que estava ali bem no meio daquele quarto sem paredes nem janelas. As ondas batiam suaves nas pedras roladas da praia... e eu dormi.

sexta-feira, maio 06, 2011

Dia 11 – Ilha do Ibo e Pemba

Depois de uma noite de ataques violentos por parte dos mosquitos que invadiram a minha rede, lá acordei a precisar de dormir mais... fui tomar o pequeno-almoço no terraço com vista para o mangal, e despertei para a vida. Quis ainda ir dar um mergulho na minha piscina privativa, mas a água ainda estava demasiado fria (se calhar um bocadinho mais quente do que em Portugal no verão, mas para mim era fria). Vagueei pelo lodge para fazer tempo, e depois vesti o meu robe branco e caminhando pelo meu jardim privativo, fui para o quarto das massagens. Entrei e cheirava a ervas e incenso, uma cama alta esperava por mim no meio daquela meia-luz, deitei-me e deliciei-me com uma massagem Ibo, completa de relaxamento, onde é usado apenas óleo de coco, feito dos cocos da Ilha. Depois de uma hora de descanso sentia-me já outra. Devagar, devagarinho vesti-me outra vez e decidi ir dar mais uma volta à vila do Ibo (aquela que em tempos já foi capital da província de Cabo Delgado) fui ver os outros alojamentos, e fui ver casas velhas, podres, a cair, que estão para venda. Sim... apaixonei-me de verdade... não que efectivamente vá comprar alguma coisa, até porque já está tudo vendido, mas não me importava de passar mais tempo nesta ilha de tranquilidade. Regressei ao Lodge onde comi um peixinho grelhado, acabado de apanhar, dei mais umas voltinhas, e fui num dos 2 únicos carros da ilha, para o aeroporto. Chegámos e o piloto (tão novo que nem barda parecia ter), dormia estendido em cima de uma das asas da amostra de avião. Abriu as portas e janelas, e lá dentro havia apenas 3 lugares, para além dos 2 da cabine. Um lugar fui para o meu colega de viagem, outro para mim, e outro para as minhas máquinas. Filmar e fotografar as ilhas lá de cima, é tão bonito... ver aquelas gradações de azul do mais escuro ao verde água, passando pela turquesa... e lá no meio, plantadas as ilhas verdes bordeadas de praias de areia branca, intercaladas com as velas triangulares e tortas dos dhow que deslizam suavemente ao sabor do vento. Aiii... Aterrámos quase 30 minutos depois, não sem antes sobrevoar a baía de Pemba. No aeroporto tínhamos à espera ninguém... pois... nem o avião em que devíamos seguir para Nampula, estava lá. Fomos tentar fazer o check-in, e nicles. Estava tudo fechado. Entretanto surge do nada um carrinho pequenino a alta velocidade, faz um pião e estaciona de lado junto às partidas (isto foi tudo inventado, claro, o carro apenas chegou à velocidade normal, e estacionou de frente, como é habitual). Saíram duas senhoras, uma que nos diz com ar esbaforido “ah... estão aqui”, ao que repondo “sim”, e de volta ela diz “o vosso voo foi cancelado, não foram avisados?”, com o ar mais parvo deste mundo, e de queixo caído, respondo “não”. E foi assim, sem mais nem menos, cancelaram o nosso voo, passaram todos os passageiros para o voo anterior há 4 horas atrás, e esqueceram-se de nos avisar, faz todo o sentido, não faz? Atenção nós tínhamos já pessoas à nossa espera em Nampula, o carro na Toyota para levantar, um jantar marcado, voo para Lichinga na manhã seguinte, e transferes e alojamento já marcados e pagos, para os próximos dias que ficaríamos num paraíso junto ao lago Niassa. A senhora diz então, “a única alternativa é amanhã à noite vocês apanham um voo para Maputo, onde passam a noite, e depois no dia seguinte apanham um voo para Lichinga”, pois claro, agora sim faz todo o sentido, e entretanto perdemos rios de dinheiro com essa brincadeira, já para não falar que teria de voltar a casa ainda a meio das férias, e sem falar com estou no extremo norte do país na zona litoral e para ir para a zona norte no interior, tenho que voar até ao extremo sul... faz todo o sentido. Depois de muita conversa, lá nos passou uma nota para sermos reembolsados, no dia seguinte em Nampula, deu-nos depois boleia para a agência de viagens de uma das novas amigas da viagem, e depois de pedir favores a mil e uma pessoas, conseguimos um táxi para nos levar durante a noite de Pemba para Nampula, conseguimos ficar em casa da nova amiga, a quem agradeço imenso todo o apoio que nos deu. Então, voltando à história, a senhora do aeroporto deu-nos boleia para a cidade, onde ficámos com a Sónia. A Sónia levou-nos a casa dela para pousar as malas e para conhecer a família, levou-nos com ela para jantar no restaurante da prima dela, onde acontecia nessa noite um jantar de aniversário de 50 anos de casamento dos tios dela. 3 das pessoas que ali estavam eram já nossas conhecidas da Ilha de Moçambique, e as outras receberam-nos como se fôssemos família. Depois do jantar fomos para o bar Rema onde a banda apadrinhada pela Sónia toca todas as 6ª feiras, e ainda tivemos a oportunidade de ouvir a Sónia cantar, Da nossa mesa todos dançaram menos nós, os mais novos, que estávamos mais para lá do que para cá. Entretanto no meio daquele punhado de gente encontro uma amiga minha que já não via há anos. Quando acabou a noite e fomos tentar descansar um pouco antes da longa viagem que nos esperava, deparámo-nos com o motorista do carro já à nossa espera. Eram 2:30 da manhã, apenas tive tempo de me despedir da nossa anfitriã, pegar nas malas e meter-me no carro, para aquela que, até agora, foi a noite mais mal dormida da viagem.

