sábado, maio 07, 2011

Dia 12 – de Nampula ao Niassa

Eram 2h30 da manhã quando começámos a viagem de Pemba para Nampula, andar no meio da noite por uma estrada estreita, esburacada e com demasiados camiões, não é nada fácil, mas o Sr. Valente, nosso motorista, fez a viagem na perfeição, e eu sei porque não conseguia dormir, com o frio, o bater dos buracos e o barulho quase ensurdecedor dos camiões que passavam demasiado perto, misturado com aquela música comercial que saía dos rádio, cd após cd, que o sr. Valente ia escolhendo. Chegámos a Nampula às 7h30 da manhã, fomos tomar o pequeno-almoço e depois fomos procurar lojas de roupa. Tanto eu como o Pedro andamos com a roupa usada e re-usada que levámos para o barco, e as outras peças estavam em casa da Sylvia, que a esta hora ainda estava a descansar. Fuiao Fashion Wolrd e nunca comprei tanta coisa em tão pouco tempo, valeram-me as empregadas da loja que foram super eficientes e simpáticas. Ainda antes da loja abrir escolhi umas calças de ganga da montra e pedi a uma das empregadas para que logo que abrissem, me dar o meu número, me dar também umas t-shirts, uns ténis e o casaco mais quente. Abriram e em 2 minutos estava já no vestiário a experimentar tudo. Umas calças, uma camisola, um casaco de lã, uns ténis, 2 t-shirts e umas meias depois, estava já equipada para Lichinga e Lago Niassa, onde faz frio, principalmente à noite. O Pedro entretanto foi a uma das lojas das calamidades e comprou 3 t-shirts por 250 meticais, bem mais barato do que as minhas compras, mas as minhas pelo menos eram novinhas. Seguimos directamente para o aeroporto, fizemos o check-in (já conhecemos este aeroporto bem demais), e passados alguns minutos entrámos no avião que só serve batatas fritas, sumo de pacote e água, em direcção a Lichinga, a província menos povoada de Moçambique. A vista de cima é fantástica, as palhotas são diferentes e estão mais distantes umas das outras, para além disso, parece-me tudo mais organizado e limpo. Aterrámos e depois de esperar 30 minutos pelo nosso transfer, que apareceu já éramos os únicos no aeroporto, dirigimo-nos para a cidade. Esta paragem não estava nos planos deles mas estava nos meus. Os meus pais viveram em Lichinga durante algum tempo, e todas as fotografias e histórias que conhecia, puxavam-me para cá. Primeiro tentei encontrar a casa onde viveram, mas tudo está diferente, tudo mudou de nome, então “desconsegui”. Então disse que tinha a referência do Sr. Abel Lucas, amigo de família. Conheciam-no muito bem, e levaram-me até à sua nova casa mesmo à entrada da cidade. Pedi licença para entrar à esposa (como vim a saber mais tarde) e quando me apresentei, vi-me envolvida num abraço caloroso em apenas segundos. De imediato começaram a jorrar histórias e mais histórias sobre os meus pais.... Guardo-as para mim... tal como guardo este momento muito especial. As lágrimas corriam pelas minhas faces enquanto um sorriso se alargava cada vez mais... precisava disto, já há muito tempo que precisava disto, e o Sr. Abel percebeu e com todo o tempo e paciência do mundo contava-me cada vez mais. Quando consegui finalmente falar, perguntei-lhe se sabia onde tinha sido a casa dos meus pais, ao que me respondeu “sei sim, depois deles também eu morei ali, foi graças a eles que um técnico como eu se tornou o director provincial de agricultura” e muitas mais histórias vieram a partir daqui. Tirei fotos da família, despedi-me com mais um abraço, e segui para casa, aquela que agora tenho fotos, aquela cujo muro toquei. Entrei no carro e fiz a viagem de 5h até Cóbué em silêncio, pensativa e mais do que agradecida por ter tido o meu/nosso momento neste lugar. Enquanto ainda pensava nas histórias comecei a avistar o lago Niassa, aquele enorme “oceano” no meio do continente, aquele que brilha ao sol, que ondeia com o vento, aquele que até tem marés, claramente mais marés do que marinheiros. Depois de muita picada e muito trilho, chegámos ao Cobué onde um pequeno barco nos esperava. 30 minutos depois e durante o pôr-do-sol, cheguei ao Nkwichi Lodge, onde a Christina e o seu canito Ernesto nos esperavam. Depois de um briefing que não ouvi porque estava entretida a fazer festinhas e tropelias ao Ernesto, fui acompanhada ao quarto, ou melhor à minha casa dos próximos dias, que sítio fantástico. Depois de um merecido banho quente tomado à luz do candeeiro a petróleo, numa banheira ao ar livre no meio das árvores, segui para a praia onde uma fogueira acesa convidava os hóspedes a tomar uma bebida antes do jantar. Éramos apenas 4 hóspedes, e jantámos com a Christina e uma estagiária que estava a fazer um dos projectos comunitários do lodge, todos numa mesa redonda “à beira mar” à luz dos candeeiros... o som das ondas, o reflexo da lua no lago... nessa noite dormi bem... fui assim adormecendo suavemente enquanto me enroscava nos lençóis da cama gigante que estava ali bem no meio daquele quarto sem paredes nem janelas. As ondas batiam suaves nas pedras roladas da praia... e eu dormi.

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