Zau - diminutivo de Isaura
Isaura - nome próprio da Exma Srª Presidente da Câmara Municipal de S. Vicente
Estava eu tranquilamente a voltar para casa para tomar um banho, depois do calor tórrido do sol do meio-dia, que apanhei enquanto assistia a mais um "Pega Saias" na Rua de Lisboa, quando a minha senhoria (Carmita) me perguntou se eu já tinha almoçado. Ao que eu respondi que não, mas que ia a casa do João comer uma Cachupa que ele tinha encomendado para inaugurar a casa nova. Mas nem tive tempo de dizer mais nada, ela sai a correr para dentro de casa e quando volta diz "prepara-te que vais comigo". Eu vou? vou onde? fazer o quê? a que propósito?. Pois sem eu dar por ela, meia hora depois estava já dentro do jipe a caminho do Madeiralzinho (bairro onde estive quase para morar quando cheguei cá).
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Cheguei então à casa da Zau, amiga íntima da Carmita, e também da cantora Celina Pereira. Eu ainda não tinha sido apresentada à Srª Presidente, mas ela já sabia quem eu era e o que estava a fazer, estava verdadeiramente bem informada. E então sem que eu esperasse ela abriu os braços enquanto se aproximava e deu-me um abraço de boas vindas. Ela é castiça, é super descontraída e boa anfitriã, estava bem vestida para a ocasião, e ao mesmo tampo andava com um penteado radical (cabelo espetado tipo Bart Simpson), e andava descalça.
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Rapidamente me apresentou a toda a gente e pôs-me uma coxa de galinha e uma cerveja nas mãos. Perante uma chegada destas não podia mostrar-me tímida e fui logo meter conversa com os restantes convidados.
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Primeiro fui falar com a Celina Pereira, cantora e contadora de histórias, que veio cá para lançar o seu novo livro.
Depois fui falar com Zé Afonso que é o seu director artístico (acho que é este o nome que se dá), que é um porreiro, e um pouco gago.
Mais tarde falei com um tipo que já foi campeão mundial de windsurf, que se apaixonou por Cabo Verde e que decidiu montar agora a sua escola de vela, onde os miúdos de rua podem ter uma nova oportunidade na vida.
Depois ainda apareceu o famoso jogador de futebol Carlos Alhinho, que já jogou no Benfica e agora é o seleccionador nacional de Cabo Verde. Mas este eu já conhecia porque estive quase para alugar a casa da irmã dele.
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Falei com muito mais pessoas, mas pessoas normais com histórias mais ou menos normais, tal como a minha.
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A Zau tinha convidado para a festa um grupo de músicos de bairro, que estiveram o almoço todo a tocar e cantar.
Quando acabámos de comer a cachupa o verdadeiro espectáculo começou. A filha da Zau e a Celina cantaram mornas e coladeras, das mais conhecidas e das mais bonitas de Cabo Verde. Sentia-me em ambiente familiar e feliz por me terem deixado participar um pouco nesta reunião de amigos. Sentia-me tão bem e fui acolhida tão bem que me ofereceram grogue velho (um horror... para mim é péssimo, mas é bom para quem gosta de wisky) e eu tive que beber, e no meio de todas estas pessoas que tocavam e cantavam dei por mim a assobiar algumas das melodias que já tinha ouvido.
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O ponto alto da festa foi numa altura em que uma das pessoas presentes, a Manuela, me disse alto e bom som, como que a mostrar que tinha a aprovação de todos, que eu estava no bom caminho para ser aceite na comunidade Mindelense, que era sincera e que nenhum outro estrangeiro tem esta postura quando está cá, e que por isso eu só tinha de continuar a ser eu para poder ser aceite.
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Bem... nem imaginam... devo ter passado por todos as cores do arco-íris... foi inesperado e muito bom ter ouvido isto.