No fim-de-semana a seguir ao meu regresso, decidi que ia por em prática a minha resolução de férias: viver, viver cada instante, viver moçambique ou onde estiver.
Assim juntei-me a uns 15 loucos, tão loucos como eu, e rumámos a Chizavane. Uma terrinha para lá de uma picada, algures entre o Xai-Xai e Chidenguele, e que nem aparece no mapa, nem tem seta a indicar o caminho.
Saí daqui com o Rui e o David (um português e um americano), depois do trabalho na sexta-feira. As malas estavam prontas, foi só sair do trabalho e correr para o jipe que nos levou por essa estrada fora. A saída foi pelas 17h45, já noite, com muito trânsito para sair da cidade rumo ao fim-de-semana. Comi uma pizza já em viagem, e já na estrada nacional 1 a conversa fluía como se já nos conhecêssemos há imenso tempo. Estávamos todos tão animados e envolvidos na energia positiva da conversa de fim-de-semana, que nos esquecemos de olhar para a estrada para ver se descobríamos a picada que nos levaria ao lodge. Depois do Xai-Xai era suposto estarmos atentos, e até estávamos, mas não vimos nenhuma indicação e decidimos parar num qualquer barraco de onde vinha música e à volta do qual uma imensidão de gente dançava desenfreadamente ao som de Bob Marley no meio do mato. Parámos, bebemos uma bazuca 2M (cerveja em garrafa grande), dançámos e no meio de muita poeirada o Rui deu uma lição de dança tribal africana que era de chorar a rir. Crianças e jovens juntaram-se à nossa volta e procuravam imitar os movimentos estranhos que aquele mulungo fazia. Saímos de lá em total euforia, o David que não queria parar e nem sequer sair do carro, parecia agora transformado com um sorriso de orelha a orelha, quase levado em braços pelos miúdos que o rodeavam. Antes de seguirmos viagem, largámos uma bola de futebol no meio da confusão de miudagem, e era só ver um monde pirralhos a correr que nem loucos para apanhar o precioso objecto, que acredito ainda hoje está a fazer as delícias dos putos da zona.
Metemo-nos no carro, e continuámos sem ver a picada, começo a ver luzes lá ao fundo e reconheço Chidenguele... nem queria acreditar, já tínhamos passado em muito o sítio para onde íamos. Ligámos aos que já tinham chegado ao lodge e a risota do outro lado do telefone confirmavam que estávamos longe, muito longe do objectivo. Voltámos para trás, mas como precisava de ir à WC, parámos numa cantina das antigas, agora reconvertida em mini-mercado e bar, com música a altos berros. Mais uma bazuca, e a procura de uma latrina (nem sequer pensei que pudesse haver mais instalações sanitárias, do que uma latrina). O empregado da cantina indicou o sítio da latrina, no meio da noite escura não via nada, dei voltas e voltas e não encontrei nada. Já em desespero, tornei-me prática, cheguei-me perto de uma árvore e num sítio onde ninguém me via, e foi ali mesmo a minha latrina improvisada.
Depois de dançar mais um bocado, apertos de mão de despedida e seguimos viagem agora para trás. Andámos, andámos e passados 50 km vimos umas luzes, havia gente à beira da estrada (como é habitual por aqui) e perguntámos a uns que também estavam de viagem onde era Chizavane, a resposta não podia ser pior... era outra vez para trás... passámos novamente a cortada... meia volta e pumba, caímos num buraco gigante resultado das obras que se estão a fazer naquela estrada. Do meio do nada surgiram dezenas de pessoas que rodearam o carro e começaram a ver o que podiam fazer. Eu saí do carro e pus-me com mais uma miúda a fazer sinais a um camião que se aproximava a grande velocidade. O David, sem falar uma palavra de português, saiu do carro e coordenou aquele maralhal de gente para pegarem no carro em braços e tirá-lo dali. Conseguimos e não partimos nada, nem sei como. Entrámos no carro e o David despedia-se de todos com abraços a fazer uma grande festa. Arrancámos mais uma vez rumo a norte. Por esta altura já íamos muito muito devagar e de olhos bem abertos para não falhar o caminho. Passados uns largos minutos fomos ultrapassados pela carrinha que nos tinha dado a última indicação do caminho e fizeram-nos sinal para abrandar. Quando estávamos ao lado deles, o condutor diz-nos "acho que o vosso caminho era ali atrás", eu nem queria acreditar, falhámos outra vez o caminho... mais meia volta e vimos uma picada mínima ao lado da placa que diz Distrito de Manjacaze. Metemos por ali e sempre em terra batida fomos desbravando mato. Estava tudo escuro como breu, quando chegámos a uma bifurcação que dizia Paradise View para a esquerda e Restaurante ... para a direita, virámos para Paradise View onde iríamos passar o fim-de-semana. Passados alguns metros a picada acabava em lado nenhum, voltámos para trás e nada de encontrar outro caminho, seguimos para a placa que dizia Restaurante e por fim metemo-nos pela praia até chegarmos ao nosso lodge. Depois de 531 voltas dentro do lodge lá encontrámos a casa 309, fomos os últimos a chegar... por volta da meia-noite. Mesmo os outros que tinham saído de Maputo às 9h da noite tinham chegado antes de nós... Mas a nossa viagem foi uma aventura a cada momento.
