Oito da manhã… espreguiçar… hum… que noite bem dormida, que bom que é acordar sem o despertador, numa cama de casal fofinha só para mim, num quarto grande arejado pelas duas ventoinhas de tecto e com aquela vista sobre o mar…
O pequeno-almoço está servido… Pão fresco, queijo di terra (diferente do que se encontra no Mindelo ou em Sto Antão), bananas, doce de goiaba, café com leite… acho que só faltava mesmo a cachupa guisada… mas isso é para os locais, aqui os cabo-verdianos não estão habituados a que umas estrangeiras gostem de comida a sério logo pela manhã.
Tranquilamente saímos do quarto e procurámos a pick-up que nos levaria ao ponto mais alto da ilha… é dia de subir até Chã das Caldeiras, de pela primeira vez pisar o vulcão. Pierre, o dono do Pedra Brabo (único alojamento que existe lá em cima), e também a nossa boleia, combina a saída de S. Filipe para as 11h da manhã. Ainda falta um bocado, temos mesmo que esperar… o que fazer até lá? Vamos visitar a Casa da Memória.
Casa da Memória é um antigo solar recuperado, por dentro, por fora e que é um autêntico museu de peças antigas que antes preenchiam as casas senhoriais de S. Filipe. Peças lindíssimas, algumas peças únicas de um tempo de senhores proprietários, desde simples chapéus até aos mais requintados serviços de copos de cristal… selas de cavalo e até mesmo escarradeiras… Mas não são só as peças que contam a história desta ilha e deste lugar, no pátio interior as árvores, trepadeiras e plantas que aqui crescem são todas plantas endémicas. A biblioteca do outro lado, está ainda pouco recheada, mas é a boa vontade de uns e os donativos de outros (incluindo do Presidente de República Jorge Sampaio), que vão enchendo este espaço com cultura. Este local vale a pena visitar, porque aqui até as traves do tecto e até as portas antigas de madeira foram conservadas, aqui as peças ainda têm dono, foram apenas emprestadas para não se perder este pedaço de história… aqui até o livro de receitas de uma qualquer família abastada abre as suas páginas para nos recordar do que se comia noutros tempos. Vale a pena visitar este lugar com tempo, bastante tempo… é que todo o tempo que se dispensa para ver apenas algumas salas é muito pouco… porque a cada canto, em cada parede, em cada prateleira, estão peças que merecem a nossa atenção. É também preciso tempo para uma conversa muito interessante com a guardiã deste espólio… uma sueca que também ela decidiu mudar-se para cá há já largos anos. Por viver aqui há tanto tempo, as famílias a pouco e pouco foram-lhe oferecendo a oportunidade de guardar e preservar as peças herdadas, passaram-lhe todos os objectos e as suas histórias para que se pudesse montar esta casa museu, que é talvez o ponto de maior interesse cultural de toda a ilha.
Depois de mais um rolo de fotografias e de muita curiosidade saciada, tivemos que sair já quase a correr para não perder a nossa boleia para a aventura seguinte – Chã das Caldeiras. Pegámos rapidamente nas mochilas, entrámos na carrinha e saímos de S. Filipe a alta velocidade… o que não é muito bom considerando que apesar da estrada estar em muito bom estado, ela é feita de calçada… imaginem o efeito que tem nas nossas costas…
Subimos, subimos, subimos, parámos para dar boleia a uma mãe e as suas duas filhas, e continuámos a subir, a subir, a subir… até que finalmente se vê um dos picos do vulcão (o pico maior). A paisagem vai mudando… a terra deixa de ser castanha e arenosa e passa a ser preta piroclástica… Bem que eu gostava de conseguir descrever a paisagem que surgiu aos poucos em frente dos meus olhos… mas não consigo.
Passámos a placa que nos saúda à entrada do Parque Natural de Chã das Caldeiras, e continuamos a andar. Aqui a paisagem é impressionante… são rios de lava seca, pedras pedregulhos enormes pretos e castanhos escuros, com pontas bem afiadas… aproximamo-nos da Bordeira, que é nem mais nem menos do que a borda da caldeira do primeiro vulcão que abateu, ficou só mesmo a borda de um dos lados (em forma de semicírculo), formando uma única montanha com cerca de 1000m de altitude a partir de Chã das Caldeiras (que já está a 1700m de altitude). Do lado onde não existe bordeira é a “saída de emergência” da lava que saiu do vulcão, e que se transformou em rio ao descer a encosta até ao mar.
O pequeno-almoço está servido… Pão fresco, queijo di terra (diferente do que se encontra no Mindelo ou em Sto Antão), bananas, doce de goiaba, café com leite… acho que só faltava mesmo a cachupa guisada… mas isso é para os locais, aqui os cabo-verdianos não estão habituados a que umas estrangeiras gostem de comida a sério logo pela manhã.
