domingo, março 06, 2005

Reconhecimento da Ilha

Depois de um dia inteiro a arrumar coisas, arrastar móveis e fazer algumas compras necessárias, decidi que domingo era dia do descanso do guerreiro. E que melhor forma de descansar existe senão a mudança de rotina?!!
Esta semana esteve cá o Pedro, amigo do João, e como ele estava com bicho cartpinteiro para conhecer a ilha e o tempo era pouco, precisámos de pedir um carro emprestado para dar umas voltas. A preparação do dia começou em arranjar carro, passou pelas compras no supermercado e pela preparação das sandes em minha casa. Já com tudo na mochila, incluindo 1,5lt de água por pessoa, lá nos metemos na viatura em direcção ao ponto mais alto da viagem.

Monte Verde
Como alguns de vocês sabem estas ilhas e particularmente S. Vicente, têm tido problemas graves com a seca, mas há sempre um local ou outro que escapam e mantém as cores, que deram nome ao arquipélago, só para nos surpreenderem... O Monte Verde é o ponto mais alto da ilha de S. Vicente, e é também o único local que está durante todo o ano com bastante humidade e com líndissimos tons de verde. Para se chegar lá é preciso que o carro aguente andar em terra batida e ao lado de precipícios, é também preciso que as vertigens não se lembrem de aparecer. Chegados quase ao topo deste mundo é preciso sair do carro e ir até ao marco que indica o ponto mais alto. A viagem é um pouco assustadora, mas a vista compensa o esforço. É LINDO!!!! Olhamos à nossa volta e vemos todos os pontos onde as ondas tocam a ilha... vemos as praias, a cidade, sentimos o vento na cara... não se houve nenhum som... só o assobiar do vento nas folhas dos aloés... sente-se um cheirinho a mar e as gotículas de humidade a tocar a pele... de vez em quando o sol surge por entre a bruma e aquece o corpo que entretanto arrefeceu. Olhamos à volta a pesquisar todo o horizonte, vemos claramente as ilhas mais próximas, Sto Antão enorme e imponente, ilhéu de Sta Luzia onde gostava de ir acampar um dia, ilhéu Raso e ilhéu Branco que vi pela primeira vez na viagem de avião de S. Nicolau para S. Vivente, e vê-se também a ilha de S. Nicolau, hoje um pouco esbatida por causa da bruma, mas bem visível em dias de céu limpo.

Calhau
Isto não é bem uma praia... é mais uma entrada directa para o mar... saltamos da rocha vulcânica quente do sol para a água refrescante do oceano (22ºC). Quando aqui cheguei pensei "esta gente é louca de vir aqui tomar banho... nem pensem que vou aqui entrar... isto não tem piadinha nenhuma.", mas depois de ver alguns dos nativos perfeitamente à vontade dentro de água, decidi também eu mergulhar. A água estava óptima, límpida e a uma temperatura excelente, as correntes oceânicas que arrastam todas as pessoas desta costa até ao Brasil, curiosamente aqui não se faz sentir, nem mesmo a grandes ondas do atlântico aqui incomadam quem está dentro de água. E por curioso que vos pareça, dá-me a sensação que a água aqui deve ser mais salgada do que em Portugal, pois fico a boiar com toda a facilidade do mundo e só não adormeço dentro de água porque não calha... Quase como um bacalhau, estive de molho cerca de 1 hora, que é do melhor para descontrair... e enquanto em boiava, mergulhava e nadava, ao pé de mim um rapaz pôs o isco no anzol e começou a pescar. Sempre que eu olhava para ele tinha tirado mais um peixe, todos de espécies diferentes, pelos exemplares pensei logo que aqui seria um bom sítio para mergulhar com os meus óculos e as minhas barbatanas e pesquisar um bocadinho este fundo do mar.

Restaurante e Pensão Chave d'Ouro
Ainda não vos tinha falado desta pérola da época colonial... a construção é fantástica, mesmo da época, o empregado do restaurante anda sempre bem vestido, tem um olho de vidro e só fala crioulo, come-se aqui um bom peixinho grelhado e tem uma pensão ao lado com umas luzes vermelhas a indicar a entrada para o local da tentação... é de chorar a rir. Estávamos nós a meio do nosso jantar de cachupa rica (não tão rica como devia ser, mas não estava nada má), quando uns tipos no outro canto da sala, pegam nas guitarras e cavaquinho e começam a cantar. Foi um espetáculo, um verdadeiro espectáculo, e ainda por cima foi de graça. Os tipos eram cubanos e estavam cá de passagem, claro que eu como boa anfitriã que sou fui logo cuscar... Comprei logo o cd deles que é espectacular e perguntei se iam tocar em algum sítio aqui no Mindelo, ao que me responderam que estavam a pensar nisso mas depois diriam alguma coisa. E efectivamente foram tocar, no Café Musique, mas porque eu e o João falámos com o dono e ele deu-lhe não uma mas duas oportunidades (2ª e 3ª feira) e deram um verdadeiro show. O público estava louco, batia palmas a marcar o ritmo e cantavam alto e bom som.

Depois deste dia tão cheio e atribulado só me faltava ter uma surpresa... a cachupa tinha carne de porco e em nem sequer reparei, só quando estava a ver um filme é que comecei a sentir a barriga a crescer e depois comecei a ficar mal disposta e depois foi só ter tempo de ir a correr para a casa de banho deitar fora os 700$00 cv que me tinha custado o jantar...

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