Este devia ser o dia em que depois dum rápido pequeno-almoço desceríamos o vulcão para regressar à civilização, vulgo cidade da Praia na ilha de Santiago. Mas como em CV nunca se pode ter nada como certo, as coisas não correram bem assim. Ao longo destes meses habituei-me a não programar nada com muita convicção ou antecedência e a não entrar em stress sempre que ocorressem atrasos, mas neste dia tive mesmo que testar a minha paciência e verificar se tinha efectivamente aprendido a ser uma pessoa descontraída…
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Levantámo-nos por volta das 7 horas da manhã o que não é muito cedo para Cabo Verde, mas é muito cedo quando estamos num sítio frio… levantei-me cheia de energia e convencida de que seria capaz de tomar um duche, tinha metido na cabeça que a água nunca poderia parecer-me mais fria do que a água da serra da Estrela, mas depois de me atirar para baixo do chuveiro, percebi que tinha sido uma má ideia… o duche não passou de um conjunto de salpicos gelados sobre o corpo ainda semi-adormecido, e para completar uns guinchos de dor. Vesti o roupão branco, estilo hotel de 5 estrelas, e voltei a correr para o quarto onde me vesti com camadas de roupa que iria tirar ao longo da descida.
Levantámo-nos por volta das 7 horas da manhã o que não é muito cedo para Cabo Verde, mas é muito cedo quando estamos num sítio frio… levantei-me cheia de energia e convencida de que seria capaz de tomar um duche, tinha metido na cabeça que a água nunca poderia parecer-me mais fria do que a água da serra da Estrela, mas depois de me atirar para baixo do chuveiro, percebi que tinha sido uma má ideia… o duche não passou de um conjunto de salpicos gelados sobre o corpo ainda semi-adormecido, e para completar uns guinchos de dor. Vesti o roupão branco, estilo hotel de 5 estrelas, e voltei a correr para o quarto onde me vesti com camadas de roupa que iria tirar ao longo da descida.
Mais uma vez esperava-nos uma magnífica refeição, desta vez com direito a uma cachupa guisada especialmente para mim (favor especial das cozinheiras que a trouxeram de casa).
Depois de reconfortadas, despedimo-nos de destes novos amigos que fizemos (empregados, dono, hóspedes e guias), e entrámos na pick-up do Pierre que nos levaria a S. Filipe, lá bem em baixo.
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Durante o caminho a conversa passou pela origem das pessoas de Chã das Caldeiras (descendentes do Montrond), pela origem do crioulo e pelas diferenças linguísticas de ilha para ilha, e teve que acabar com as histórias fantásticas das famílias gigantes à melhor moda Cabo-verdiana (uma montanha de filhos de mães e pais diferentes). Para além do Pierre tínhamos o Carlos como companhia na viagem (guia da subida ao vulcão), que acabou por nos contar as melhores histórias que conhecia, enquanto deixávamos para trás o gigante que cospe fogo.
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Após uma hora de viagem chegámos a S. Filipe, decidimos ir almoçar ao Le Bistro, mas desta vez para provar as pizas caseiras com produtos da terra (atum e queijo). Enquanto saciávamos a fome começou a chover, e não foi pouco, molhando as ruas e as escadas de saída do restaurante, escusado será dizer para quem me conhece, que eu devo ser a pessoa que mais tropeça e se desequilibra enquanto anda, e como tal não é de estranhar que tenha baptizado o chão de S. Filipe com um a fenomenal queda… Só caí de costa pelas escadas a baixo, quase rebentei com o pulso esquerdo que ainda passados 3 meses me continua a doer, e sinceramente não sei como não parti a coluna ou o pescoço ou mesmo a cabeça, tal foi a brutalidade com que embati contra as escadas molhadas… mal me levantei percebi que ainda estava viva, por isso seguimos viagem já com alguma dificuldade. Uma despedida em grande…
Após uma hora de viagem chegámos a S. Filipe, decidimos ir almoçar ao Le Bistro, mas desta vez para provar as pizas caseiras com produtos da terra (atum e queijo). Enquanto saciávamos a fome começou a chover, e não foi pouco, molhando as ruas e as escadas de saída do restaurante, escusado será dizer para quem me conhece, que eu devo ser a pessoa que mais tropeça e se desequilibra enquanto anda, e como tal não é de estranhar que tenha baptizado o chão de S. Filipe com um a fenomenal queda… Só caí de costa pelas escadas a baixo, quase rebentei com o pulso esquerdo que ainda passados 3 meses me continua a doer, e sinceramente não sei como não parti a coluna ou o pescoço ou mesmo a cabeça, tal foi a brutalidade com que embati contra as escadas molhadas… mal me levantei percebi que ainda estava viva, por isso seguimos viagem já com alguma dificuldade. Uma despedida em grande…
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Dirigimo-nos para o aeroporto com as bagagens às costas, num dos muitos táxis que circulam por estas bandas. Depois do check-in e já com os cartões de embarque na mão, aguardámos tranquilamente na sala de embarque. A pista estava vazia e o avião tão esperado tardava em chegar. A chuva que não parava de cair decidiu então mostrar quem é que manda e começou então a chover torrencialmente, como nunca esperei ver neste país. Em sussurro vão chegando aos nossos ouvidos as histórias dos locais que dizem que com chuvas assim os aviões não aterram e como a pista não é iluminada só com muita sorte ainda saíamos dali hoje.