quinta-feira, maio 05, 2011

Dia 10 - Ilha das Rolas à Ilha do Ibo

Acordámos bem cedo na vã esperança de que o vento teria acalmado o suficiente para vermos o fundo do mar, mas estava frio, o vento subia a cada minuto, e até ao largo das Rolas as ondas estavam picadas. A água ainda estava transparente, mas o frio do vento não convidava a mais um mergulho. Achámos que o melhor era darmos por terminada a nossa viagem nas águas quentes das Quirimbas. Depois de mais um pequeno-almoço a bordo, seguimos em direcção ao Ibo, a última paragem desta viagem pelo paraíso. Chegámos bem cedo, por volta das 9h, estava já a maré bastante baixa, o que no obrigou a navegar cautelosamente pelo canal entre baixios e a desembarcar nas areias lodosas em frente ao lodge. Não éramos esperados antes do almoço, por isso caminhámos tranquilamente pela zona de mangal até ao lodge onde fomos recebidos com grande surpresa mas também com muita disponibilidade. Rapidamente arranjaram-nos os quartos e um guia para dar a voltinha histórica à ilha. Soubemos nesta altura que éramos os únicos hóspedes do Lodge nessa noite, e por isso cada uma de nós ficou alojado em edifícios diferentes, cada um com a sua piscina e jardim, o verdadeiro luxo africano. Fui para o quarto, daqueles de tecto alto, com mobília estilo árabe antiga, camas altas com rede mosquiteira tipo dossel, candeeiros de vidro e muitas almofadas nos sofás e cadeiras, flores na cama e finalmente água doce e quentinha tão convidativa que sempre que ia ao quarto me obrigava a tomar mais um longo banho. Não tomava um banho verdadeiro de água doce e nem lavava ou escovava o cabelo desde que tinha embarcado no dhow Eve... e soube tão bem... Saímos do lodge já com o guia que nos mostrou os caminhos de terra batida que percorrem toda a vila do Ibo, desde o forte em forma de estrela, passando por antigos armazéns, casas, os outros micro-fortes e a restaurada igreja. Parei em todos os 4 sítios onde se podia comprar artesanato e comprei o que havia, jóias das mais bonitas e únicas, objectos de prata moldados pelas mãos experientes dos mestres que ainda se dedicam a este trabalho. Comprei tudo o que pude, todas as peças eram simplesmente demasiado fantásticas, e infelizmente percebe-se que se não forem os turistas que por aqui passam, a comprar praticamente tudo o que existe, esta arte está condenada a desaparecer para sempre. Depois de muitas fotos a edifícios e a crianças sorridentes, depois de conversa com alguns dos locais, que são das pessoas mais simpáticas que já conheci, depois de um pequeno escaldão e de muitas compras, voltei ao lodge para almoçar debaixo das árvores junto à piscina no meio do jardim. Saímos novamente para desta vez sem guia, palmilhar cada canto deste sítio, e... fiquei apaixonada... adorei, amei, pensei seriamente em ficar. Se decidir recomeçar de novo, este será o sítio perfeito para o fazer. Ibo a terra mística, calma, bonita e acolhedora, com história em cada pedra, com águas quentes e invernos amenos, terra de gente simpática e calorosa. Já ao fim da tarde e agora no terraço do lodge, bebi o meu gin tónico da praxe ao pôr-do-sol.... Isto é realmente o paraíso. Caiu então a noite assim de repente, e o silêncio invadiu o ambiente sob o céu mais estrelado de sempre. Depois do jantar, simplesmente descansei e adormeci.

