No dia seguinte (21 de Setembro) levantámo-nos ainda antes do sol nascer e sem pequeno-almoço tomado já estávamos a entrar no autocarro da TACV (o que faz o transporte dos trabalhadores) para dar a volta à cidade e para nos levarem novamente ao aeroporto. O voo seguinte tinha como destino o Fogo, finalmente. A viagem de cerca de 30 minutos levou-nos à ilha que agora posiciono em 2º lugar na lista das minhas preferências. Vir a Cabo Verde e não conhecer a ilha do Fogo é quase um pecado.
Ao chegar a paisagem é indescritível, verde muito verde de uns lados, castanha e seca de outro e no topo e ao longo de uma das encostas o negro da lava da última erupção.
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Parámos no aeroporto de S. Filipe já eram quase 8h da manhã, e deparámo-nos de imediato com algumas situações curiosas que só acontecem em sítios pequenos: a pista só pode ser utilizada durante o dia pois não tem iluminação, para além disso o tamanho está calculado ao milímetro para receber este tipo de aviões, eles tocam no chão no início da pista e só abrandam o suficiente para dar a curva mesmo na outra ponta antes de chegar à terra batida, e depois de sairmos do avião encaminham-nos para um corredor com 2 buracos quadrados quase junto ao chão, por onde são passadas as bagagens à mão para os respectivos donos… quais tapetes rolantes, quais carrinhos para a bagagem… aqui não é preciso nada disso. Enquanto observávamos atentamente para não deixar fugir as nossas malas meti conversa com o tipo da Ecotur, empresa dedicada ao turismo de natureza e aventura na ilha do Fogo. Então não é que nós com a descontra total que é este país, não tínhamos marcado nada, absolutamente nada, nem alojamento nem excursões… Decidimos pura e simplesmente ir ao sabor da maré, sem preocupações. E quando se vai assim as coisas até resultam… Lá falámos com o Albino, que não só nos deu boleia até à cidade (a 2 minutos de distância) como também nos arranjou alojamento, pequeno-almoço, e claro está, excursões.
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Deixámos as bagagens numa nova pensão que fomos estrear, localizada junto ao mercado, bem no centro da cidade, por cima da loja do chinês mais famosa do local - Loja Comericial Jackie chen (é mesmo assim, mal escrita - comericial) …. Uau… A vista do nosso quarto duplo era divinal, sobre o oceano e lá ao fundo uma mancha bem próxima, a ilha da Brava. A casa de banho era óptima e só lhe faltavam aí uns 5 azulejos, mas em compensação tinha água quente (não que agora fosse necessário, mas pronto).
Depois de trocar de roupa e de rolo fotográfico lá começámos a explorar as redondezas. A cidade é sempre a descer, sempre… ou então sempre a subir… depende da perspectiva… Para irmos da pensão para o Sea Food (onde tomámos o pequeno-almoço) é a descer, para irmos para a Ecotur ou para o restaurante Le Bistro, é sempre a subir…
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Então desta primeira vez descemos, travávamos a fundo para perder balanço e parávamos a olhar maravilhadas os solares antigos lindíssimos que se vão degradando com o tempo. Esta deve ser a cidade mais bonita de Cabo Verde… Mindelo é lindíssimo, mas aqui a arquitectura colonial é imensa e a distribuição das casas e dos monumentos é incrível… Para perceberem melhor o que quero dizer podem esperar pelas minhas fotografias, ou melhor ainda… apanham um avião e vêm para cá.
Chegámos então ao Sea Food, que tem uma cachupa guisada maravilhosa, bem diferente da que tenho comido nas ilhas do Barlavento, e tem uma vista no mínimo irreal. A varanda do restaurante dá para o leito de uma pequena ribeira que desagua no mar em tempo de chuva, a areia da praia é negra e brilhante, e as ondas que aqui batem desfazem-se em espuma branca. Do outro lado da ribeira é possível ver um antigo cemitério, o cemitério dos aristocratas, com uma vista magnífica, era um verdadeiro privilégio poder ser enterrado aqui. Para perceber a importância deste cemitério e a imponência de algumas das casas é indispensável conhecer um pouco da história desta ilha, mas como não tenho nem espaço nem tempo, e como não sou historiadora, sugiro que se dediquem à pesquisa na Internet.
