Já sei, já sei… estou com o blog desactualizado mais uma vez… mas não é por ter pouca coisa para contar, muito pelo contrário… são tantas coisas, mas tão intensas que me é quase impossível passá-las para simples palavras.
O que tenho vivido aqui nestes últimos tempos tem sido incrível, extraordinário. As palavras que existem no meu dicionário não vão com certeza fazer justiça a tudo o que tenho sentido e vivido aqui.
Ultimamente para conseguir escrever alguma coisa que faça sentido para quem lê de fora, preciso de recorrer às fotografias que tenho tirado, porque se desatasse pura e simplesmente a escrever o que sinto, vocês não iam conseguir perceber nada.
Mas hoje estou decidida, é hoje que vos conto mais um pouco do meu percurso. Aviso já que vou tentar escrever uma espécie de relatório quase formal, pois não quero que ao falar das minhas experiências comece a divagar e a fugir totalmente para o lado sentimental…
Então aqui vai:
O que tenho vivido aqui nestes últimos tempos tem sido incrível, extraordinário. As palavras que existem no meu dicionário não vão com certeza fazer justiça a tudo o que tenho sentido e vivido aqui.
Ultimamente para conseguir escrever alguma coisa que faça sentido para quem lê de fora, preciso de recorrer às fotografias que tenho tirado, porque se desatasse pura e simplesmente a escrever o que sinto, vocês não iam conseguir perceber nada.
Mas hoje estou decidida, é hoje que vos conto mais um pouco do meu percurso. Aviso já que vou tentar escrever uma espécie de relatório quase formal, pois não quero que ao falar das minhas experiências comece a divagar e a fugir totalmente para o lado sentimental…
Então aqui vai:
O mês de Setembro não podia ter começado melhor… no dia 2 logo pela manhã (às 07:45) decidi fugir do Mindelo e meter-me no barco para a minha ilha de eleição… Sto Antão. Esta ilha tem o poder fantástico de me fazer rejuvenescer e descansar em apenas algumas horas… mas desta vez o calor que se fazia sentir não me estava propriamente a agradar. Depois do costumeiro enjoo e do choque térmico que se deu logo que atracámos no Porto Novo, tive que ir a “correr” com a mochila às costas para um café onde podia recuperar as forças comendo uma belíssima cachupa guisada acompanhada de coca-cola logo pela manhã. Ainda não tinha tomado o pequeno-almoço porque sabia que corria sérios riscos de o ver afundar no oceano durante a viagem, por isso este pequeno-almoço tradicional soube-me que nem ginjas…
Durante toda a manhã andámos pela cidade na busca incessante de sombras e lugares onde corresse alguma brisa, para evitar que fossemos torrados vivos ao sol. Mas esta tarefa torna-se algo complicada quando a cidade toda está localizada na encosta seca da ilha e quando nem uma ligeira brisa corre no ar.
Deambulámos pelo Porto Novo, vimos com atenção a preparação do Festival, as pessoas a montar a barracas de comes e bebes, o porco e a cabra que chegaram vivos de “aluguer” para servir de refeição horas mais tarde, assistimos ao alisamento do areal para servir de recinto ao espectáculo, e à montagem algo tardia do palco.