Depois de uns loucos terem dados uns mergulhos na piscina, jantámos o que tinha sobrado e ficámos na varanda cá fora a contar as aventuras, a relaxar e a iniciar em grande este fim-de-semana.
quinta-feira, maio 20, 2010
quarta-feira, maio 12, 2010
3 meses de altos e baixos - ou mais...
Desde o último post (já lá vai muito tempo) muita coisa se passou à minha volta e comigo. Em Fevereiro, trabalhei muito e dormi pouco. Em Março trabalhei muito e dormi pouco, veio cá a comitiva do Primeiro Ministro, muitos eventos sociais e de trabalho, seminários, recepções, inaugurações de exposições, concerto da Mariza, reuniões de trabalho, etc e tal. Em Abril 2 semanas de muito trabalho e pouco descanso, como já vem sendo hábito, e na segunda quinzena, embarque para as tão merecidas férias e resgate de horas de sono. Andava por aqui por Maputo que nem louca, a dormir uma média (quase máxima) de 4 horas por noite, muitas vezes interrompidas com telefonemas cheios de problemas de trabalho... foi desgastante, até porque este ritmo começou assim em Dezembro do ano passado.
Mas antes de chegarmos às férias, tenho que dizer que cheguei ao ponto mais baixo (em termos físicos) nos dias que antecederam a viagem. Fiquei doente com uma otite, constipação que se transformou em gripe, e a rinite alérgica atacou em força, e como não foi nada de ligeiro, fiquei 2 semanas a antibiótico e mais drogas afins, e 1 semaninha inteira de cama. Médico atrás de médico e farmácias, eram os únicos motivos para sair de casa. No fim-de-semana anterior à ida para Portugal fui tentar recuperar forças para o meu spot: Kruger Park. Domingo de manhã sentia-me bem e por isso fiz-me à estrada. Bichos, muitos bichos, e só perto da meia-noite regressei a casa. Desta vez, e porque já estão todos fartos, não mostro fotos, até porque deixei a máquina em casa e dediquei-me a fazer um filme com a minha mini-máquina de filmar. Logo que consiga fazer a edição vou tentar passar para aqui.
Dia 16 de Abril embarquei para Portugal, cheguei à noite depois de 12h de viagem (com paragem de escala). Cheguei, liguei o telemóvel e ainda antes de sair do avisão, rebentou a maior crise de trabalho que já tive. Quando cheguei ao pé da minha mãe e da minha prima/afilhada, já estava totalmente esgotada e sentia-me de alguma forma derrotada. Foi a primeira vez que me senti assim, foi o acumular de cansaço que me derrubou, mas não por muito tempo.
Durante o tempo que estive em Portugal (peço desculpa não ter dito a todos, nem ter sido possível estar com todos os que queria), dormi, descansei, fiz as coisas do costume (comprar roupa, médicos e algum/muito trabalho) e também fiz as coisas que não são costume (visitei museus, comprei um quadro, caminhei). No meio de tudo o que fiz as coisas boas e que me fizeram bem foram:
- passear com a minha mãe
- almoçar com a minha avó
- festejar o aniversário da minha irmã e da minha avó
- festejar o dia da mãe
- conhecer a casa da minha irmã (e ainda mais importante, sentir-me em casa lá)
- receber uma prenda carinhosa e surpreendente da minha irmã
- jantar com os primos
- jantar com os amigos
- aquela saída à noite entre amigos
- conhecer as bébés lindas das minhas amigas
- saber que vem mais uma barriguinha a caminho
- ser convidada para ser madrinha de um grande amigo
- ficar emocionada por andar na rua, por conduzir pelas estradas, por ver a luz de Lisboa, por sentir o cheiro do Tejo, comer naqueles sítios, estar com aquelas pessoas, viver, sonhar e descansar...
