sexta-feira, abril 29, 2011

Dia 4 – de Gurué a Nampula e Ilha de Moçambique

Mais um dia em que acordámos cedo, queríamos chegar o mais rapidamente a Nampula para ver a cidade, almoçar com uma amiga minha e depois seguir viagem para a Ilha de Moçambique. À saída de Gurué já a cidade acordava em tons de verde misturados com neblina matinal que rapidamente se transformou em nevoeiro denso e húmido quase parecendo aqueles dias cinzentos de inverno que se apanham em Portugal. Subindo e descendo fizemos o caminho do dia anterior até Nampevo. Pouco antes de chegarmos a Errego tínhamos visto uma igreja branca imponente no meio do mato verde e denso, sem qualquer outra construção que se visse por perto. Como tinha prometido a um amigo que tiraria fotos de todas as igrejas que visse pelo caminho, para assim completar a colecção que ele tinha começado no final do ano, decidi virar para aquele desvio que não é mais do que um trilho pedonal usado por dezenas de pessoas que carregam este mundo e o outro à cabeça para vender no mercado mais acima junto à estrada. Seguíamos pelo trilho em contramão e perguntando se era por ali a igreja antiga, estávamos certos, aliás não havia outro caminho por onde passar. Avançamos por entre campos cultivados cuidadosamente, junto das aldeias e palhotas isoladas, também estas cuidadosamente plantadas entre as árvores, em clareiras varridas de terra vermelha. Chegámos à igreja e realmente ali à volta não havia nenhuma casa, apenas uma pequena escola já desmantelada que mantinha ainda pintado nas paredes os “jornal da turma” e “jornal da escola”.
A Igreja era realmente grande, branca já desbotada, com vidros e portas partidas, mas não se conseguia entrar. Espreitei lá para dentro julgando que nada tinha, mas surpresa minha, umas cadeiras e um altar, tudo muito pequeno comparado com a enormidade do edifício, mas significava que ainda estava a funcionar. Depois de algumas fotos voltámos ao caminho desta vez em direcção a Alto Molócue onde esperava comer alguma coisa ao pequeno-almoço. Procurámos a única pensão que vem referenciada e que teoricamente teria um restaurante, mas para meu grande azar a pensão já a cair aos pedaços ainda funcionava, mas comida “não há”. Deixámos o carro descansar por uns instantes, porque parecia estar a aquecer um bocadinho, e seguimos viagem comendo bolachas de gengibre e água. A viagem foi tranquila e chegámos a Nampula pela Av. do Trabalho, que me parece que é sempre a avenida mais confusa de trânsito de qualquer cidade deste país. À entrada no pára-arranca o carro começou outra vez a aquecer, pareceu-me claramente um problema de radiador, e à primeira oportunidade virei para as oficinas da toyota para ver se me podiam ajudar. Surpresa surpresa, um conhecido meu de Maputo de há um ano atrás, que já julgava de volta em Portugal, afinal estava lá e era o responsável de peças. Demos entrada do carro, entretanto a minha amiga foi-nos buscar para irmos almoçar a casa dela e conhecer a “família” (sim, porque aqui, todos nós criamos a nossa própria família). A cadelinha dela adorou-me e não me largou o tempo todo, e como as coincidências não podem ficar por aqui, a colega de casa é colega de trabalho de uma grande amiga minha de Maputo.... Moçambique é sempre assim. Almoçámos e conhecemos parte da família e mais o novo membro o gatinho bebé, e ficámos a aguardar a tão desejada chamada da toyota para saber novidades do carro... não eram novidades boas... o radiador tinha um furo, nem pequeno nem grande, mas do tamanho certo para poder ainda ser reparado sem grandes garantidas, mas num tempo que não era de todo o esperado por nós... até terça-feira pelo menos... passámos o resto da tarde a mudar planos de viagem, logo naquela tarde em que devíamos passear na cidade e ir conhecer as Cabaceiras Grande e Pequena. Enfim... lá para as 18h e no meio de muita corrida, veio um táxi que nos levou até à Ilha de Moçambique a cerca de 2h de caminho, já de noite a uma sexta-feira, o dia da loucura nas estradas para condutores e transeuntes bêbados que dançam e param no meio da estrada. Já mesmo à noitinha, entrámos no famoso “Escondidinho” para jantar uma bela salada de peixe fumado, um filete de peixe papagaio em vinho branco e uma salada de frutas com gelado.... tão bom.... dormi depois num quarto lindo de tecto alto, virado para a pracinha calma, e embalada por muitos séculos de História.

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