Já começa a ser um muito mau hábito dormir poucas horas… há sete meses que por aqui ando e ainda não me posso gabar de ter dormido profundamente durante uma noite inteira… Mas as noites mal dormidas estavam prestes a acabar… na primeira noite, ou melhor, na primeira madrugada no Eito dormi pouco, mas bem, quem me manda a mim chegar a casa ao nascer do sol?? Mas os dias e as noites seguintes deram para compensar quase 4 meses de noites mal dormidas… (já só faltava recuperar mais 3 meses do total da estadia)
Mas voltando ao terceiro dia em Sto Antão… depois de dormir cerca de 3 horas (nem sei se chegou a tanto), lá me arrastei para fora da cama, e ainda em camisa de dormir saí do quarto para ir tomar o refrescante banho matinal. Mal saí do quarto cruzei-me com 3 caras desconhecidas… deviam ser da família que me acolhia, mas eu ainda não tinha sido apresentada. Ainda mal tinha conseguido emitir um “Bom dia” quando me puseram uma toalha nas mãos e me disseram para a seguir ao banho ir à cozinha tomar o pequeno-almoço. Como eu não gosto de contrariar, muito menos de manhã, e como a fome já era muita, lá segui as instruções. Mal abri a torneira da banheira senti-me recuar aos meus tempos de infância na Serra da Estrela, não só por o Eito estar localizado no meio da Ribeira do Paúl e por isso estar rodeado de montanhas verdejantes, mas também pelo silêncio e pela água gelada que me arrepiava até os ossos. Vesti-me e dirigi-me de mansinho à cozinha onde finalmente fui apresentada a toda a família e a todos os empregados que mantêm esta casa enorme a funcionar. Fui muito bem recebida, e a minha estadia ali foi encarada com uma naturalidade que eu não esperava encontrar. Sentei-me à mesa do pequeno-almoço, e devo dizer que agora sim, sei qual é o significado real de pequeno-almoço, como o nome indica é um almoço pequeno, e para este clima e para me sentir bem, tem mesmo de ser assim. A mesa estava mais do que recheada de coisas deliciosas… era um verdadeiro banquete, e seria assim todos os dias da minha estadia, porque é assim que normalmente se come por aqui. Digo-vos que nem sei como não engordei… imaginem só comer cachupa guisada com peixe frito, beber café com leite (acabadinho de tirar da vaca) e ainda comer uma belíssima papaia acabada de tirar da árvore… hum… melhor que isto é impossível. Já que estou a falar de comida posso também dizer-vos em que consistem as restantes refeições do dia: ao almoço na mesa tem-se sempre cachupa rica feita na lenha, a melhor que comi até hoje, e são servidos ainda outros pratos para quem quiser variar; ao jantar uma canja bem mais recheada que a canja de Portugal e que se tempera com malagueta… divinal…
Mas continuando com a história desse dia… passámos a manhã toda a preguiçar, à sombra de uma árvore perto do curral, onde podia estar o dia todo a beber Sagres geladinha e ponche de mel (do que melhor que já bebi… acho que já vos tinha dito isto, mas não me canso de repetir…) e a observar bem de perto a Altiva e a Naomi, duas éguas lindíssimas, que não me cansei de mimar. Como era domingo e como há muito pouco para se fazer aqui, alguns residentes desta localidade juntaram-se quase à porta da casa onde fiquei para participar numa competição de jogos tradicionais, a corrida de sacos com alguns espalhanços à mistura, a corrida com uma colher na boca e um ovo nervoso na ponta, que acabou numa autêntica gemada… seguiu-se música, entrega de prémios e muita animação… Mais uma vez lembrei-me de Manteigas (na Serra da Estrela), das minhas brincadeiras e das coisas que os meninos de cidade nunca vão perceber como sabem bem…
Da parte da tarde fomos à boleia numa “Hiace” para o Figueiral… é um sítio que nem sequer vos consigo explicar… é no meio do vale, é verde, muito verde, tem montes de plantações por todo o lado em socalcos perfeitamente talhados nas encostas, tem levadas de água e tanques, onde tomámos banho ao anoitecer… O caminho que fizemos (parte a pé, entre rochas e no leito de um pequeno riacho) foi às escuras, com alguns tropeções à mistura, e bicharada por todo o lado…
Chegados ao Eito, não havia luz… mais tarde percebi que já é habitual porque a Electra não tem feito manutenção dos equipamentos de produção de energia… Aqui já toda a gente se acomodou a ter luz durante apenas algumas horas do dia, mas eu fiquei tão revoltada que só me apetecia fazer queixa da empresa onde trabalho…Como não o posso fazer, decidi passar a mensagem às mais altas instâncias da empresa, passando uma mensagem de preocupação da população e mostrando que situações destas só podem influenciar negativamente a imagem da empresa… se isto alguma vez dará frutos??? Já não estarei cá para ver…
Depois de jantar cedo metemo-nos a caminho pela estrada escura na esperança que alguém nos desse boleia até ao local da festa. Um “aluguer” parou e apesar de estar cheio, ainda nos conseguimos encaixar lá dentro. À medida que ia andando só pensava como teria sido quase impossível para mim fazer aquele percurso enorme a pé às escuras… Finalmente chegámos… a festa era numa discoteca muito pouco convencional. Entrávamos para um pátio onde estavam uns matraquilhos e a entrada para uma mercearia (sim, mercearia, leram bem, a mercearia servia de bar…), e numa espécie de varanda sobre o vale estava a pista da dita discoteca. Duvido que alguns de vocês conseguissem ouvir e ainda menos dançar as músicas que passaram, são daquelas que não me lembro de ouvir aí, mas são músicas que já fazem todo o sentido aqui… e por isso estive a noite toda a dançar até já não sentir mais as pernas… já não dançava com tanto com gosto, tanta vontade, tanto à vontade como o fiz nesta noite… sentia-me entre amigos, sentia-me muito bem, sem inibições e sem problemas por ser das poucas (ou mesmo a única) cara nova que por ali andava… enfim… só posso dizer que adorei.