quarta-feira, maio 04, 2011

Dias 7, 8 e 9 – Quirimbas - o Paraíso

Tudo o que vivi aqui é demasiado grande e bonito para descrever, acho que nem as fotos, ou filmes fazem justiça ao paraíso que é esta parte do mundo perdida no meio do Índico. Tudo o que disser parecerá sempre pouco face ao que senti e naveguei. Apesar disso aqui vai um resumo do que fiz, e do que espero muitos possam fazer tal como eu. Entrei num barco tipo Dhow, que tem uma vela pequena e um motor, barco este sem grandes luxos, sem wc, sem aquilo a que se pode chamar cozinha, sem quartos, sem camas, sem cadeiras... enfim sem nada mas afinal com tudo o que é preciso. Mar azul de águas transparentes com corais e milhares de peixes às cores no fundo, logo ali a apenas um mergulho de distância. Estrelas no céu, num céu tão denso de estrelas que me chamavam todas as noites para as apreciar, contar, partilhar histórias, decifrar enigmas. O vento tão suave que me tocou a cara refrescando-a com ares de mar a cada dia quente que passava. Os seres que nos visitaram, tartarugas, golfinhos e peixes voadores. O xaréu ou King Fish que pescámos e comemos já no fim do segundo dia. Aquele colchão de ar que se ia esvaziando durante a noite mas que me abraçava enquanto adormecia. As ilhas de areia branca, lisa, perfeita, plantadas no meio do mar azul, dos corais, com algumas árvores e palmeiras, sem sons do homem, sem as mãos do homem, intocadas, ou quase... o paraíso na terra.
No primeiro dia enjoei logo à chegada ao barco. Coisa rara, nunca vista, mas com uma explicação muito simples, tenho andado doente ou quase doente há já 3 dias, para além disso dormi muito pouco, e ainda decidi comer backed beans (feijões) ao pequeno-almoço. Vomitei os feijões, depois a água, depois os Doritos e novamente a água. Só ao fim do dia consegui comer a galinha estufada que fizemos a bordo e assim repor energias. Viajámos de Pemba até à ilha de Quipaco, já ali. Ancorámos e dormimos, não logo porque as estrelas chamavam-me sem cessar e fiquei perto de 2 horas a contemplar, já sozinha com o barco bamboleante e em silêncio.
Acorda-se bem cedo no mar, acorda-se com o sol que nasce, ainda consegui ver os primeiros raios de sol :) absolutamente fantástico. Não tinha dormido muito esta noite, o vento forte e a chuva miudinha e ainda o barco que teimosamente de vez em quando batia no fundo. Mas acordei bem, e cheia de vontade de seguir viagem rumo a norte. Mais do mesmo cenário :) desta vez o percurso foi a partir de Quipaco passando por Quissiva, Mefunvo, Gamba, Quilálea, Sencar, Macula, Quirimba, Ibo, Matemo, Rolas, Macalue e terminando ao largo de Pangane, naquela grande ilha chamada continente africano. Neste dia pescámos um king fish, de cerca de 6kg, quando eu quase rezava para que nenhum decidisse morder o isco... não me apetecia matar nenhum animal sem necessidade, mas as verdade é que não tínhamos comida suficiente para todos os dias e precisávamos de um peixe para pelo menos 2 das refeições. Depois de morto, ajudei a amanhar e limpar, cortei um filetezinho como se fosse sashimi, e deliciei-me... era mesmo muito bom. Comemos nessa noite peixe frito com batatas fritas, já ancorados ao largo de Pangane onde se ouviam os chamamentos das mesquitas desde as 4h30 da manhã.
Depois de mais horas e horas a contemplar as estrelas e desta vez já com uma noite de sono descansada, acordei pouco depois do nascer do sol para comer banana, ovos estrelado e torradas. Saí então do barco no pequeno caiaque, com o senhor Abib (Rapala para o comandante do barco, Peter) para irmos a Pangane ao mercado comprar ovos e pão. Logo que voltámos ao barco, seguimos viagem para Medjumbe, a ilha paraíso mesmo, e ao lado Quissanga, aquela que elegi como a minha ilha, aquela que um dia quando for grande vou comprar. Um dia terei um barco pequenino, para ir a Medjumbe buscar mantimentos, terei uma casa tipo palhota para dormir, vou ter um sistema de painéis solares, uma cisterna para água da chuva e vou passar o resto do tempo a plantar batatas e coisas afins, enquanto o Pumba e a Matilde correm loucos à volta da ilha, sem nunca se perderem. :) é tão bom sonhar... Mergulhei nas águas límpidas ao largo da minha ilha e amei, era mesmo aqui que queria ficar. Saímos daqui porque a ilha ainda não é minha e regressámos às Rolas para passar a noite, mais mergulhos, mas estrelas, mais mar. Amanhã acabamos no Ibo... adeus paraíso, espero um dia poder regressar.