Tranquilamente saímos do quarto e procurámos a pick-up que nos levaria ao ponto mais alto da ilha… é dia de subir até Chã das Caldeiras, de pela primeira vez pisar o vulcão. Pierre, o dono do Pedra Brabo (único alojamento que existe lá em cima), e também a nossa boleia, combina a saída de S. Filipe para as 11h da manhã. Ainda falta um bocado, temos mesmo que esperar… o que fazer até lá? Vamos visitar a Casa da Memória.
Casa da Memória é um antigo solar recuperado, por dentro, por fora e que é um autêntico museu de peças antigas que antes preenchiam as casas senhoriais de S. Filipe. Peças lindíssimas, algumas peças únicas de um tempo de senhores proprietários, desde simples chapéus até aos mais requintados serviços de copos de cristal… selas de cavalo e até mesmo escarradeiras… Mas não são só as peças que contam a história desta ilha e deste lugar, no pátio interior as árvores, trepadeiras e plantas que aqui crescem são todas plantas endémicas. A biblioteca do outro lado, está ainda pouco recheada, mas é a boa vontade de uns e os donativos de outros (incluindo do Presidente de República Jorge Sampaio), que vão enchendo este espaço com cultura. Este local vale a pena visitar, porque aqui até as traves do tecto e até as portas antigas de madeira foram conservadas, aqui as peças ainda têm dono, foram apenas emprestadas para não se perder este pedaço de história… aqui até o livro de receitas de uma qualquer família abastada abre as suas páginas para nos recordar do que se comia noutros tempos. Vale a pena visitar este lugar com tempo, bastante tempo… é que todo o tempo que se dispensa para ver apenas algumas salas é muito pouco… porque a cada canto, em cada parede, em cada prateleira, estão peças que merecem a nossa atenção. É também preciso tempo para uma conversa muito interessante com a guardiã deste espólio… uma sueca que também ela decidiu mudar-se para cá há já largos anos. Por viver aqui há tanto tempo, as famílias a pouco e pouco foram-lhe oferecendo a oportunidade de guardar e preservar as peças herdadas, passaram-lhe todos os objectos e as suas histórias para que se pudesse montar esta casa museu, que é talvez o ponto de maior interesse cultural de toda a ilha.
Depois de mais um rolo de fotografias e de muita curiosidade saciada, tivemos que sair já quase a correr para não perder a nossa boleia para a aventura seguinte – Chã das Caldeiras. Pegámos rapidamente nas mochilas, entrámos na carrinha e saímos de S. Filipe a alta velocidade… o que não é muito bom considerando que apesar da estrada estar em muito bom estado, ela é feita de calçada… imaginem o efeito que tem nas nossas costas…
Subimos, subimos, subimos, parámos para dar boleia a uma mãe e as suas duas filhas, e continuámos a subir, a subir, a subir… até que finalmente se vê um dos picos do vulcão (o pico maior). A paisagem vai mudando… a terra deixa de ser castanha e arenosa e passa a ser preta piroclástica… Bem que eu gostava de conseguir descrever a paisagem que surgiu aos poucos em frente dos meus olhos… mas não consigo.
Passámos a placa que nos saúda à entrada do Parque Natural de Chã das Caldeiras, e continuamos a andar. Aqui a paisagem é impressionante… são rios de lava seca, pedras pedregulhos enormes pretos e castanhos escuros, com pontas bem afiadas… aproximamo-nos da Bordeira, que é nem mais nem menos do que a borda da caldeira do primeiro vulcão que abateu, ficou só mesmo a borda de um dos lados (em forma de semicírculo), formando uma única montanha com cerca de 1000m de altitude a partir de Chã das Caldeiras (que já está a 1700m de altitude). Do lado onde não existe bordeira é a “saída de emergência” da lava que saiu do vulcão, e que se transformou em rio ao descer a encosta até ao mar.
Na plataforma que se formou no centro da caldeira abatida, e que fica rodeada com a bordeira, está Chã das Caldeiras, uma localidade pequena cujos habitantes são mulatos de pele clara, com cabelos loiros ou castanhos claros, quase lisos e com olhos verdes ou azuis… pessoas lindíssimas, quase todos descendentes de um tal Montrond, francês que no século XIX se instalou aqui depois de fugir da sua terra natal. Aqui não existem nem nascente de água nem chega cá a electricidade, e vive-se apenas da parca agricultura que se desenvolve nos poucos terrenos férteis que ficaram da última erupção. Aqui produz-se o único, fortíssimo e excelente vinho de Cabo Verde, o vinho Chã das Caldeiras, nas suas versões tinto, branco e rosé. As vinhas são algo incrível… pois são plantadas em buracos na pedra do vulcão onde se coloca um pouco de estrume… não são necessárias estruturas de suporte, pois outro dos segredos deste vinho é que as vinhas andam mesmo pelo chão.
