quarta-feira, janeiro 07, 2009

Uma aventura na alfândega

8h da manhã cheia de energia e com o pequeno-almoço tomado, sigo para o terminal de carga do aeroporto para levantar as minhas 4 malas que totalizavam 100kg.
Chego com os papéis na mão, dirijo-me à primeira pessoa que estava com ar de guarda do lugar sentado num banco e ele aponta para a porta do lado. Aqui dizem-me para ir ao portão do outro lado ao armazém, aqui no guiché da carga, olham para os papéis sem sequer dizerem bom dia e dizem para ir ao balcão da alfândega, e finalmente encontramos alguém que nos explica minimamente o que se vai passar. Então primeiro tem de escrever um requerimento, comprar uma folha, preencher a folha, tirar fotocópia do passaporte, anexar ao papel que trouxe de Portugal e ao outro que me entregaram no hotel, e entregar tudo isto aqui mesmo. OK, percebido. Faço isto tudo e (atenção a esta parte) no requerimento escrevo qualquer coisa do género: "venho respeitosamente requerer que V.Excelência se digne autorizar o levantamento da minha bagagem pessoal isento de formalidades de despacho". Paguei 299 meticais e julguei que a parte isenta de formalidades de despacho teria muito significado, mas como percebi mais tarde estava redondamente enganada, ora vejamos.
Entreguei a papelada toda na 1ª porta à direita para o Sr da 1ª secretária assinar e registar no livro grande, depois fui à 2ª porta à direita falei com a 3ª senhora ao balcão, carimbou 3 folhas das muitas do meu molho e disse para ir lá para fora "apanhar ar durante meia hora". Segui as ordens que me eram dadas, fui para o carro apanhar ar condicionado porque às 10h da manhã (sim com isto já eram 10h da manhã) a temperatura já tinha subido para os 35ºC.
Meia hora depois voltei, a senhora disse-me para ir ao 1º sítio onde tinha feito o requerimento, lá fui, cheguei lá peguei nos papéis preencheram uns rabiscos num livro pequeno e disseram-me que podia ir ao armazém buscar as malas para serem revistadas. Revistadas? Todas? "Sim, o chefe mandou revistar", pensei cá para mim, trago 4 míseras malas com roupa usada, barbatas de mergulho, e equipamento de equitação, descriminei ponto por ponto tudo o que trazia em 2 folhas A4 e agora ainda querem ver as malas todas? e ao meu lado vem montes de importadores com caixotes em paletes, que sabe-se lá o que trazem, enchem-se camiões com eles e ninguém abre sequer uma caixa... ora bolas... isto está mal... deve ser por ser turista... devem achar que venho para cá vender a minha roupa. Mas adiante.
Toca a rasgar a plastificação de 5€/mala, abrir os cadeados, o revisor pede para afastar a toalha de praia, o casaco, as barbatanas... pergunta se é tudo usado, digo que sim, pergunta quanto tempo vou ficar cá, ao que respondo que tenciono ficar cá a viver. Afinal era esta a resposta que faltava, deve ter-se feito luz, "pode fechar, então seja bem vinda, espero que goste de ficar por cá." Obrigada digo eu. Mas isto ainda não acabou por aqui.
A informação segue para o chefe, o chefe demora demora demora, vou fazer uma espera para junto da 3ª senhora do balcão, lá vem o meu processo, são 11h35, os serviços fecham às 12h para o almoço... aiiii que vai ser apertado. Corro para a 1ª porta do lado direito, o senhor da 2ª secretária assina e carimba mais 3 das minhas muitas folhas, corro para o armazém e já suo em bica, vou finalmente ao balcão da carga, fazem-se as contas e tenho que pagar o manuseamento da carga, mais 1.170 meticais, desembolsa no balcão do lado que aqui cada coisa é feita no seu sítio. Paguei e carimbei, vou ao senhor que tinha ido buscar as minhas malas, ele assina, eu assino e ponho a data, vou ao revisor ele carimba e assina, deseja mais uma vez bom dia, e sigo para o guiché de carga, entrego o papel, pego nas malas e vou a sair. Já com um pé de fora sou parada mais um Sr desta vez da taxa de carga diz-me que ainda não paguei, "ohhh meu deus", lá faz umas contas manhosas, são 11:55h, estou em desespero... são mais 200 meticais. Bolas. Nem acredito.
Saio do armazém ponho as malas no carro, finalmente acabou esta saga. E isto tudo isento de formalidades... nem quero imaginar se houvesse formalidades...
O motorista diz-me que se tivesse desembolsado mais 500 já estaria com tudo resolvido a meio da manhã, mas explico-lhe que isso vai contra os meus princípios, não pago mais pelo trabalho que cada um tem de fazer. Custou-me, penei, mas passei mais este teste, um teste de paciência, calma, de não ceder ao facilitismo e pequena corrupção, e sempre com um sorriso nos lábios.
Cheguei ao hotel e tive que tomar um banho gelado, à tarde ia trabalhar no duro, e não podia dar-me ao luxo de estar cansada. Felizmente o sol e o calor têm em mim um efeito revigorante, e a seguir ao almoço a energia e o espírito estavam outra vez em alta.

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