domingo, maio 01, 2011

Dia 6 – da Ilha de Moçambique a Pemba

Eram 6h da manhã e já tinha a malinha feita e o pequeno-almoço tomado, quando entrámos novamente no táxi do Moisés para desta vez regressarmos a Nampula. A ponte de ligação ao continente estava tranquila, estavam mais de uma dezena de pessoas a pescar à linha ao longo dos primeiros metros de ponte, onde passavam também por baixo os barcos já atrasados que se dirigiam para mar alto para a pesca do dia. Com a música horrorosa em altos berros, que era a única forma do Moisés não adormecer durante as 2h de viagem, consegui eu dormir um bocadinho. Chegámos a Nampula no dia de mercado (domingo) e que deveria ter um movimento fora do comum com o desfile do 1º de Maio, mas era com certeza demasiado cedo para vermos sequer o princípio da festa. A chegada ao aeroporto foi rápida, tivemos ainda de esperar o check-in, que se revelou uma parvoíce pegada. As barbatanas de mergulho, que para quem não sabe são feitas de plástico e de borracha, e são muito leves e flexíveis, não puderam vir comigo na cabine porque diz o senhor que nada entende do assunto mas que está no balcão de check-in, que podem servir de arma... claro que me passei, disse-lhe que até um murro meu era mais arma do que aquelas barbatanas e até o lenço que levava ao pescoço podia servir para asfixiar alguém, e que até a minha carteira servia mais de arma de arremesso do que as barbatanas, e no fim ainda lhe perguntei se estava a gozar comigo. O senhor ficou verde, julgo e espero que por se ter apercebido da anormalidade que estava a dizer e ficou de tal forma “agastado” (como gostam de dizer por aqui) que saiu do balcão e teve de vir outra pessoa atender para acabar o check-in. Passando esta cena mais desagradável, lá apanhámos o avião para Pemba onde chegámos em 30 minutos. O céu estava cinzento e prometia chuva. Tínhamos à nossa espera o carro para nos levar ao Dive & Bush Camp, de onde partirá o barco que nos levará na volta às ilhas. Depois de deixar tudo no quarto, de alterar a viagem para Lichinga (as estradas estão intransitáveis, ainda há muitos rios transbordados), e de ligar a amigos de amigos que estão de fim-de-semana em Pemba, fui até ao bar para saber como podíamos ir para a cidade onde nos esperavam para uma passeio de barco. Um sul-africano que estava a comer doses e doses de chamussas (a única coisa que serviam aqui ao almoço), ofereceu-se para nos levar. Lá fui eu na caixa aberta em pé a ouvir os sons do mato e a apanhar a brisa mais fresca. Chegámos ao Clube Naval onde uma pequena lancha a motor, daquelas que anda muito muito rápido, nos esperava para um passeio até ao outro lado da entrada da baía de Pemba. Lá... num lodge daqueles que se paga qualquer coisa como 500€ por dia e por pessoa, parámos depois de pedir muito pela autorização para atracar, e depois de muita negociação de preço queriam cobrar-nos 80USD por pessoa para almoçar, sem bebidas. Ok, e almoçar o quê? Perguntam vocês como perguntei eu, pois... não sei, foi a resposta que nos deram. Pois...e não queriam mais nada.... entretanto começou a chover, mas não foi só um bocadinho, foi mesmo chover a potes, não se via nada, nem 2 palmos à frente do nariz. Resolvemos ficar e beber uma coca-cola de 3 USD cada um. Chovia chovia e chovia… parecia que nunca mais ia parar. Abrandou um bocadinho e nós todos que nem loucos corremos debaixo de chuva até à praia para desencalhar o barco ainda debaixo de chuva. Quando embarcámos tinha já parado de chover mas as ondas e a velocidade louca que atingimos fez levantar chuva de água salgada. Chegámos ao Clube Naval ao pôr-do-sol, aquele pôr-do-sol de África, e quando parámos junto ao pontão caiu outra carga de água ainda maior. Corri pela vida das minhas máquinas que estavam na mochila, cujo teste à prova de água era feito pela primeira vez. Abriguei-me debaixo de um telheiro de chapa de zinco furada ao lado do guarda da pequena estação de combustível. Depois da chuva passar, o Thomas , o nosso novo amigo sul-africano que devia só ter dado boleia para o barco e que acabou por fazer parte deste grupo louco durante todo o dia, bem... o Thomas levou-nos a comer uma pizza no sítio onde estava alojado e levou-nos depois a trocar de roupa ao nosso alojamento. Para acabar em grande o dia fomos jantar todos juntos outra vez ao Brazuca, que é uma restaurante demasiado caro, pseudo-fino e cuja comida não tem nada de bom ou de especial. Mas esteve-se bem, aliás tão bem que a conversa só terminou quando todos abríamos já a boca de cansaço, eram já 3h da manhã.

sábado, abril 30, 2011

Dia 5 – Ilha de Moçambique

Acordámos muito mais tarde do que o costume, por volta das 6h para daí a 30 minutos estamos a tomar o pequeno-almoço no jardim calmo do Escondidinho recostados nas almofadas de várias cores que pintalgam os sofás de pedra. Tranquilamente esperávamos a vinda de um senhor que nos deveria levar a dar um passeio de barco pelas praias e ilhas que existem nesta zona, mas o senhor da recepção que nos deveria ter tratado disso não combinou a hora certa nem o barco certo para darmos a volta que queríamos. Assim falámos com 3 pessoas diferentes e lá conseguimos marcar um passeio a começar às 12h, mas até lá ainda tínhamos de ver a Ilha. Em apenas 3 horas palmilhamos a ilha nos seus 3 km de comprimento e quase 500m de largura, fotografámos crianças sorridentes, árvores frondosas, igrejas, estátuas, praias e as vistas, fomos ao forte, percorremos acho que praticamente todas as ruas da ilha, e depois de muito sol e suor, 3 litros de água bebidos e muito protector solar, parámos dentro do bote a motor que nos levaria por mais 5 horas de passeios. Começámos por ir à Cabaceira Grande, onde existem duas igrejas, uma nova e uma antiga, ainda em funcionamento, e onde percorremos cada divisão e corredor da antiga casa de verão dos governadores... devo dizer que se vivia muito mal naquela época.... coitadinhos... Daqui saímos empurrando um bocadinho o barco novamente pelo mangal, e fomos bem para o mar aberto para a ilha do farol de Goa, passando ao largo da Cabaceira Pequena. A ilha do farol tem praias de areia branca e suave, água transparente, e do lado do mar, tem ainda rochas com buracos por onde a águas sai disparada como se fosse um géiser, sempre que as ondas altas batem nas rochas. É aqui e assim que nasce o arco-íris. Subi ao farol e avistei o horizonte como se de uma lâmpada gigante me tratasse, desci devagar devagarinho para a praia onde ao lado de peixinhos voadores tomei um banho revigorante. Já mais fresca, seguimos finalmente de regresso à Ilha de Moçambique, mas desta vez dando a volta para ver os edifícios do lado que deviam ser vistos – do mar. Vimos o forte de São Lourenço, as igrejas, o cemitério e as latrinas comunitárias, a ponte que liga em 7km liga a Ilha ao continente e uma fila de gente de cócoras a aliviar a tripa, ou a fazer necessidades maiores (como queiram), à beira-mar e virados para o mar, na esperança que as ondas da noite levem para bem longe o que ali largam. É assim e infelizmente não pode deixar de ser assim porque a Ilha tem demasiada gente e porque efectivamente não existe saneamento básico... enfim... Depois do passeio e ainda molhados, demos uma passagem rápida por uma loja de artesanato onde perdi a cabeça e teria perdido mais se pudesse carregar tudo para o carro em vez de carregar tudo às costas para o avião do dia seguinte. Comprei coisinhas lindas que nos foram entregar ao hotel já ao anoitecer. Depois do banho fomos à casa Azul ou, como é também conhecida, a casa do Zico, onde estava hospedada a minha amiga de Nampula e parte da sua "família" bem como alguns outros penetras como eu. Tomámos uma cervejinha no terraço debaixo das estrelas ao som estridente daquela música maluca de uma qualquer festa do outro lado da ilha, e depois de muitas indecisões sobre onde ir jantar, decidimos ir ao Escondidinho. Chegámos já tarde, com a cozinha fechada e “desconseguimos de jantar”. Seguimos então para o Âncora de Ouro, onde por sorte deixaram estes 9 esfomeados jantar. Comi lagosta com salsa de manga.... e no fim um bolo de chocolate.... hummmmmmmmmmmmmmm, muito bom........ Já cansada despedi-me num “até já”, fui dormir pela segunda vez na mesma cama (algo difícil nesta viagem) o sono dos justos para amanhã bem cedo seguir para o lugar mais a norte desta viagem, Pemba e o arquipélago das Quirimbas.