Ao fim de algumas horas e de várias cervejas e coca-colas (tudo isto para evitar a desidratação…) deixámos as mochilas em casa de uma família amiga local e fomos convidados a comer um magnífico peixe no forno acompanhado de um vinho tinto carrascão muito fresco que me soube pela vida. Tentei durante todo o almoço perceber cada palavra que se trocava em crioulo, devo dizer que já percebo bastante, mas não consigo entender uma palavra quando a conversa começa a acelerar e a meter expressões populares pelo meio… por isso a minha cara de parva durante o almoço foi tão óbvia que a D. Antónia achou que eu estava a julgá-la com o meu olhar cada vez que ela dizia alguma coisa… este mal entendido foi rapidamente ultrapassado comigo a tentar explicar no meu básico crioulo que eu era mesmo “burra” e que só queria perceber do que se estava a falar. Esta tentativa de explicação deu frutos e quando dei por mim já estava a receber uma visita guiada por toda a casa, já andava a ver molduras e álbuns de fotografias de todos os seus filhos e netos, já sabia as histórias de cada um deles e em que país vivem/viveram, nasceram e/ou morreram. Quase que entrei no seio desta família que nem sequer me conhecia, tive a liberdade de falar de tudo um pouco e de aprender muito do que por aqui se sabe e que em Portugal já está esquecido. Posso dizer que reiniciei a minha aprendizagem sobre a simplicidade, pureza e honestidade das pessoas, recomecei a enriquecer com tudo o que me ofereceram e me deram a conhecer. Senti-me tão bem que quando dei por mim estavam a “arrastar-me” para fora daquela casa onde me sentia tão bem… tínhamos que ir… havia ainda muito mais para ver e para fazer… havia um mundo novo, toda uma realidade nova para conhecer. Já não me sentia uma estrangeira, muito menos uma turista, e este sentimento foi aumentando de tom a cada momento que passava, e durante toda esta minha curta viagem senti-me em casa. Antes de sair ainda consegui tirar uma fotografia a uma das mulheres mais bonitas que conheci, a D. Antónia, senhora de idade com uma prol considerável, que achava que por já ser velha não tinha “direito” de ficar bonita nas fotografias, mas que depois de lhe tirar a primeira, me pediu para ficar com ela.
Saímos então desta casa simples mas acolhedora, para ir conhecer uma praia de areia preta com a água límpida e quente, onde um grupo de amigos fazia um pic-nic bem regado com vinho (mais uma vez carrascão) e grogue. Depois de molhar os pés e de comer um peixinho grelhado partimos rapidamente para a “ronda das tascas”, quase em cada esquina parávamos para beber mais uma imperial fresquinha (ou nem por isso) e para comer uns deliciosos pastéis de milho. Ao cair do dia mais uma praia, e enquanto olhava S. Vicente no horizonte ouvia-se ao longe os discursos dos ilustres convidados para a festa de elevação do Porto Novo a cidade. Daqui a uns anos posso dizer que eu estive lá, no dia em que esta vila passou a cidade, no dia em que Cabo Verde ganhou a sua 5ª cidade…
Finalmente, depois de um longo e atribulado dia, parámos para jantar numa das tascas improvisadas no local, o “Holanda”. Esta tasca tem a sua origem no Mindelo, é um dos restaurantes que se encontram na Lajinha, e veio directamente para o festival trazendo consigo uma das figuras mais caricatas que conheci até ao momento, uma rapariga jovem que serve às mesas, super-simpática mas que tem um bigode de fazer inveja a muitos homens que eu conheço. Este “refeitório comunitário” acabou por ser um dos nossos poisos preferidos durante o festival, era aqui que passávamos horas a ouvir boa e má música, onde comíamos os búzios ou os ovos estrelados com batatas fritas embebidas em ketchup e claro sempre acompanhados das cervejas mais frescas que se encontravam no local.
A música que devia começar às 20h estava, como já é costume, atrasada e por isso decidimos ir descansar os ossos para a noite de arromba que se iria seguir. Regressámos ao recinto às 24h o que não foi tarde nem cedo para podermos assistir a praticamente todos os grupos que estavam no programa. Música boa, e as vezes nem por isso, mas sempre melhor do que a que se ouviu no Festival da Baía das Gatas, longas paragens entre cada grupos, momentos de descanso sentados na areia preta molhada pelas ondinhas que banhavam a praia (já vos tinha dito que o recinto era na praia???), no mesmo espaço pessoas que dançavam, pessoas que vendiam bebidas e pessoas que verdadeiramente caíam para o lado “fuscas” de tanto grogue que haviam consumido provavelmente desde manhã. Tentámos em vão aguentar até ao último grupo, mas o corpo pedia descanso e por volta das 5h da manhã decidimos ir dormir antes que o sol resolvesse nascer. A primeira noite do festival estava no fim, mas ainda nos restava mais um dia e uma noite na mais recente cidade de Cabo Verde, e provavelmente uma das cidades mais quentes...
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