quinta-feira, maio 20, 2010

Chizavane - a viagem

No fim-de-semana a seguir ao meu regresso, decidi que ia por em prática a minha resolução de férias: viver, viver cada instante, viver moçambique ou onde estiver.
Assim juntei-me a uns 15 loucos, tão loucos como eu, e rumámos a Chizavane. Uma terrinha para lá de uma picada, algures entre o Xai-Xai e Chidenguele, e que nem aparece no mapa, nem tem seta a indicar o caminho.
Saí daqui com o Rui e o David (um português e um americano), depois do trabalho na sexta-feira. As malas estavam prontas, foi só sair do trabalho e correr para o jipe que nos levou por essa estrada fora. A saída foi pelas 17h45, já noite, com muito trânsito para sair da cidade rumo ao fim-de-semana. Comi uma pizza já em viagem, e já na estrada nacional 1 a conversa fluía como se já nos conhecêssemos há imenso tempo. Estávamos todos tão animados e envolvidos na energia positiva da conversa de fim-de-semana, que nos esquecemos de olhar para a estrada para ver se descobríamos a picada que nos levaria ao lodge. Depois do Xai-Xai era suposto estarmos atentos, e até estávamos, mas não vimos nenhuma indicação e decidimos parar num qualquer barraco de onde vinha música e à volta do qual uma imensidão de gente dançava desenfreadamente ao som de Bob Marley no meio do mato. Parámos, bebemos uma bazuca 2M (cerveja em garrafa grande), dançámos e no meio de muita poeirada o Rui deu uma lição de dança tribal africana que era de chorar a rir. Crianças e jovens juntaram-se à nossa volta e procuravam imitar os movimentos estranhos que aquele mulungo fazia. Saímos de lá em total euforia, o David que não queria parar e nem sequer sair do carro, parecia agora transformado com um sorriso de orelha a orelha, quase levado em braços pelos miúdos que o rodeavam. Antes de seguirmos viagem, largámos uma bola de futebol no meio da confusão de miudagem, e era só ver um monde pirralhos a correr que nem loucos para apanhar o precioso objecto, que acredito ainda hoje está a fazer as delícias dos putos da zona.
Metemo-nos no carro, e continuámos sem ver a picada, começo a ver luzes lá ao fundo e reconheço Chidenguele... nem queria acreditar, já tínhamos passado em muito o sítio para onde íamos. Ligámos aos que já tinham chegado ao lodge e a risota do outro lado do telefone confirmavam que estávamos longe, muito longe do objectivo. Voltámos para trás, mas como precisava de ir à WC, parámos numa cantina das antigas, agora reconvertida em mini-mercado e bar, com música a altos berros. Mais uma bazuca, e a procura de uma latrina (nem sequer pensei que pudesse haver mais instalações sanitárias, do que uma latrina). O empregado da cantina indicou o sítio da latrina, no meio da noite escura não via nada, dei voltas e voltas e não encontrei nada. Já em desespero, tornei-me prática, cheguei-me perto de uma árvore e num sítio onde ninguém me via, e foi ali mesmo a minha latrina improvisada.
Depois de dançar mais um bocado, apertos de mão de despedida e seguimos viagem agora para trás. Andámos, andámos e passados 50 km vimos umas luzes, havia gente à beira da estrada (como é habitual por aqui) e perguntámos a uns que também estavam de viagem onde era Chizavane, a resposta não podia ser pior... era outra vez para trás... passámos novamente a cortada... meia volta e pumba, caímos num buraco gigante resultado das obras que se estão a fazer naquela estrada. Do meio do nada surgiram dezenas de pessoas que rodearam o carro e começaram a ver o que podiam fazer. Eu saí do carro e pus-me com mais uma miúda a fazer sinais a um camião que se aproximava a grande velocidade. O David, sem falar uma palavra de português, saiu do carro e coordenou aquele maralhal de gente para pegarem no carro em braços e tirá-lo dali. Conseguimos e não partimos nada, nem sei como. Entrámos no carro e o David despedia-se de todos com abraços a fazer uma grande festa. Arrancámos mais uma vez rumo a norte. Por esta altura já íamos muito muito devagar e de olhos bem abertos para não falhar o caminho. Passados uns largos minutos fomos ultrapassados pela carrinha que nos tinha dado a última indicação do caminho e fizeram-nos sinal para abrandar. Quando estávamos ao lado deles, o condutor diz-nos "acho que o vosso caminho era ali atrás", eu nem queria acreditar, falhámos outra vez o caminho... mais meia volta e vimos uma picada mínima ao lado da placa que diz Distrito de Manjacaze. Metemos por ali e sempre em terra batida fomos desbravando mato. Estava tudo escuro como breu, quando chegámos a uma bifurcação que dizia Paradise View para a esquerda e Restaurante ... para a direita, virámos para Paradise View onde iríamos passar o fim-de-semana. Passados alguns metros a picada acabava em lado nenhum, voltámos para trás e nada de encontrar outro caminho, seguimos para a placa que dizia Restaurante e por fim metemo-nos pela praia até chegarmos ao nosso lodge. Depois de 531 voltas dentro do lodge lá encontrámos a casa 309, fomos os últimos a chegar... por volta da meia-noite. Mesmo os outros que tinham saído de Maputo às 9h da noite tinham chegado antes de nós... Mas a nossa viagem foi uma aventura a cada momento.
Depois de uns loucos terem dados uns mergulhos na piscina, jantámos o que tinha sobrado e ficámos na varanda cá fora a contar as aventuras, a relaxar e a iniciar em grande este fim-de-semana.

2 comentários:

LC disse...

LOUCOS??? Acho que já tivemos essa conversa! :)

Anónimo disse...

Estou pela primeira vez em Maputo e adorei este teu blog. Muitos parabéns, pela paixão e simpliciadade comque escreves!