Mais ou menos no centro de Chã das Caldeiras ergue-se imponente o maior pico do vulcão… 2829m… é demasiado forte e grande para descrever… para os mais aventureiros aconselho que façam a caminhada até ao topo, são só cerca de 4 ou 5 horas para quem estiver bem preparado, mas para quem seja mais preguiçoso, existe ainda outra possibilidade… subir apenas ao pico mais pequeno e mais recente. Localizado numa das encostas do pico principal, encontra-se o pico pequeno que resultou da erupção de 1995, e que demora apenas 1 ou 2 horas a subir. Mas atenção… ao chegar lá acima, no topo do pico pequeno, não se deve pisar com demasiada força o solo, e muito menos se pode saltar… é que para além do solo ainda estar quente, a camada que já secou tem cerca de 10 cm apenas, e corre-se o risco de “meter o pé na poça”, mas neste caso, na poça de lava que continua a correr por baixo. Assustador! não é?
Depois de um almoço digno do melhor restaurante francês em plena Paris… o dono era também um óptimo cozinheiro, e preparou-nos um magnífico bife de atum com um molho de cogumelos que era qualquer coisa de divinal…. Hummm…
Como neste dia não tínhamos já muitas horas de sol decidimos não subir nenhum dos picos… fomos antes ver as vinhas, a produção de vinho, e claro, fomos provar este néctar dos deuses. Pelo caminho entre as casas na aldeia, os miúdos vinham a correr para nós a falar francês com muito maior facilidade do que falavam português, e pediam-nos ou quase exigiam de forma arrogante dinheiro… uma atitude algo estranha a que eu não estava habituada… mas depois de umas quantas fotos, depois da festa do costume em volta da máquina para se tentarem identificar uns aos outros, e depois de uma mão cheia de rebuçados, as suas carinhas voltaram a ter o brilho e a ingenuidade de uma criança qualquer.
Depois da etapa mais social do circuito, eu e a minha irmã decidimos ainda tentar na última hora de sol… (o sol aqui põe-se mais depressa por causa da bordeira)… fazer uma caminhada até nos aproximar-mos ao máximo do vulcão… andámos, andámos, andámos… e parecia que nem sequer saíamos do mesmo lugar…finalmente aproximámo-nos do limite da lava mais recente… e ficámos largos minutos a contemplar cada pedaço de rocha dura, moldada por esta força brutal da natureza em pleno processo produtivo… esta paisagem é de um fascínio… tem um poder… sentimo-nos pequeninos… muito frágeis perante tanta… tanta força bruta que pode ainda brotar da terra…
Pelo caminho íamos sendo atacadas por moscas… a certa altura já parecíamos mais búfalos em plena savana africana… eram quase mais moscas do que superfície corporal para elas ocuparem… depois de muitos movimentos a tentar enxotá-las percebemos que mas valia esquecer a comichão e relaxar… elas não iam mesmo embora… nem mesmo quando nos cruzávamos com algum miúdo… não ficava para trás nem uma mosca… e isto porquê??? Chegámos a conclusão que o creme protector solar nívea é um excelente atractivo de moscas… não o usem em locais com muitos insectos…
À medida que as nuvens iam encobrindo a bordeira e o sol de ia escondendo, o ar arrefecia a uma velocidade alucinante, demos meia volta e regressámos a “casa”. O que mais queira depois deste dia era um banho quente… mas as quase-estalactites que saíam da torneira desencorajavam o mais corajoso dos banhistas… vestimos então praticamente toda a roupa que havíamos trazido, calcámos os ténis, e mesmo assim pela primeira vez em Cabo Verde tive frio, não muito, mas já era frio.
Sentámo-nos à luz das velas a comer outra delícia da cozinha internacional, um bife magnificamente temperado acompanhado com os legumes locais, e à sobremesa… a melhor mousse de chocolate que já comi na minha vida…. Que requinte… num dos lugares mais inóspitos, mas pobres e mais espectaculares do mundo… comemos ao melhor estilo de um restaurante 5 estrelas… em Cabo Verde.
Para acabar a noite e antes que o gerador fosse desligado, aprendemos com os guias locais a jogar às cartas com um baralho de Tarot. Devo dizer que de previsões não tem nada, e de facilidade também não…. Nunca vi um jogo de cartas com tantas regras e com tantos pontos para contar… era quase meia-noite estavam 3 portuguesas, 2 franceses, 2 alemães e 2 cabo-verdianos a jogar… num ambiente quase familiar.