sexta-feira, abril 29, 2011

Dia 4 – de Gurué a Nampula e Ilha de Moçambique

Mais um dia em que acordámos cedo, queríamos chegar o mais rapidamente a Nampula para ver a cidade, almoçar com uma amiga minha e depois seguir viagem para a Ilha de Moçambique. À saída de Gurué já a cidade acordava em tons de verde misturados com neblina matinal que rapidamente se transformou em nevoeiro denso e húmido quase parecendo aqueles dias cinzentos de inverno que se apanham em Portugal. Subindo e descendo fizemos o caminho do dia anterior até Nampevo. Pouco antes de chegarmos a Errego tínhamos visto uma igreja branca imponente no meio do mato verde e denso, sem qualquer outra construção que se visse por perto. Como tinha prometido a um amigo que tiraria fotos de todas as igrejas que visse pelo caminho, para assim completar a colecção que ele tinha começado no final do ano, decidi virar para aquele desvio que não é mais do que um trilho pedonal usado por dezenas de pessoas que carregam este mundo e o outro à cabeça para vender no mercado mais acima junto à estrada. Seguíamos pelo trilho em contramão e perguntando se era por ali a igreja antiga, estávamos certos, aliás não havia outro caminho por onde passar. Avançamos por entre campos cultivados cuidadosamente, junto das aldeias e palhotas isoladas, também estas cuidadosamente plantadas entre as árvores, em clareiras varridas de terra vermelha. Chegámos à igreja e realmente ali à volta não havia nenhuma casa, apenas uma pequena escola já desmantelada que mantinha ainda pintado nas paredes os “jornal da turma” e “jornal da escola”.
A Igreja era realmente grande, branca já desbotada, com vidros e portas partidas, mas não se conseguia entrar. Espreitei lá para dentro julgando que nada tinha, mas surpresa minha, umas cadeiras e um altar, tudo muito pequeno comparado com a enormidade do edifício, mas significava que ainda estava a funcionar. Depois de algumas fotos voltámos ao caminho desta vez em direcção a Alto Molócue onde esperava comer alguma coisa ao pequeno-almoço. Procurámos a única pensão que vem referenciada e que teoricamente teria um restaurante, mas para meu grande azar a pensão já a cair aos pedaços ainda funcionava, mas comida “não há”. Deixámos o carro descansar por uns instantes, porque parecia estar a aquecer um bocadinho, e seguimos viagem comendo bolachas de gengibre e água. A viagem foi tranquila e chegámos a Nampula pela Av. do Trabalho, que me parece que é sempre a avenida mais confusa de trânsito de qualquer cidade deste país. À entrada no pára-arranca o carro começou outra vez a aquecer, pareceu-me claramente um problema de radiador, e à primeira oportunidade virei para as oficinas da toyota para ver se me podiam ajudar. Surpresa surpresa, um conhecido meu de Maputo de há um ano atrás, que já julgava de volta em Portugal, afinal estava lá e era o responsável de peças. Demos entrada do carro, entretanto a minha amiga foi-nos buscar para irmos almoçar a casa dela e conhecer a “família” (sim, porque aqui, todos nós criamos a nossa própria família). A cadelinha dela adorou-me e não me largou o tempo todo, e como as coincidências não podem ficar por aqui, a colega de casa é colega de trabalho de uma grande amiga minha de Maputo.... Moçambique é sempre assim. Almoçámos e conhecemos parte da família e mais o novo membro o gatinho bebé, e ficámos a aguardar a tão desejada chamada da toyota para saber novidades do carro... não eram novidades boas... o radiador tinha um furo, nem pequeno nem grande, mas do tamanho certo para poder ainda ser reparado sem grandes garantidas, mas num tempo que não era de todo o esperado por nós... até terça-feira pelo menos... passámos o resto da tarde a mudar planos de viagem, logo naquela tarde em que devíamos passear na cidade e ir conhecer as Cabaceiras Grande e Pequena. Enfim... lá para as 18h e no meio de muita corrida, veio um táxi que nos levou até à Ilha de Moçambique a cerca de 2h de caminho, já de noite a uma sexta-feira, o dia da loucura nas estradas para condutores e transeuntes bêbados que dançam e param no meio da estrada. Já mesmo à noitinha, entrámos no famoso “Escondidinho” para jantar uma bela salada de peixe fumado, um filete de peixe papagaio em vinho branco e uma salada de frutas com gelado.... tão bom.... dormi depois num quarto lindo de tecto alto, virado para a pracinha calma, e embalada por muitos séculos de História.