Dirigimo-nos para o aeroporto com as bagagens às costas, num dos muitos táxis que circulam por estas bandas. Depois do check-in e já com os cartões de embarque na mão, aguardámos tranquilamente na sala de embarque. A pista estava vazia e o avião tão esperado tardava em chegar. A chuva que não parava de cair decidiu então mostrar quem é que manda e começou então a chover torrencialmente, como nunca esperei ver neste país. Em sussurro vão chegando aos nossos ouvidos as histórias dos locais que dizem que com chuvas assim os aviões não aterram e como a pista não é iluminada só com muita sorte ainda saíamos dali hoje.
Chega então o anúncio oficial: o voo está atrasado 2 horas. Aguardámos pacientemente, afinal os atrasos são muito habituais na TACV e o tempo lá fora não estava para brincadeiras. Quando chegou o segundo aviso, ainda chovia, por isso não poderiam ser boas notícias… mas em vez de atraso confirmado, desta vez era mesmo o cancelamento do voo.
Digo-vos meus amigos, a partir daquele momento comecei a sentir mesmo a insularidade… senti na pele o que é viver numa ilha. Estava presa no Fogo, uma ilha lindíssima é verdade, mas na qual já não tínhamos nada que fazer.
Depois de discutir com o chefe de escala do aeroporto lá conseguimos fazer uns telefonemas para a Praia a avisar do sucedido e a cancelar o alojamento que o Emanuel tão prestável tinha ficado de tratar para nós. Com tanto protesto conseguimos também que nos colocassem numa pensão para passar a noite sem pagar – Pensão Blue Sky, cujo proprietário é o próprio chefe de escala… está tudo em família.
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Depois de discutir com o chefe de escala do aeroporto lá conseguimos fazer uns telefonemas para a Praia a avisar do sucedido e a cancelar o alojamento que o Emanuel tão prestável tinha ficado de tratar para nós. Com tanto protesto conseguimos também que nos colocassem numa pensão para passar a noite sem pagar – Pensão Blue Sky, cujo proprietário é o próprio chefe de escala… está tudo em família.
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De regresso a S. Filipe, mais uma vez, lá vagueámos pelas ruas já nossas conhecidas, ora para cima ora para baixo, a pensar o que poderíamos ainda fazer. Depois de comprar um bloco de desenho, uns lápis de cera e umas barras de plasticina para nos entretermos, dirigimo-nos ao famoso SeaFood, o tal com vista para o cemitério, para passar o resto da tarde. Já sem chuva, e com o sol ainda a brilhar (afinal sempre poderíamos levantar voo) sentámo-nos numa mesa e começámos a fazer aquilo que não fazíamos à anos… descansar.
Bebíamos um sumo de goiaba daqueles deliciosos que vêm do Brasil (marca: Vale ou Mais), desenhávamos nas folhas do caderno da escola e fazíamos figuras em plasticina. Já não me lembrava da última vez em que estive parada a fazer coisas que não interessam para nada nem para ninguém… foi estranho, mas soube muito bem.