Mas como tudo o que é bom acaba depressa, tivemos que regressar (pois, mais uma vez, já era tarde), metemos o pé no caminho, mais uma vez sem luz, e com um luar ao melhor estilo Lua-Nova… iam uns tipos à nossa frente com uma lanternita que iluminava pouco mais de um metro de estrada, mas foi o suficiente para detectar o ser mais temível desta ilha, a centopeia… aqui não há cobras e que eu saiba também não há escorpiões nem aranhas venenosas, mas existem montes de centopeias. O bichinho com que nos cruzámos lutou ferozmente até ao fim, contra as inúmeras pisadelas que o tentavam acertar. Aquela coisa era enorme, tinha à vontade uns 15 centímetros de comprimento para uns 3 ou 4 de largura, tem umas patitas que metem respeito e umas “garras” venenosas numa das extremidades do seu corpo de insecto… é medonho… principalmente se pensarmos que se formos picados a reacção do nosso corpo ao veneno não é melhor… não morremos, nada disso, mas segundo me disseram também não se passa lá muito bem depois de uma “dentadinha” do dito.
Mas passado este momento de susto acelerámos o passo e eu rezei para não me cruzar com mais nenhum neste caminho…
Finalmente chegámos ao aconchego do lar… a cama já chamava por mim à horas, e quando me deitei adormeci quase de imediato, num sono profundo, que só o sol que batia na janela deixada aberta, não me deixou continuar…
Mas voltando ao terceiro dia em Sto Antão… depois de dormir cerca de 3 horas (nem sei se chegou a tanto), lá me arrastei para fora da cama, e ainda em camisa de dormir saí do quarto para ir tomar o refrescante banho matinal. Mal saí do quarto cruzei-me com 3 caras desconhecidas… deviam ser da família que me acolhia, mas eu ainda não tinha sido apresentada. Ainda mal tinha conseguido emitir um “Bom dia” quando me puseram uma toalha nas mãos e me disseram para a seguir ao banho ir à cozinha tomar o pequeno-almoço. Como eu não gosto de contrariar, muito menos de manhã, e como a fome já era muita, lá segui as instruções. Mal abri a torneira da banheira senti-me recuar aos meus tempos de infância na Serra da Estrela, não só por o Eito estar localizado no meio da Ribeira do Paúl e por isso estar rodeado de montanhas verdejantes, mas também pelo silêncio e pela água gelada que me arrepiava até os ossos. Vesti-me e dirigi-me de mansinho à cozinha onde finalmente fui apresentada a toda a família e a todos os empregados que mantêm esta casa enorme a funcionar. Fui muito bem recebida, e a minha estadia ali foi encarada com uma naturalidade que eu não esperava encontrar. Sentei-me à mesa do pequeno-almoço, e devo dizer que agora sim, sei qual é o significado real de pequeno-almoço, como o nome indica é um almoço pequeno, e para este clima e para me sentir bem, tem mesmo de ser assim. A mesa estava mais do que recheada de coisas deliciosas… era um verdadeiro banquete, e seria assim todos os dias da minha estadia, porque é assim que normalmente se come por aqui. Digo-vos que nem sei como não engordei… imaginem só comer cachupa guisada com peixe frito, beber café com leite (acabadinho de tirar da vaca) e ainda comer uma belíssima papaia acabada de tirar da árvore… hum… melhor que isto é impossível. Já que estou a falar de comida posso também dizer-vos em que consistem as restantes refeições do dia: ao almoço na mesa tem-se sempre cachupa rica feita na lenha, a melhor que comi até hoje, e são servidos ainda outros pratos para quem quiser variar; ao jantar uma canja bem mais recheada que a canja de Portugal e que se tempera com malagueta… divinal…
Mas continuando com a história desse dia… passámos a manhã toda a preguiçar, à sombra de uma árvore perto do curral, onde podia estar o dia todo a beber Sagres geladinha e ponche de mel (do que melhor que já bebi… acho que já vos tinha dito isto, mas não me canso de repetir…) e a observar bem de perto a Altiva e a Naomi, duas éguas lindíssimas, que não me cansei de mimar. Como era domingo e como há muito pouco para se fazer aqui, alguns residentes desta localidade juntaram-se quase à porta da casa onde fiquei para participar numa competição de jogos tradicionais, a corrida de sacos com alguns espalhanços à mistura, a corrida com uma colher na boca e um ovo nervoso na ponta, que acabou numa autêntica gemada… seguiu-se música, entrega de prémios e muita animação… Mais uma vez lembrei-me de Manteigas (na Serra da Estrela), das minhas brincadeiras e das coisas que os meninos de cidade nunca vão perceber como sabem bem…