quinta-feira, abril 28, 2011

Dia 3 – de Quelimane ao Gurué

Partimos cedo muito cedo, como já vem sendo hábito nesta viagem. Saímos de Quelimane às 6 da manhã e não antes, porque tínhamos o vidro do carro cravado de insectos e cocó de morcego, e tivemos de limpar... que bom... saímos ainda no meio daquela bruma matinal que faz tudo parecer cinzento e frio, mas ao olhar mais atento vemos vida, movimento... imensa gente caminha mais uma vez à beira da estrada onde circulam já camiões, motas e bicicletas, centenas de bicicletas. A viagem foi tranquila, com estrada boa alternando com terra batida. Íamos subindo, subindo, ao longe e depois cada vez mais de perto erguem-se montes e montanhas, inselbergs... a paisagem fica verde cada vez mais verde... sem palavras e de máquina de filmar e de fotografar em punho, indecisa sobre qual usar em cada momento, indecisa ainda também sobre se as deveria usar de todo ou se devia apenas absorver cada momento. A cada curva mulheres e crianças carregando coisas das mais incríveis à cabeça, capulanas coloridas bamboleando ao passo ritmado do tempo que corre devagar, sombrinhas coloridas a roçar o piroso, enchiam a paisagem verde com cores vindas da china. Homens pedalam carregando 2 a 3 sacas grandes de carvão, colina acima, ou colina abaixo. Lá ao fundo começam a desenhar-se as montanhas entre as quais o famoso e grande Namúli, o segundo ponto mais alto do país, no seu sopé crescem há bem mais de 50 anos as famosas plantações de chá do Gurué, foi para lá que seguimos. Ao chegar vemos no meio dos campos, homens com cestas às costas, carregadas de folhas verdes, no meio de um manto verde do mais verde que há. Manto verde pintalgado de acácias majestosas de copas em sombrinha num verde-escuro só para dar contraste para as fotografias. Ergue-se no meio deste tapete o monte Namúli e a cadeia montanhosa que o acompanha. Antes de mais, fomos arranjar alojamento na Pensão Gurué no centro da cidade de ruas muito esburacadas, ou melhor cidade dos buracos com nomes de ruas. Quarto simples, no centro do movimento, com o melhor restaurante da cidade. Depois do almoço, e seguindo as indicações de locais e estrangeiros residentes, subimos de carro pelo meio dos campos de chá, até à Casa dos Noivos, foi mais de uma subida em 4x4, mas a vista sobre o vale, sobre os campos e sobre a cidade valeu cada momento. Adorámos e só por isso, na descida viemos devagar, parámos algumas vezes e tirámos sempre muitas fotografias. Como ainda era cedo seguimos para a UP5, a única fábrica de processamento de chá que costuma receber visitas inesperadas e dar-lhes uma visita guiada. E mesmo já perto da hora de fecho, fomos recebidos entre sorrisos e cheiro a folha de chá, dentro da fábrica, tendo acompanhado todo o processo de produção guiados pelo sr. Benito. Foi fabuloso. Saímos já perto do pôr-do-sol e fomos parando aqui e ali no meio dos campos verdejantes para tirar fotos ao sol que se embalava devagarinho na montanha para dormir.

quarta-feira, abril 27, 2011

Dia 2 – de Vilanculo a Quelimane

Viagem sem paragens, apenas para abastecer de combustível e comprar água e bolachas. A viagem começou no meio do nevoeiro, com as silhuetas de árvores e pessoas no meio da estrada cinzenta, aquela humidade que cai, aquele friozinho, aquele sol tímido que brilhava por entre as nuvens altas e densas. A estrada estava péssima nas primeiras horas da manhã, buracos e mais buracos... andar a 50 km/h... enfim. A estrada ficou melhor quando o sol começou a afastar as nuvens, a andar pelo meio do mato, apareciam montes de pessoas que vendiam primeiro caju, carvão e galinhas vivas, e mais tarde fruto do embondeiro, cabras e carne de antílope seca na espeto, e pedras. Passámos por aldeias de palhotas, lugares com casas da época colonial todas partidas e com barracas ao lado, vilas e lugares feios e desarranjados, mas de quando em vez, aldeias lindas, limpas e floridas com palhotas redondinhas e telhados de colmo perfeitos. Muita estrada, muita estrada, pontes sobre rios inexistentes, rios médios e rios grandes, daqueles que enchem e transbordam levando tudo à frente, na época das chuvas. Passámos o Gorongosa, o Buzi, o Save, o Pungué e o magnífico Zambeze, enorme Zambeze, verde Zambeze, de águas barrentas e sobre o qual se ergue a mais recente ponte, Ponte Armando Emílio Guebuza. Mais quilómetros, cada vez mais pessoas a andar nas bermas e no meio das estradas. Mais bicicletas, muito mais bicicletas, tantas que até chegar a Quelimane, a velocidade teve de se reduzir, e reduzir, e reduzir, andávamos à velocidade do pedalar. À chegada de Quelimane coqueiros, filas de coqueiros, no meio de uma planície imensa e verde, paisagem ponteada de vacas, e palhotas, palhotas no meio dos coqueiros, palhotas no meio do verde da paisagem. Quelimane, cidade com buracos, mas cidade linda, pequenina, mas da dimensão certa, cidade onde se anda devagar, mais uma vez e cada vez mais ao ritmo do pedal. Chegámos ainda antes do pôr-do-sol e demos uma volta a toda a cidade, agora já no hotel, aguardo a chegada de um amigo meu para nos levar a jantar. Quero porque quero comer comida da Zambézia, a melhor de Moçambique (dizem...), frango à zambeziana? Pode ser.

