sábado, março 26, 2005

uma fogueira depois do Mar Alto

Para encerrar Março - mês do teatro, foi apresentada a melhor peça de todas as que vi cá - "Mar Alto". Para além de ser um boa peça, adorei os textos, adorei o tema, a encenação estava óptima, cuidada e cheia de significado, e os actores eram fantásticos. Para além disto tudo gostei da peça porque conheço a pessoa que a idealizou e um dos actores que lhe deram vida.
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João Branco é um português que se fartou de esperar que Portugal melhorasse e à 13 anos atrás (sim treze), decidiu que devia sair de vez e emigrar. João Branco é filho de José Mário Branco, e um dia disse ao pai que não ia acabar o curso e queria definitivamente ir para fora, e o pai como tinha um amigo em Cabo Verde sugeriu este país. Uma semana depois de ter tomado esta decisão já estava a pisar o solo deste pequeno arquipélago e desde essa altura tem lutado aqui para construir algo... Construiu o que é hoje o teatro no Mindelo. É ele que dá aulas de teatro e é ele que monta todos os anos pelo menos dois espectáculos. Foi graças a ele que foram nascendo dos seus cursos os melhores grupos de teatro agora a representar em Cabo Verde.
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O actor que conheço é o Paulo, curiosamente esta peça era a sua estreia... e foi óptimo... à saída todos diziam que tinha sido o melhor e nem sequer sabiam que ele ainda é aluno do curso de teatro, era o único em palco que ainda não tinha acabado a sua formação. E foi sem dúvida nenhuma o melhor em palco. Vocês nem imaginam como ficou com os olhos a brilhar quando no fim da peça fomos todos ter com ele e lhe dissemos isto... Estamos a assistir ao nascimento de uma nova estrela no firmamento de Cabo Verde...
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A peça em si fala de um barco com 3 náufragos bem vestido e que enfrentam um grave problema... a comida acabou.... No meio de politiquices, de discursos e manipulações a peça termina com um belo banquete de dois dos náufragos que se servem do outro que se "ofereceu" como refeição. A encenação foi óptima... não só dava para ouvir as palavras usadas para manipular o elemento psicologicamente mais fraco, como dava para sentir a perda rápida de forças até à aceitação da sua morte "voluntária".
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Depois da peça o grupo de teatro foi todo festejar para a Lajinha... e acabei esta noite fantástica sob as estrelas, a ouvir o bater das ondas na areia branca, a aquecer os pés na fogueira que se acendeu e a comer um belo e quentinho arroz à valenciana...
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Imaginam melhor vida do que esta?!...

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