Da parte da tarde fomos à boleia numa “Hiace” para o Figueiral… é um sítio que nem sequer vos consigo explicar… é no meio do vale, é verde, muito verde, tem montes de plantações por todo o lado em socalcos perfeitamente talhados nas encostas, tem levadas de água e tanques, onde tomámos banho ao anoitecer… O caminho que fizemos (parte a pé, entre rochas e no leito de um pequeno riacho) foi às escuras, com alguns tropeções à mistura, e bicharada por todo o lado…
Chegados ao Eito, não havia luz… mais tarde percebi que já é habitual porque a Electra não tem feito manutenção dos equipamentos de produção de energia… Aqui já toda a gente se acomodou a ter luz durante apenas algumas horas do dia, mas eu fiquei tão revoltada que só me apetecia fazer queixa da empresa onde trabalho…Como não o posso fazer, decidi passar a mensagem às mais altas instâncias da empresa, passando uma mensagem de preocupação da população e mostrando que situações destas só podem influenciar negativamente a imagem da empresa… se isto alguma vez dará frutos??? Já não estarei cá para ver…
Depois de jantar cedo metemo-nos a caminho pela estrada escura na esperança que alguém nos desse boleia até ao local da festa. Um “aluguer” parou e apesar de estar cheio, ainda nos conseguimos encaixar lá dentro. À medida que ia andando só pensava como teria sido quase impossível para mim fazer aquele percurso enorme a pé às escuras… Finalmente chegámos… a festa era numa discoteca muito pouco convencional. Entrávamos para um pátio onde estavam uns matraquilhos e a entrada para uma mercearia (sim, mercearia, leram bem, a mercearia servia de bar…), e numa espécie de varanda sobre o vale estava a pista da dita discoteca. Duvido que alguns de vocês conseguissem ouvir e ainda menos dançar as músicas que passaram, são daquelas que não me lembro de ouvir aí, mas são músicas que já fazem todo o sentido aqui… e por isso estive a noite toda a dançar até já não sentir mais as pernas… já não dançava com tanto com gosto, tanta vontade, tanto à vontade como o fiz nesta noite… sentia-me entre amigos, sentia-me muito bem, sem inibições e sem problemas por ser das poucas (ou mesmo a única) cara nova que por ali andava… enfim… só posso dizer que adorei.
Mas como tudo o que é bom acaba depressa, tivemos que regressar (pois, mais uma vez, já era tarde), metemos o pé no caminho, mais uma vez sem luz, e com um luar ao melhor estilo Lua-Nova… iam uns tipos à nossa frente com uma lanternita que iluminava pouco mais de um metro de estrada, mas foi o suficiente para detectar o ser mais temível desta ilha, a centopeia… aqui não há cobras e que eu saiba também não há escorpiões nem aranhas venenosas, mas existem montes de centopeias. O bichinho com que nos cruzámos lutou ferozmente até ao fim, contra as inúmeras pisadelas que o tentavam acertar. Aquela coisa era enorme, tinha à vontade uns 15 centímetros de comprimento para uns 3 ou 4 de largura, tem umas patitas que metem respeito e umas “garras” venenosas numa das extremidades do seu corpo de insecto… é medonho… principalmente se pensarmos que se formos picados a reacção do nosso corpo ao veneno não é melhor… não morremos, nada disso, mas segundo me disseram também não se passa lá muito bem depois de uma “dentadinha” do dito.
Mas passado este momento de susto acelerámos o passo e eu rezei para não me cruzar com mais nenhum neste caminho…
Finalmente chegámos ao aconchego do lar… a cama já chamava por mim à horas, e quando me deitei adormeci quase de imediato, num sono profundo, que só o sol que batia na janela deixada aberta, não me deixou continuar…
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