terça-feira, abril 26, 2011

Dia 1 – de Maputo a Vilanculo

Viagem por terras e estradas que já conheço, estrada boa e um dia magnífico, paramos em Quissico para ver as lagoas, desta vez com direito a foto a partir do edifício da administração local. Paragem pela primeira vez no trópico de Capricórnio, e também pela primeira vez, toquei, abracei e senti um embondeiro (baobab) uma árvore cheia de mitos e histórias. Li que na zona perto de Chicomo (mais à frente na viagem) os locais usam o tronco oco do embondeiro para guardar água e outras coisas que precisam de ter frescas. Chegada a Vilanculo ainda a tempo de ver o pôr-do-sol dentro de água. Água quente e rasa, andam-se metros e metros para ter a água acima dos joelhos... dentro de água de molho, a olhar as ilhas do arquipélago do Bazaruto, onde irá terminar esta viagem. Jantar camarão fresquinho grelhado, acompanhado de uma Savanna dry geladinha, à beira-mar num spot muito in. Dia fantástico.

segunda-feira, abril 25, 2011

Carta aos meus amigos

Meus amigos

escrevo já cansada de arrumar as malas :)
Não, ainda não é o regresso a Portugal... é sim o concretizar de mais um sonho, um sonho de 19 anos :)
começo amanhã aquela que é já uma das viagens da minha vida: Volta a Moçambique.

Comprei um jipe que mais parece um tractor, abasteci-o de ferramentas, depósitos de combustível, cabos de reboque e afins. Fiz a minha malinha e preparei o equipamento de mergulho, e aqui vou eu.
Vão ser 24 dias a percorrer todas as províncias de Moçambique de carro por boas e más estradas, de barco nas fantásticas águas do Índico, de avião e até um bocadinho a pé.

Vou tentar escrever no blog durante a viagem, mas é provável que não tenha acesso à internet durante grande parte da viagem.

Beijinhos grandes para todos com muitas saudades

Ana, a viajante

domingo, março 13, 2011

quinta-feira, janeiro 06, 2011

NOSSO COLORIDO MARINHEIRO MALANGATANA

Disseram-me, esta manhã, que tinha chegado um barco grande a Matosinhos. De um porto tão distante que os homens só dele sabem de ouvirem falar. Veio munido de entorpecentes luzes, lento e majestoso como uma baleia divagando em seus mares. De dentro, tambores e cânticos ecoavam, rufando e seduzindo, enquanto bailarinas líquidas, dançando, se embrulhavam em milhentas mil cores sob os pássaros gentios que as acompanhavam.

Havia sol. Estranharam os contadores, pois que não é costume em tempos de tão rígidos frios serem ali solarengas as madrugadas e que nem pássaros se agitem em tão acordados voos. A nave, continuam eles, era um gigantesco vapor feito de invulgares materiais. Estrelas do mar, búzios, escamas prateadas de peixes, carapaças de caranguejos, conchas de um ouro luzídio e muitas máscaras de variáveis rostos. Também se viam areias encarnadíssimas de uma fineza só igualável às mais longínquas sedas e madeiras rosa e negra e castanhamente canforizadas e também fortes como o ferro e negras como o bréu.

E haviam, estranhamente, musculados negros vestidos de uma roupagem quase nua, carregando consigo enormes lanças e elmos de pele e escudos de enormes e vivas cabeças de leopardos rosnando. Também, contam-se as mulheres elegantíssimas cujos seios eram da mais perfeita e dura redondez e que os seguiam agitadas entre seus gritos comemorativos.

Dizem que Matosinhos terá acordado atónita com tão invulgar espectáculo. Eram as altíssimas labaredas que ondulavam de inúmeras fogueiras crepitando sobre o mar, as estrelas havidas baixas e amarelas como o sol, como as luzes vastas de uma grande cidade, cintilantes e irrequietas, e, sobre elas, crianças rindo-se com papagaios tocando o azul límpido dos céus.



Em volta do navio, contam-se incontáveis as almadias com os seus pescadores remando e golfinhos saltando, demorada, lentamente em sua volta e que também emitiam envidraçados sons cristalizados por todos os lados em flâmulas e minúsculas bandeiras coloridas, enquanto do seu casco se estendia, até junto à terra, uma enorme passadeira púrpura ladeada por árvores frutadas e perfumadas. Sobre ela caminhava um homem negro e forte que, em meio a sonoras gargalhadas, falava e cantava, palavras e músicas indizíveis, e dos seus cabelos brancos um extenso e distante algodoal se agitava, e das mãos, enormes montanhas verdes de chá enobrecidas o guardavam e da boca, um grande rio trovejando para as duas gigantescas luas negras dos olhos aluando tudo.

