sexta-feira, março 11, 2005

As Julietas

Depois de vários dias super-hiper-atarefada a arrumar a minha primeira casa... e como eu estou sempre a procurar o conforto máximo... não me canso de andar a arrastar móveis e a inventar mil e uma disposições novas para as mobílias e afins. Acho que ao fim desta semana já posso dizer que tenho a casa pronta, ou pelo menos já me começo a sentir verdadeiramente em casa.
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Hoje para descansar um pouco a minha cabeça decidi ir novamente ao teatro. Desta vez a peça chamava-se "As Julietas" e era uma adaptação de "Romeu e Julieta", pela companhia de teatro Solaris, uma das mais conceituadas de Cabo Verde. Esta era uma peça aguardada com algum entusiasmo pela comunidade uma vez que de acordo com a imprensa teria algumas cenas mais eróticas que poderiam provocar surpresa no público. Assim sendo a pequena sala de espectáculos do Centro Cultural do Mindelo estava nesta noite completamente cheia.
Bem... devo dizer que até me considero uma pessoa bastante aberta e que acolhe com algum optimismo as coisas diferentes da vida... mas esta peça... não gostei nada, e até fiz um esforço para tentar gostar.
Foi a desilusão total para mais de 2/3 do público ali presente. A peça era uma tentativa de entrar no campo intelectual, apresentando um espectáculo simbólico e erótico, no entanto para mim não passou de uma tentativa frustrada e pseudo-intelectual. Queriam a toda a força chocar o público mas nem isso conseguiram. Só para vos dar uns exemplos: a peça desenrolava-se à volta de duas mulheres, uma fazendo de Romeu e a outra de Julieta, que supostamente antes de se conhecerem tentavam descobrir a sua sexualidade (momentos sem grande realismo e nem mesmo as gargalhadas habituais do público se fizeram ouvir). Quando se conheceram apaixonaram-se perdidamente e a sua relação era suposto ficar exposta perante a audiência, no entanto todo o contacto físico que supostamente deveria chocar o público não acontecia na verdade e sempre que se aproximavam tinham uma espécie de filme plástico a separar as duas bocas. Ora como o plástico não tinha simbolismo nenhum, nem como barreira entre elas , nem como protecção, ele estava ali tão somente para que as actrizes não se beijassem mesmo. Eles queriam chocar mas sentiram-se algo envergonhados em levar a representação até ao fim.
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Foi pena... porque assim a peça ficou como que interrompida pela vergonha e inexperiência dos actores. Assim a peça nem chocava, nem era uma boa peça, nem tinha simbolismo nem erotismo como tentaram propagandear.
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A desilusão foi geral, mas melhores dias virão.

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