Foi tudo muito bom, estava mesmo a precisar e acho que nunca vai ser demais. Custou-me regressar ao aeroporto tão cedo, mas à medida que me encaminhava para a sala de embarque, sentia que cada passo saía mais revigorada do que antes, sentia que seria possível voltar a dormir descansada, e que conseguiria controlar melhor o meu stress diário.
Embarquei com mais leveza e com a certeza de que algumas coisas teriam de mudar na minha vida, para que possa efectivamente chamar-lhe vida e não me limite a sobreviver. Essas mudanças (re)começaram em Portugal, mas agora que as ponho diariamente em prática em Moçambique, percebo que estou bem mais calma, ponderada, e principalmente mais feliz.
Com tudo isto quero acrescentar que tenho novas histórias para contar, e espero manter o ritmo das novas aventuras. Dou só uma pista: aquelas águas límpidas e quentes que me abraçaram dando as boas vindas... hum... que bom.
Mas antes de chegarmos às férias, tenho que dizer que cheguei ao ponto mais baixo (em termos físicos) nos dias que antecederam a viagem. Fiquei doente com uma otite, constipação que se transformou em gripe, e a rinite alérgica atacou em força, e como não foi nada de ligeiro, fiquei 2 semanas a antibiótico e mais drogas afins, e 1 semaninha inteira de cama. Médico atrás de médico e farmácias, eram os únicos motivos para sair de casa. No fim-de-semana anterior à ida para Portugal fui tentar recuperar forças para o meu spot: Kruger Park. Domingo de manhã sentia-me bem e por isso fiz-me à estrada. Bichos, muitos bichos, e só perto da meia-noite regressei a casa. Desta vez, e porque já estão todos fartos, não mostro fotos, até porque deixei a máquina em casa e dediquei-me a fazer um filme com a minha mini-máquina de filmar. Logo que consiga fazer a edição vou tentar passar para aqui.
Dia 16 de Abril embarquei para Portugal, cheguei à noite depois de 12h de viagem (com paragem de escala). Cheguei, liguei o telemóvel e ainda antes de sair do avisão, rebentou a maior crise de trabalho que já tive. Quando cheguei ao pé da minha mãe e da minha prima/afilhada, já estava totalmente esgotada e sentia-me de alguma forma derrotada. Foi a primeira vez que me senti assim, foi o acumular de cansaço que me derrubou, mas não por muito tempo.
Durante o tempo que estive em Portugal (peço desculpa não ter dito a todos, nem ter sido possível estar com todos os que queria), dormi, descansei, fiz as coisas do costume (comprar roupa, médicos e algum/muito trabalho) e também fiz as coisas que não são costume (visitei museus, comprei um quadro, caminhei). No meio de tudo o que fiz as coisas boas e que me fizeram bem foram:
- passear com a minha mãe
- almoçar com a minha avó
- festejar o aniversário da minha irmã e da minha avó
- festejar o dia da mãe
- conhecer a casa da minha irmã (e ainda mais importante, sentir-me em casa lá)
- receber uma prenda carinhosa e surpreendente da minha irmã
- jantar com os primos
- jantar com os amigos
- aquela saída à noite entre amigos
- conhecer as bébés lindas das minhas amigas
- saber que vem mais uma barriguinha a caminho
- ser convidada para ser madrinha de um grande amigo
- ficar emocionada por andar na rua, por conduzir pelas estradas, por ver a luz de Lisboa, por sentir o cheiro do Tejo, comer naqueles sítios, estar com aquelas pessoas, viver, sonhar e descansar...
Foi tudo muito bom, estava mesmo a precisar e acho que nunca vai ser demais. Custou-me regressar ao aeroporto tão cedo, mas à medida que me encaminhava para a sala de embarque, sentia que cada passo saía mais revigorada do que antes, sentia que seria possível voltar a dormir descansada, e que conseguiria controlar melhor o meu stress diário.
Embarquei com mais leveza e com a certeza de que algumas coisas teriam de mudar na minha vida, para que possa efectivamente chamar-lhe vida e não me limite a sobreviver. Essas mudanças (re)começaram em Portugal, mas agora que as ponho diariamente em prática em Moçambique, percebo que estou bem mais calma, ponderada, e principalmente mais feliz.
Com tudo isto quero acrescentar que tenho novas histórias para contar, e espero manter o ritmo das novas aventuras. Dou só uma pista: aquelas águas límpidas e quentes que me abraçaram dando as boas vindas... hum... que bom.
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