Mas sobre o cemitério e a sua importância em tempos idos conta-se a seguinte história: uma senhora aristocrata chorava desalmadamente no funeral de um dos seus amigos, grande amigo por sinal da alta sociedade local, e ao ser questionada sobre a razão de tanto sofrimento pela morte do dito amigo, eis que a resposta é bem diferente do que o que se poderia esperar: Choro porque já não há lugar para mim neste cemitério, ele vai ser o último a descansar neste lugar. Pois, não sei se é verdade ou não, mas a verdade é que o cemitério é tão pequeno que já não é utilizado para os funerais.
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Mas continuando… depois do pequeno-almoço parecia que estávamos a entrar num novo dia, desta vez subimos a cidade porque já não dava para descer, e entre mais umas quantas fotografias surge um personagem local. O Sr. Pires que ao reparar em mim com a máquina em punho me pediu uma fotografia em troca da história da sua vida. Ele é filho bastardo de um tal de Pires, que por sinal até tinha alguma riqueza no Fogo, e por intermédio deste pai tipicamente cabo-verdiano (com muitos filhos de várias mulheres), é tio do actual Presidente da República Pedro Pires… e não tive tempo para mais… o Albino chegou na pick-up para nos apanhar e iniciar a nossa volta à ilha.
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A ilha do Fogo é redonda, mesmo redonda, e fazendo a volta pela estrada cá de baixo a paisagem varia tanto que nem dá para acreditar. Saímos do lado seco e aos poucos e poucos vamos enchendo os olhos com verde, cada vez mais verde, com vales lindíssimos, com vegetação quase luxuriante, vales bem diferentes dos de Sto Antão, mas quase tão imponentes, com uma grande diferença, aqui temos sempre o mar do nosso lado direito, a ilha é assim tão pequena… e em Sto Antão há muitos sítios onde nem se sente a presença do mar.
Passámos por terrinhas bonitinhas, demos boleia a quem nos pedia ao longo da estrada, vimos gente e mais gente junto dos depósitos de água à espera de vez para encher os bidões e poderem levar água à cabeça para cozinhar, vimos cabras e mais cabras galinhas e burros por todo o lado a “pastar”, vimos lixo montes de vidro deixados nos vales a brilhar ao sol, vimos as “lojas ambulantes” que aqui proliferam e que não são mais do que mulheres a carregar um alguidar gigante com roupa e chinelos para vender em qualquer lugar.
Vimos as casinhas à beira da estrada com flores e plantas bem tratadas à porta e miúdos no terreiro e nas praças a brincar. Aqui as pessoas parecem-me mais clara e muitas delas têm até os cabelos loiros, algo quase difícil de imaginar.
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Parámos em Mosteiros para almoçar, na mesa ao lado sentou-se uma menina que todos dizem surda e muda e com atraso mental, mas que esteve o tempo todo a observar os nossos lábios e gestos a tentar ler o que dizíamos e a tentar comunicar. Crianças como esta existem em toda a parte do mundo, eu sei… mas algumas têm a sorte de nascer no país certo onde existe tratamento e acompanhamento, e na família certa com dinheiro e disponibilidade para dar… Ela aqui... temos que esperar que o pai e a mãe dela se preocupem mais do que se costumam preocupar, temos de esperar que a avó que cuida dela não morra e não a deixe para trás. Felizmente a solidariedade aqui é grande e não faltam anónimos para ajudar.
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Depois do almoço com o calor a apertar subimos um bom bocado por um trilho junto a outra ribeira para ir ver de perto as plantações do café mais apreciado do arquipélago, andámos pelo meio das casas, a dizer bom dia a toda a gente, e a tirar fotos que poucos turistas conseguem tirar. Ao longos dos caminhos de pé posto, no meio das localidade e junto à estrada por toda a ilha vimos um monte de “abrigos para os santos”, uma espécie de casinhas de pedra ou de cimento onde se colocam as imagens e onde se pára para rezar. Todas têm uma cruz em cima, seja desenhada ou talhada, mas nenhuma tem santo algum, suponho que nunca tenham tido… mas a fé deste povo sente-se no ar.
