quarta-feira, setembro 07, 2005

Sto Antão - a despedida

O meu regresso ao Mindelo devia ter sido logo na segunda-feira de manhã, mas a necessidade de descansar mais um pouco era muito mais importante do que qualquer compromisso de trabalho. Por isso, sem me preocupar muito, decidi ficar mais dois dias. Na terça e quarta-feira os dias foram passados sem pressa, sem planos, sem stress… foram passados debaixo das árvores a comer figos, a jogar às cartas, à conversa com todos os que passavam, a andar a cavalo numa das éguas mais bem ensinadas que conheço (Altiva) e a contemplar a dimensão, a imponência e a beleza deste vale. Estes dois últimos dias passaram por mim rápido demais, como se fossem um sonho…sentia-me bem, descansada, despreocupada, integrada e feliz. Comecei a pensar como poderia ser a minha vida de decidisse viver aqui… tornou-se claro para mim que as mudanças que já se deram este ano foram brutais… estas mudanças fizeram-me passar de uma pessoa totalmente citadina que adorava a confusão, a rotina estúpida de trabalho, o stress, o pouco tempo com os amigos, as relações superficiais, as enxaquecas recorrentes e os inúmeros probleminhas de saúde, para uma pessoa muito mais calma, que só quer paz, que não tem pressa de chegar a nenhum lado, que adora o campo e o mar, que procura a tranquilidade, que preza as verdadeiras amizades e que adora a simplicidade das pessoas puras. A cada dia que passa a cada novo lugar que descubro percebo que as coisas complexas e fúteis que haviam na minha vida não me preenchem neste momento e que o me mais me interessa são as coisas mais simples…
Estou a tentar explicar-vos aquilo que é para mim ainda inexplicável… para perceberem o que quero dizer tinham que passar por um processo semelhante ao meu… mas conhecendo bem a vossa vida aí e a personalidade de cada um, sei que muitos de vocês dificilmente encontrarão o que eu encontrei aqui… por não se darem essa oportunidade ou por não a acharem importante…
O contacto com a natureza e com pessoas tão extraordinárias como as que conheci aqui e em alguns outros locais ao longo da minha vida, têm sido essenciais para repor o equilíbrio tirado pelas rotinas de Lisboa. Por isso quando regressar terei de repensar a minha vida, não quero trabalhar mais de 8 horas por dia, quero ter tempo para estar com os meus amigos, quero ter tempo para ir passear, para ir andar a cavalo e para fazer body board… No fundo, quero verdadeiramente viver… Já que não o posso continuar a fazer aqui, ao menos que o que eu tenha aprendido sirva para melhorar a minha vida em qualquer outro lado do mundo onde possa residir.
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Depois de tantas reflexões e de tantos momentos de descanso era hora de partir. Não sei se ainda conseguirei voltar à minha ilha de eleição antes de partir, não sei se terei oportunidade de regressar aqui, se depender de mim, voltarei, de férias ou em trabalho, seja de que maneira for, voltarei. Com algum custo arrumei a minha mochila, comi a última cachupa guisada, aceitei o saco cheio de papaias que me ofereceram, despedi-me quase em lágrimas dos meus anfitriões, meti-me na “Hiace” e por apenas 400$00 iniciei a viagem de regresso ao lado seco da ilha, depois ao barco, depois ao Mindelo e à confusão. Nunca tinha achado que a cidade do Mindelo fosse agitada ou confusa, mas depois de praticamente 6 dias no paraíso da tranquilidade, esta cidade pequenina mais parecia uma capital europeia ou americana, com montes de gente, montes de carros, barulho e confusão. Se o regresso teve este impacto em mim, nem consigo imaginar o que será voltar a sobrevoar a 2ª Circular antes de aterrar na cidade mais agitada e confusa de Portugal.

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