terça-feira, setembro 20, 2005

Visitas e Viagens - parte 1 - S. Vicente, Santiago e Fogo

O mês de Setembro teve muito mais do que a ida a Sto Antão nos primeiros dias… teve tanto mais que não consigo escrever sobre tudo o que se passou. Foram dias e dias a aproveitar pequenos e grandes momentos. O mês de Setembro foi o mês de encerrar as visitas, foi o mês das despedidas, foi o mês do teatro, foi o mês do balanço, e o mês de começar a preparar a minha cabeça de lua para o regresso a Portugal.
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Dia 9 foi o dia de mais uma partida e o dia de mais uma chegada. O irmão da Catarina esteve cá durante uma semana de férias e no seu voo de regresso ao Sal viria a minha mãe. Como já vem sendo habitual o voo atrasou tanto que em vez de chegar às 16h de dia 9 chegou às 1:30 de dia 10. O desconforto das cadeiras do aeroporto era já quase insuportável e a comida no bar já escasseava, quando finalmente se ouviram as hélices do ATR que se fazia à pista. Depois das despedidas à porta da sala de embarque, demos meia volta e passámos para o lado de fora do edifício para receber as pessoas que chegavam já sem forças à sala das bagagens.
Finalmente chegou a minha mãe, lá nos metemos no táxi do Sr. Augusto (o nosso taxista preferido) e fizemos mais uma entrada em grande na cidade do Mindelo. Depois de por a conversa em dia, lá nos deitámos para recuperar de horas de sono em atraso.
Toda esta semana correu bem… muito descanso, muita comidinha da mamã, muito mimo… a minha mãe já domina a cidade, já conhece as pessoas e os lugares, e em poucas horas já entrava no ritmo cabo-verdiano que tanto precisava para descansar do stress de Lisboa.
Como o Mindelact (Festival de Teatro do Mindelo) estava a decorrer, praticamente todas as noites lá íamos nós ao Centro Cultural do Mindelo para assistir a mais uma peça. Havia peças para todos os gostos e para várias línguas, optámos por ver peças de grupos de Cabo Verde, Moçambique, Guiné, Brasil e Espanha.
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Andávamos nesta vidinha quando no dia 16 logo de manhã bem cedo fomos outra vez ao aeroporto, desta vez para ir buscar a minha irmã que pela primeira vez pisava S. Vicente.
Desta vez o voo só atrasou uma meia horita (que nem sequer se considera como atraso…), depois de uma noite a tentar dormir qualquer coisa nos bancos do aeroporto do Sal, a Rita estava tão cansada que caiu para o lado logo depois do pequeno-almoço de cachupa guisada. Da parte da tarde e depois de descansar um pouco, enquanto eu trabalhava (alguém tem de ganhar o sustento…), lá andaram elas a passear, e acabámos o dia na Laginha a tomar banho até ao por-do-sol… hum… que delícia.
No fim-de-semana, e como o tempo era curto, elas meteram-se a caminho de Sto Antão para que a Rita conhecesse uma das ilhas mais bonitas deste país. Mas como eu tinha ido há pouco tempo, e também me estou quase a ir embora, resolvi aceitar um convite para um fim-de-semana à base de peixe grelhado e cachupa guisada na Aldeia do Norte de Baía. Não podia ter decidido melhor para descansar… não havia barulho, só se ouviam as ondas do mar na praia lá em baixo, passei os dias a jogar cartas e a apreciar a paisagem magnífica… mas o melhor de tudo foi tomar banho na praia à noite, sob o luar, sem mais ninguém ali perto sem civilização a incomodar…
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Na semana seguinte foi o corrupio total. Terça-feira ao início da tarde estávamos outra vez a caminho do aeroporto (já se está a tornar um hábito…), mas desta vez era para eu também partir. O voo tinha como destino a cidade da Praia, capital do país, localizada na ilha de Santiago. O objectivo desta viagem era chegar à ilha do Fogo, mas como a TACV adora mudar os voos à última da hora, tivemos que ficar a dormir numa cidade grande e desconhecida. Ficámos instaladas num dos piores sítios onde já dormi toda a minha vida (pior mesmo, só quando fomos ao Porto e ficámos numa pensão na rua de Sta Catarina, onde provavelmente só recebia meninas da noite… acompanhadas…). Mas o pior não eram os quartos, ou o cheiro que estava entranhado nas paredes, ou as possíveis baratas que deviam andar toda a noite por ali à vontade… o pior foi mesmo quando decidimos ir jantar. É preciso referir que como o voo foi alterado, tanto o alojamento como a refeição foram da responsabilidade da TACV, portanto não escolhemos propriamente o local de dormida, e não podíamos comer lagosta ao jantar. Para que fique registado o dito local que não aconselho chama-se Hotel Eurolines e o restaurante é conhecido pelo mesmo nome. Mas continuando… fomos comer ao restaurante ao lado do hotel, e tudo corria bem até que nos apercebemos que provavelmente o senhor que nos servia devia ser, quase de certeza, um “serial killer” da unhaca. Porque digo eu isto? No princípio não dava para notar, mas o tom de ameaça foi crescendo ao longo da refeição, tudo começou com a minha inteligentíssima pergunta: “A feijoada de choco demora muito tempo a fazer?” e a ainda mais inteligente resposta do dito senhor: “Depois de pedir, demora pouco tempo.” o que me soou a: “pede de uma vez que já estou farto de te aturar… estás aqui estás a apanhar”. Mas as coisas pioraram de cada vez que se trocavam palavras com o senhor. E chegámos ao ponto máximo do nervosismo e quase ao ponto de fuga, quando a minha irmã com o seu bom olho, reparou na unhaca. Sim…. UNHACA. Aquele apêndice que cresce em alguns seres do género masculino da raça humana, preferencialmente no dedo mindinho da mão direita. Bem, mas esta não era uma unhaca qualquer… esta unhaca parecia mais uma navalha. Tinha cerca de 2,5cm (sim… centímetros) de comprimento, e aparentava uma estrutura sólida e bem afiada. Aquilo era uma verdadeira arma de defesa pessoal e de ataque ao pessoal que chateasse o dono.
A nossa salvação veio com a brilhante ideia de telefonar ao Emanuel… Foste o nosso anjo da guarda nas curtas horas que passámos por esta cidade, Obrigada.
O Emanuel é um amigo, ex-colega do gabinete ao lado na Electra, que para além de me alimentar devidamente às horas do lanche enquanto estava no Mindelo, ainda se ofereceu para nos guiar pelas ruas desta cidade perigosa. Quando chegou ao restaurante para tomar um cafésito connosco é que percebemos que naquele local podíamos correr o risco de não gostar nada desta cidade… pois estávamos no equivalente à zona J de Chelas.
Mas pronto isso já passou. Depois do café saímos para dar a volta à cidade de noite, para conhecer as zonas boas e as zonas más, para conhecer os hotéis de luxo e pensar seriamente se não gostaríamos de pagar uma pipa de massa e dormir num sítio confortável… Mas acabámos por pensar melhor, já só íamos dormir umas 5 horas ou menos, e então regressámos ao hotel, e rezando para que não entrassem no quarto nem bichos nem outros seres estranhos, aconchegámos a cabeça na almofada e dormimos profundamente.

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