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Continuámos o nosso caminho, vimos numa praia qualquer de pedra rolada duas cabeças dentro de água, eram 2 body boarders locais… e andámos mais um pouco, vimos mais um cemitério, mas desta vez diferente do habitual, as campas estavam pintadas de verde, ou de azul, ou de amarelo, dá outra cor e outra “vida” ao lugar. E continuando sempre a andar… começámos a ver rios de lava preta seca, rios interrompidos por campos verdes que tinham conseguido escapar, olhamos para cima bem lá para o topo e vemos o pico do vulcão…é mais brutal do que se podia esperar. Mas o vulcão fica para amanhã e seguimos viagem mais uma vez. Agora parámos nas Salinas, uma praia de pescadores onde só descansam os barcos e as redes de pesca. Tudo à volta é preto, a água salgada bate nas rochas e fica a secar ao sol em plataformas de lava de onde depois se pode extrair o sal, naquela paisagem quase inóspita os únicos pontos de cor, quase produtores de arco-íris são os barcos que a esta hora descansam na areia antes de mais uma noite de dura faina que está quase a chegar.
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Seguimos a nossa viagem já quase sem forças, o cansaço começa a ganhar lugar, começa a paisagem novamente a mudar, a ficar mais seca, a ficar mais quente e o sono a chegar. Tentamos com esforço manter os olhos abertos para apreender o máximo que esta ilha tem para nos dar, e quando pensamos que já não aguentamos, eis que surge novamente S. Filipe, regressámos ao mesmo lugar.
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Subimos com dificuldade as escadas para o quarto, tomo um banho de água fresca para arrefecer depois de horas a suar. Deito-me sobre a cama enquanto aguardo que elas se arranjem e sem sequer me ajeitar caí num sono profundo, como já não me lembrava, e até comecei a sonhar.
Acordo algumas horas mais tarde porque elas já sentem a fome a apertar, levanto-me com algum esforço, acabo de me vestir, e sem grandes dúvidas dirigimo-nos para o restaurante Le Bistro. Este restaurante é de uma alemã (se não me engano) que decidiu vir para aqui viver em tranquilidade. Enquanto esperamos o macarrão com tomate e malagueta iniciamos a conversa com os companheiros de jantar, 1 alemão e duas peruanas, uma delas casada com o tal alemão. O casal trabalha para a Cooperação Alemã e está cá a trabalhar no Parque Natural de Chã das Caldeiras (no pico do vulcão). Durante estas viagens conhecem-se pessoas muito interessantes, com motivações e valores diferentes daqueles que se encontram nas pessoas que vivem fechadas num só sítio toda a sua vida… diferentes de muitas das pessoas em Portugal.
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Enquanto comíamos reparámos que não se ouve um único ruído, que não existe música no ar, que diferente que é esta cidade da cidade do Mindelo, que tem festas todos os dias sem parar. Regressámos a “casa”, deito-me na cama, fecho os olhos e deixo-me embalar pelo silêncio que paira no ar.
Ao chegar a paisagem é indescritível, verde muito verde de uns lados, castanha e seca de outro e no topo e ao longo de uma das encostas o negro da lava da última erupção.
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Parámos no aeroporto de S. Filipe já eram quase 8h da manhã, e deparámo-nos de imediato com algumas situações curiosas que só acontecem em sítios pequenos: a pista só pode ser utilizada durante o dia pois não tem iluminação, para além disso o tamanho está calculado ao milímetro para receber este tipo de aviões, eles tocam no chão no início da pista e só abrandam o suficiente para dar a curva mesmo na outra ponta antes de chegar à terra batida, e depois de sairmos do avião encaminham-nos para um corredor com 2 buracos quadrados quase junto ao chão, por onde são passadas as bagagens à mão para os respectivos donos… quais tapetes rolantes, quais carrinhos para a bagagem… aqui não é preciso nada disso. Enquanto observávamos atentamente para não deixar fugir as nossas malas meti conversa com o tipo da Ecotur, empresa dedicada ao turismo de natureza e aventura na ilha do Fogo. Então não é que nós com a descontra total que é este país, não tínhamos marcado nada, absolutamente nada, nem alojamento nem excursões… Decidimos pura e simplesmente ir ao sabor da maré, sem preocupações. E quando se vai assim as coisas até resultam… Lá falámos com o Albino, que não só nos deu boleia até à cidade (a 2 minutos de distância) como também nos arranjou alojamento, pequeno-almoço, e claro está, excursões.
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Deixámos as bagagens numa nova pensão que fomos estrear, localizada junto ao mercado, bem no centro da cidade, por cima da loja do chinês mais famosa do local - Loja Comericial Jackie chen (é mesmo assim, mal escrita - comericial) …. Uau… A vista do nosso quarto duplo era divinal, sobre o oceano e lá ao fundo uma mancha bem próxima, a ilha da Brava. A casa de banho era óptima e só lhe faltavam aí uns 5 azulejos, mas em compensação tinha água quente (não que agora fosse necessário, mas pronto).