Mais ou menos no centro de Chã das Caldeiras ergue-se imponente o maior pico do vulcão… 2829m… é demasiado forte e grande para descrever… para os mais aventureiros aconselho que façam a caminhada até ao topo, são só cerca de 4 ou 5 horas para quem estiver bem preparado, mas para quem seja mais preguiçoso, existe ainda outra possibilidade… subir apenas ao pico mais pequeno e mais recente. Localizado numa das encostas do pico principal, encontra-se o pico pequeno que resultou da erupção de 1995, e que demora apenas 1 ou 2 horas a subir. Mas atenção… ao chegar lá acima, no topo do pico pequeno, não se deve pisar com demasiada força o solo, e muito menos se pode saltar… é que para além do solo ainda estar quente, a camada que já secou tem cerca de 10 cm apenas, e corre-se o risco de “meter o pé na poça”, mas neste caso, na poça de lava que continua a correr por baixo. Assustador! não é?
Depois de um almoço digno do melhor restaurante francês em plena Paris… o dono era também um óptimo cozinheiro, e preparou-nos um magnífico bife de atum com um molho de cogumelos que era qualquer coisa de divinal…. Hummm…
Como neste dia não tínhamos já muitas horas de sol decidimos não subir nenhum dos picos… fomos antes ver as vinhas, a produção de vinho, e claro, fomos provar este néctar dos deuses. Pelo caminho entre as casas na aldeia, os miúdos vinham a correr para nós a falar francês com muito maior facilidade do que falavam português, e pediam-nos ou quase exigiam de forma arrogante dinheiro… uma atitude algo estranha a que eu não estava habituada… mas depois de umas quantas fotos, depois da festa do costume em volta da máquina para se tentarem identificar uns aos outros, e depois de uma mão cheia de rebuçados, as suas carinhas voltaram a ter o brilho e a ingenuidade de uma criança qualquer.
Depois da etapa mais social do circuito, eu e a minha irmã decidimos ainda tentar na última hora de sol… (o sol aqui põe-se mais depressa por causa da bordeira)… fazer uma caminhada até nos aproximar-mos ao máximo do vulcão… andámos, andámos, andámos… e parecia que nem sequer saíamos do mesmo lugar…finalmente aproximámo-nos do limite da lava mais recente… e ficámos largos minutos a contemplar cada pedaço de rocha dura, moldada por esta força brutal da natureza em pleno processo produtivo… esta paisagem é de um fascínio… tem um poder… sentimo-nos pequeninos… muito frágeis perante tanta… tanta força bruta que pode ainda brotar da terra…
Pelo caminho íamos sendo atacadas por moscas… a certa altura já parecíamos mais búfalos em plena savana africana… eram quase mais moscas do que superfície corporal para elas ocuparem… depois de muitos movimentos a tentar enxotá-las percebemos que mas valia esquecer a comichão e relaxar… elas não iam mesmo embora… nem mesmo quando nos cruzávamos com algum miúdo… não ficava para trás nem uma mosca… e isto porquê??? Chegámos a conclusão que o creme protector solar nívea é um excelente atractivo de moscas… não o usem em locais com muitos insectos…
À medida que as nuvens iam encobrindo a bordeira e o sol de ia escondendo, o ar arrefecia a uma velocidade alucinante, demos meia volta e regressámos a “casa”. O que mais queira depois deste dia era um banho quente… mas as quase-estalactites que saíam da torneira desencorajavam o mais corajoso dos banhistas… vestimos então praticamente toda a roupa que havíamos trazido, calcámos os ténis, e mesmo assim pela primeira vez em Cabo Verde tive frio, não muito, mas já era frio.
Sentámo-nos à luz das velas a comer outra delícia da cozinha internacional, um bife magnificamente temperado acompanhado com os legumes locais, e à sobremesa… a melhor mousse de chocolate que já comi na minha vida…. Que requinte… num dos lugares mais inóspitos, mas pobres e mais espectaculares do mundo… comemos ao melhor estilo de um restaurante 5 estrelas… em Cabo Verde.
Para acabar a noite e antes que o gerador fosse desligado, aprendemos com os guias locais a jogar às cartas com um baralho de Tarot. Devo dizer que de previsões não tem nada, e de facilidade também não…. Nunca vi um jogo de cartas com tantas regras e com tantos pontos para contar… era quase meia-noite estavam 3 portuguesas, 2 franceses, 2 alemães e 2 cabo-verdianos a jogar… num ambiente quase familiar.
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