Falam as mais variadas vozes que, depois deste espectáculo, do navio se fez ouvir uma estridente sirene, tão forte, tão aguda, tão capaz de fazer tremer as casas dos homens, os prédios da terra, os campos em volta. Com esse som, os cães ladraram e os relógios pararam e o mar se abriu calmo e sereno para engolir aquela visão fantástica. E o silêncio, então, fez sentir-se como uma cortante e sibilante brisa para que a cidade voltasse a dormir de novo.

Apenas mais tarde se soube, de um país haver percorrido o Mundo para embarcar o seu pintador enfeitiçado da vida, que, agora, naquela enorme nave, voltava para vivê-la na consanguinidade moçambicana das suas telas. Desse homem, nosso colorido marinheiro do mundo e de seu nome MALANGATANA, só mesmo elas, justa e merecidamente, poderão falar.


Eduardo White
5 de Janeiro de 2011

quarta-feira, janeiro 05, 2011

terça-feira, janeiro 04, 2011

Ano novo....

Uma das resoluções de ano novo era a organização do blog, ou pelo menos a actualização da informação que por aqui anda. Assim fotos, histórias, algumas palavras sem sentido e talvez alguns vídeo... vão ser "postados" mais frequentemente.
Começando pelo princípio, ou talvez pelo fim... aqui vai a descrição dos primeiros momentos do novo ano.

Dia 31-12-2010
Escritório até às 12:00, sempre com muito stress, e apesar de ter saído cedo, o telemóvel não parou de tocar, como aliás já é habitual.
Fui a casa buscar o saco de viagem, alguns jogos e um livro, confirmei a presença de chapéu de abas largas, biquínis, protector solar e uma capulana para a praia. Check... time to go.
Saída de Maputo em direcção à Macaneta, passando pelo caminho de terra batida que vai da Costa do Sol até Marracuene. O caminho fez-se sem sobressaltos e sem mais atrasos, mas já em Marracuene tivemos uma longa paragem na fila de espera do batelão.
De 30 em 30 minutos avançávamos o carro mais umas dezenas de metros na fila, e a cada paragem parávamos nós também no bar para beber Savana fresquinha.
A passagem de batelão sobre o rio Incomati foi rápida e o caminho de areia no meio de mato e palhotas foi quase demasiado rápido até chegar ao Jay Lodge.
Logo na entrada, e para refrescar, mais umas Savanas e siga para a casa.
Pousámos as coisas um bocado à pressa e depois disto foram horas no banho na piscina.
Já de noite fizemos o Brai e jantámos em comunidade, acendemos os candeeiros a petróleo e passámos a duna em direcção à praia.
Céu estrelado límpido, praia vazia, água quente, fogo de artifício em Maputo e na Inhaca, passas na mão, garrafas de espumante na outra, contagem decrescente 60, 59, 58, 57...... 3, 2, 1
Come as passas, abraços, beijinhos e desejos de bom ano, mergulho no mar e novamente mergulho na piscina.

Dia 1-1-2011
Acordar cedo com o calor abrasador, duche rápido, jogos na mala de capulana, biquíni e segue para o bar do logde passar o dia. Jogámos Pictonary, Poker e Uno, até o cansaço nos obrigar a ir para casa. Depois de uma refeição ligeira, caminhada na praia e de novo para dentro da piscina (sim... os dedos ficaram enrugados...).
À noite juntámo-nos a mais uns amigos que estavam na casa da frente, fizemos um Brai gigante acompanhado de muitas saladas e cocktails de sabores diferentes (melancia, lichias e ananás). E durante horas ao som da guitarra cantaram-se todas as músicas de que nos conseguimos lembrar... mais uma vez sob o céu estrelado e um calorzinho confortável no ar.

Dia 2-1-2011
Arrumações, mais um mergulho na piscina, encher os carros com a tralha e mudança de planos no percurso da viagem. Era suposto regressarmos por Marracuene passando mais uma vez o batelão, mas os marinheiros estavam bêbados (ainda...) e não se conseguia fazer a travessia. Segundo o boer do Lodge estavam mais de 200 carros já na fila à espera de vez para passar (o batelão leva 6 carros em cada viagem...).
Vamos dar a volta por terra? Claramente. Pedimos autorização ao complexo de produção de cana de açúcar da Maragra para passar por terra, pedimos indicações do "caminho" - picadas no meio do mato e de vez em quando passando por alguma povoação de palhotas. Depois de 2 horas às voltas completamente perdidos, lá começámos a aproximar do rio e passámos para a outra margem. A paisagem era fantástica e valeu cada solavanco e a suspensão partida.
Paragem em Marracuene para uma coca-cola gelada, e seguimos pelo caminho de terra batida em direcção a Maputo. Desta vez cortámos antes da Costa do Sol e atravessámos o bairro Polana Caniço, desaguando no Xikelene. Daqui já só havia estrada alcatroada com os típicos buracos/crateras abertos pelas chuvas, e mais 10 minutos entrávamos em casa.
O Pumba e a Matilde (os meus canitos lindos / feras gigantes) ansiavam por festinhas e passeios na rua, pediam mimos e davam lambidelas. Depois dos momentos de mimo, cama, rede mosquiteira, raquete mata-mosquitos e janelas abertas... tudo pronto para uma óptima noite de sono...

Resoluções de Ano Novo
Fiz algumas, penso que todas muito realistas, e já as comecei a por em prática. Vamos ver quanto tempo duram.
Mais novidades nos próximos episódios.