Depois de trocar de roupa e de rolo fotográfico lá começámos a explorar as redondezas. A cidade é sempre a descer, sempre… ou então sempre a subir… depende da perspectiva… Para irmos da pensão para o Sea Food (onde tomámos o pequeno-almoço) é a descer, para irmos para a Ecotur ou para o restaurante Le Bistro, é sempre a subir…
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Então desta primeira vez descemos, travávamos a fundo para perder balanço e parávamos a olhar maravilhadas os solares antigos lindíssimos que se vão degradando com o tempo. Esta deve ser a cidade mais bonita de Cabo Verde… Mindelo é lindíssimo, mas aqui a arquitectura colonial é imensa e a distribuição das casas e dos monumentos é incrível… Para perceberem melhor o que quero dizer podem esperar pelas minhas fotografias, ou melhor ainda… apanham um avião e vêm para cá.
Chegámos então ao Sea Food, que tem uma cachupa guisada maravilhosa, bem diferente da que tenho comido nas ilhas do Barlavento, e tem uma vista no mínimo irreal. A varanda do restaurante dá para o leito de uma pequena ribeira que desagua no mar em tempo de chuva, a areia da praia é negra e brilhante, e as ondas que aqui batem desfazem-se em espuma branca. Do outro lado da ribeira é possível ver um antigo cemitério, o cemitério dos aristocratas, com uma vista magnífica, era um verdadeiro privilégio poder ser enterrado aqui. Para perceber a importância deste cemitério e a imponência de algumas das casas é indispensável conhecer um pouco da história desta ilha, mas como não tenho nem espaço nem tempo, e como não sou historiadora, sugiro que se dediquem à pesquisa na Internet.
Mas sobre o cemitério e a sua importância em tempos idos conta-se a seguinte história: uma senhora aristocrata chorava desalmadamente no funeral de um dos seus amigos, grande amigo por sinal da alta sociedade local, e ao ser questionada sobre a razão de tanto sofrimento pela morte do dito amigo, eis que a resposta é bem diferente do que o que se poderia esperar: Choro porque já não há lugar para mim neste cemitério, ele vai ser o último a descansar neste lugar. Pois, não sei se é verdade ou não, mas a verdade é que o cemitério é tão pequeno que já não é utilizado para os funerais.
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Mas continuando… depois do pequeno-almoço parecia que estávamos a entrar num novo dia, desta vez subimos a cidade porque já não dava para descer, e entre mais umas quantas fotografias surge um personagem local. O Sr. Pires que ao reparar em mim com a máquina em punho me pediu uma fotografia em troca da história da sua vida. Ele é filho bastardo de um tal de Pires, que por sinal até tinha alguma riqueza no Fogo, e por intermédio deste pai tipicamente cabo-verdiano (com muitos filhos de várias mulheres), é tio do actual Presidente da República Pedro Pires… e não tive tempo para mais… o Albino chegou na pick-up para nos apanhar e iniciar a nossa volta à ilha.
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A ilha do Fogo é redonda, mesmo redonda, e fazendo a volta pela estrada cá de baixo a paisagem varia tanto que nem dá para acreditar. Saímos do lado seco e aos poucos e poucos vamos enchendo os olhos com verde, cada vez mais verde, com vales lindíssimos, com vegetação quase luxuriante, vales bem diferentes dos de Sto Antão, mas quase tão imponentes, com uma grande diferença, aqui temos sempre o mar do nosso lado direito, a ilha é assim tão pequena… e em Sto Antão há muitos sítios onde nem se sente a presença do mar.
Passámos por terrinhas bonitinhas, demos boleia a quem nos pedia ao longo da estrada, vimos gente e mais gente junto dos depósitos de água à espera de vez para encher os bidões e poderem levar água à cabeça para cozinhar, vimos cabras e mais cabras galinhas e burros por todo o lado a “pastar”, vimos lixo montes de vidro deixados nos vales a brilhar ao sol, vimos as “lojas ambulantes” que aqui proliferam e que não são mais do que mulheres a carregar um alguidar gigante com roupa e chinelos para vender em qualquer lugar.
Vimos as casinhas à beira da estrada com flores e plantas bem tratadas à porta e miúdos no terreiro e nas praças a brincar. Aqui as pessoas parecem-me mais clara e muitas delas têm até os cabelos loiros, algo quase difícil de imaginar.