Bebíamos um sumo de goiaba daqueles deliciosos que vêm do Brasil (marca: Vale ou Mais), desenhávamos nas folhas do caderno da escola e fazíamos figuras em plasticina. Já não me lembrava da última vez em que estive parada a fazer coisas que não interessam para nada nem para ninguém… foi estranho, mas soube muito bem.
A plasticina transformou-se no arquipélago de Cabo Verde a uma escala reduzidíssima, e ainda em dois crioulos um do sotavento e outra do barlavento que viajavam no avião miniatura que nos havia faltado nessa tarde.
Entretanto chegou o Carlos (o tal guia do vulcão que tinha descido connosco), trazia na mala um tabuleiro de xadrez, e desafiou-me para jogar. Já não jogava desde… já nem me lembro, acho que a última vez ainda foi em Moçambique, terá sido em 1992? Já lá vão 13 anos… e isso revelou-se no jogo… que não me correu nada bem. Mas não me importei… soube-me bem jogar, soube-me bem aqueles momentos, estar ali sem stress, e sem pressão para conquistar algo… estava só a passar o tempo num sítio calmo…
Sem me levantar da cadeira pedimos uma garoupa grelhada para jantar… deve ser o meu peixe preferido, do qual comi praticamente todas as semanas sem me enjoar. Depois de uma tarde que parecia infindável, a lua apareceu para mostrar que já eram horas de descansar… afinal agora parecia cedo demais para esta parte da viagem acabar…
Entretanto chegou o Carlos (o tal guia do vulcão que tinha descido connosco), trazia na mala um tabuleiro de xadrez, e desafiou-me para jogar. Já não jogava desde… já nem me lembro, acho que a última vez ainda foi em Moçambique, terá sido em 1992? Já lá vão 13 anos… e isso revelou-se no jogo… que não me correu nada bem. Mas não me importei… soube-me bem jogar, soube-me bem aqueles momentos, estar ali sem stress, e sem pressão para conquistar algo… estava só a passar o tempo num sítio calmo…
Sem me levantar da cadeira pedimos uma garoupa grelhada para jantar… deve ser o meu peixe preferido, do qual comi praticamente todas as semanas sem me enjoar. Depois de uma tarde que parecia infindável, a lua apareceu para mostrar que já eram horas de descansar… afinal agora parecia cedo demais para esta parte da viagem acabar…
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Mas ainda havia uma surpresa por revelar. O Carlos, discretamente, aproveitando um momento em que a minha mãe e a minha irmã não estavam por perto, decidiu revelar o motivo da sua vinda para S. Filipe nesse dia… Tinha-se apaixonado por mim, e queria pedir-me para pensar em ir morar com ele… Eu nem estava a acreditar no que ouvia, mas a sinceridade da sua voz e o brilho dos seus olhos, fizeram-me acreditar em cada palavra desta declaração de amor… Foi um momento lindíssimo, e ficará para sempre no meu coração.
Mas ainda havia uma surpresa por revelar. O Carlos, discretamente, aproveitando um momento em que a minha mãe e a minha irmã não estavam por perto, decidiu revelar o motivo da sua vinda para S. Filipe nesse dia… Tinha-se apaixonado por mim, e queria pedir-me para pensar em ir morar com ele… Eu nem estava a acreditar no que ouvia, mas a sinceridade da sua voz e o brilho dos seus olhos, fizeram-me acreditar em cada palavra desta declaração de amor… Foi um momento lindíssimo, e ficará para sempre no meu coração.
Se há uma coisa em que o povo cabo-verdiano me surpreendeu foi na pureza dos seus actos e sentimentos… na generalidade não fazem jogos, e são honestos, e por isso tocam fundo no coração.
Claro que a proposta do Carlos era linda, mas era uma proposta que eu nunca iria aceitar, mas a forma como se revelou nesta conversa fez com que ficasse marcado na história da minha vida em Cabo Verde, e será sempre um amigo que vou prezar.
E já que falo de ti Carlos, espero sinceramente que já estejas melhor e que consigas voltar ao trabalho que adoras e a viajar como estavas a planear.