Quando se chega a um novo país para trabalhar durante nove meses não se pode pensar em viver num hotel. Durante a primeira semana senti na pele as várias razões que me fazem ir para um hotel apenas durante as férias. O hotel só tem um quarto e uma casa de banho, não tem cozinha nem sala para receber as visitas. O hotel está bem localizado, até demais para a época do carnaval. Durante esta semana todos os dias há barulheira na rua e é impossível dormir entre as 8 da noite e as 5 da manhã, o que para quem tem que trabalhar é muito mau.
Como o meu sono já estava a precisar de ser contínuo, andei a semana toda à procura de casa, o que é uma seca... principalmente para quem tem pressa e vai viver para um novo país. Aqui as pessoas assumem que se és branco, então és turista e portanto tens dinheiro, se não és turista é porque estás a trabalhar cá e portanto é a empresa que te paga o alojamento... Ora no meu caso não podiam estar mais enganados, não sou turista e a empresa não me paga o alojamento, dá-me uma bolsa que eu tenho que gerir da melhor forma... Só que as pessoas aqui não querem compreender isso e então querem alugar-me casa pelo dobro do preço a que alugaria a um caboverdiano. Para além do preço das casas, ainda há outra questão... estamos numa ilha, mas nem por isso há casas com vista para a baía. São raras as casas que têm vista, e normalmente já estão ocupadas, Bolas!!! e eu que queria tanto uma casinha com vista...
Nos curtos períodos que não andava à procura de casa, fui conhecendo as pessoas da ELECTRA e fui conhecendo um pouco mais desta cidade. Andei a pé todos os dias de uma ponta à outra da cidade, mas como a cidade é pequenina nunca demorava muito tempo nestas voltas e rápidamente já estava na Lajinha (a praia daqui da cidade) ou na Praça Nova (onde todas as noites os locais vão fazer grogue). E perguntam vocês "o que é fazer grogue?", primeiro que tudo eu já provei o famoso grogue, e groque é uma espécie de aguardente fortíssima que eles preparam cá de forma caseira, e que é tão alcoólico que evapora assim que entra em contacto com a boca de quem o prova. O grogue é feito numa espécie de prensa que se tem de fazer girar e que normalmente é empurrada ou por homens ou por animais, que vão andando à volta. Assim, em analogia com o processo de fabrico do grogue as pessoas saiem á pracinha para ir fazer grogue, ou seja para andarem às voltas da Praça Nova. E enquanto uns passeiam e se mostram a quem por ali anda, os outros estão sentados a apreciar as vistas...
Sem comentários:
Enviar um comentário