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Parámos em Mosteiros para almoçar, na mesa ao lado sentou-se uma menina que todos dizem surda e muda e com atraso mental, mas que esteve o tempo todo a observar os nossos lábios e gestos a tentar ler o que dizíamos e a tentar comunicar. Crianças como esta existem em toda a parte do mundo, eu sei… mas algumas têm a sorte de nascer no país certo onde existe tratamento e acompanhamento, e na família certa com dinheiro e disponibilidade para dar… Ela aqui... temos que esperar que o pai e a mãe dela se preocupem mais do que se costumam preocupar, temos de esperar que a avó que cuida dela não morra e não a deixe para trás. Felizmente a solidariedade aqui é grande e não faltam anónimos para ajudar.
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Depois do almoço com o calor a apertar subimos um bom bocado por um trilho junto a outra ribeira para ir ver de perto as plantações do café mais apreciado do arquipélago, andámos pelo meio das casas, a dizer bom dia a toda a gente, e a tirar fotos que poucos turistas conseguem tirar. Ao longos dos caminhos de pé posto, no meio das localidade e junto à estrada por toda a ilha vimos um monte de “abrigos para os santos”, uma espécie de casinhas de pedra ou de cimento onde se colocam as imagens e onde se pára para rezar. Todas têm uma cruz em cima, seja desenhada ou talhada, mas nenhuma tem santo algum, suponho que nunca tenham tido… mas a fé deste povo sente-se no ar.
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Continuámos o nosso caminho, vimos numa praia qualquer de pedra rolada duas cabeças dentro de água, eram 2 body boarders locais… e andámos mais um pouco, vimos mais um cemitério, mas desta vez diferente do habitual, as campas estavam pintadas de verde, ou de azul, ou de amarelo, dá outra cor e outra “vida” ao lugar. E continuando sempre a andar… começámos a ver rios de lava preta seca, rios interrompidos por campos verdes que tinham conseguido escapar, olhamos para cima bem lá para o topo e vemos o pico do vulcão…é mais brutal do que se podia esperar. Mas o vulcão fica para amanhã e seguimos viagem mais uma vez. Agora parámos nas Salinas, uma praia de pescadores onde só descansam os barcos e as redes de pesca. Tudo à volta é preto, a água salgada bate nas rochas e fica a secar ao sol em plataformas de lava de onde depois se pode extrair o sal, naquela paisagem quase inóspita os únicos pontos de cor, quase produtores de arco-íris são os barcos que a esta hora descansam na areia antes de mais uma noite de dura faina que está quase a chegar.
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Seguimos a nossa viagem já quase sem forças, o cansaço começa a ganhar lugar, começa a paisagem novamente a mudar, a ficar mais seca, a ficar mais quente e o sono a chegar. Tentamos com esforço manter os olhos abertos para apreender o máximo que esta ilha tem para nos dar, e quando pensamos que já não aguentamos, eis que surge novamente S. Filipe, regressámos ao mesmo lugar.
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Subimos com dificuldade as escadas para o quarto, tomo um banho de água fresca para arrefecer depois de horas a suar. Deito-me sobre a cama enquanto aguardo que elas se arranjem e sem sequer me ajeitar caí num sono profundo, como já não me lembrava, e até comecei a sonhar.
Acordo algumas horas mais tarde porque elas já sentem a fome a apertar, levanto-me com algum esforço, acabo de me vestir, e sem grandes dúvidas dirigimo-nos para o restaurante Le Bistro. Este restaurante é de uma alemã (se não me engano) que decidiu vir para aqui viver em tranquilidade. Enquanto esperamos o macarrão com tomate e malagueta iniciamos a conversa com os companheiros de jantar, 1 alemão e duas peruanas, uma delas casada com o tal alemão. O casal trabalha para a Cooperação Alemã e está cá a trabalhar no Parque Natural de Chã das Caldeiras (no pico do vulcão). Durante estas viagens conhecem-se pessoas muito interessantes, com motivações e valores diferentes daqueles que se encontram nas pessoas que vivem fechadas num só sítio toda a sua vida… diferentes de muitas das pessoas em Portugal.
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Enquanto comíamos reparámos que não se ouve um único ruído, que não existe música no ar, que diferente que é esta cidade da cidade do Mindelo, que tem festas todos os dias sem parar. Regressámos a “casa”, deito-me na cama, fecho os olhos e deixo-me embalar pelo silêncio que paira no ar.
1 comentário:
muto boa
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