sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Reencontros

Mais uma semana que chega ao fim, e o tempo corre corre demasiado depressa, e eu corro o mais depressa que posso para o tentar agarrar.
Sem tempo para escrever, vivi intensamente esta semana, e agora em 5 minutos aqui vai um pequeno resumo do que fiz, e devo acrescentar, em muito boa companhia.
Na 6ª feira e no sábado fui jantar fora com os novos companheiros do programa contacto. Chegados aqui de fresco os novos contacteantes estavam cheios de energia e eu como tinha estado este mês enfiada no trabalho tinha também muita energia para gastar.
Jantámos no Mundo's num dia e no outro no Zambi, e aqui deu-se o primeiro reencontro. Um amigo de pré-adolescência, que me conhece desde os 11 anos, que conheceu os meus pais e a minha irmã, fizemos vela juntos, reencontrámo-nos em Portugal, e agora estamos finalmente os 2 novamente aqui. Em 2 ou 3 minutos pusemos uma data de conversa em dia, e em tão pouco tempo 15 anos de afastamento (mais coisa menos coisa) desapareceram. Reconhecemo-nos. "Estás bem?" "sim, muito bem" "que bom voltar a ver-te" " que bom estares aqui" "olha, lembras-te de fulano?" "este casou, o outro tem filhos, o outro está junto, o outro emigrou".... e no fim trocámos telefones, "vamos sair um dia, marcar um almoço com a malta" "sim, claro que sim".
Saída do restaurante com um sorriso nos lábios, o coração cheio de emoções, rodeada de novos amigos e a barriga a agradecer os magníficos camarões grelhados, segui para o bar que já é o meu favorito "Rua d'Arte".
E agora uma à parte para os amigos de Cabo Verde, este sítio faz-me sentir tão em casa... tão bem... parece que estou no Interarte com todos vocês a dançar ao ritmo das nossas 6ª feiras... é tão bom...
No Rua d'Arte mal entrei, uma cara curiosa e algo familiar olhou para mim fixamente, reconhecia o olhar de algum lado, mas não sabia de onde, dirigindo-se a mim perguntou-me se não o reconhecia, e assim reencontrei mais um amigo, um daqueles também de há 20 anos... um amigo que queria reencontrar desde que cheguei cá. Caí nos braços dele num abraço de anos de distância, para ver se o tempo que passou se encurtava, e bastaram algumas histórias recuperadas, algumas novas histórias de novos momentos das nossas vidas, bastaram novas partilhas, para que estes 15 anos desaparecessem num ápice, e voltássemos a sorrir com os olhares trocados da mesma forma, de quando éramos ainda jovens estudantes.
Neste dia dancei, dancei muito, e fiquei tão calada, porque me vieram à memória tantas e tantas recordações... de mim, dos meus amigos, da minha família. As saudades apertaram tanto em tão pouco tempo, olhei para as estrelas inúmeras e incontáveis vezes, para estas estrelas que me guiam e acompanham sempre, para estas estrelas que são muito mais do que estrelas para mim.
E agora para ti pai: neste dia soube que estes nossos amigos, teus e meus, quando souberam da tua partida para lá longe, para demasiado longe, puseram a bandeira do Clube Naval a meia haste. O teu clube pai, o nosso clube, onde vou e por onde passo tantas vezes para recuperar aquelas memórias que me são tão queridas, aquelas que me fazem bem.
Sinto assim, aos poucos que estou cá, sinto que saio desta dormência, deste sonho que me parecia envolver nos primeiros dias, e agora já com saudades, amigos, risadas, e aquela sensação boa do calor e do sol me abraçarem e me elevarem bem alto... agora sinto que recupero a pessoa completa que sabia ser no momento que pisasse Moçambique novamente.

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Kruger Park

A completar 1 mês de estadia em Moçambique e ainda sem ter o DIRE que me permite apresentar como residente, precisava de sair do país para renovar o visto no passaporte. A viagem à fronteira estava decidida e planeada para o fim-de-semana passado e para juntar o útil ao agradável, passei para território da vizinha África do Sul e fui re-explorar o Kruger Park, reserva natural.
Como já todos sabem, não gosto de pagar para ter facilidades de tratamento e por isso estive na fronteira do lado de Moçambique durante horas na fila a ver os outros meter o dinheiro nos bolsos dos traficantes de influências. Vezes sem conta vieram ter connosco a propor negócio, dizendo que podiam ajudar a passar rápido e que por sermos muito claros não era bom estarmos ao sol porque apanhávamos um escaldão. E os outros não têm tanto direito como nós? estava muito indignada, a sério... Iniciámos uma revolução e acabámos, pelo menos temporáriamente, com o negócio do guarda que supostamente evitava os fura-filas na entrada. Naqueles minutos em que tomámos nós o controlo da porta apoiados por uns quantos que se juntaram ao protesto, de todas as classes sociais e nacionalidades, o guarda deixou de receber uns trocos e deixaram de nos passar à frente, e finalmente conseguimos entrar. Lá dentro era uma sauna... preenche papel aqui, paga ali, mostra passaporte acolá, empurra de um lado, chega para o outro e finalmente sai.
Passamos para a terra de ninguém. Seguimos para a fronteira sul africana, aqui ninguém fura a fila, um tenta, mas é burro porque tentou à minha frente como tinha feito do lado moçambicano... ia sendo chacinado ali mesmo pela revolta popular.
Vistos os passaportes e preenchidos os papéis do carro é hora de seguir, olhamos o relógio, passam 3,5h desde que iniciámos a saga da fronteira... temos dia praticamente estragado. Prego a fundo siga para o Kruger que é quase hora de almoço e os animais devem estar todos a descansar.
Já meios desanimados achámos que não íamos ver nada, mas para meio dia de passeio no parque, durante a época da vegetação verde cerrada, o resultado não foi nada mau. E aqui estão as fotos para comprovar. No meio da savana agora verdejante e densa em plena época das chuvas, zebras e impalas comem tranquilamente à beira da estrada.
Abutres numa árvore despida. Tantos juntos num só sítio só pode significar uma coisa, aqui há uma carcaça e provávelmente ainda está por perto o grande predador.
Não falhámos, o grande rei da selva, o leão. E que grande leão, um macho adulto de grande porte, o maior que jamais vi, espetacular. Passeia-se serenamente afastando a cada passo os herbíveros que estavam nas redondezas.
Não me lembro do nome verdadeiro deste, mas para mim é um javali e não se vêm os filhotes mas estão lá, escondidos pelo capim alto.
À beira do lago dois passarinhos pernaltas arranjam a penugem.
Ao almoço os passarinhos tecelões (não tenho bem a certeza do nome) roubam-nos a comida do prato, aqui para além de enxotar as moscar tenho de enxotar pássaros.
Emergindo do lago uns olhinhos espreitam, mais à frente ergue-se mesmo uma cabeça e depois o dorso de um enorme hipopótamo, só lhe faltou mesmo abrir a bocarra enorme para a fotografia... pronto fica para a próxima, não se pode pedir tudo, não é?
À beirinha da estrada a 2 passos de mim olho para o lado e .... susto.... um elefante juvenil. Para ele sou-lhe indiferente e o carro também, continua a comer tranquilamente como se eu não existisse.
Mais à frente este já não está tão contente, abana vigorosamente as orelhas e dá 2 passos em direcção a nós. Ok amigo, percebemos a mensagem. Ficamos parados e aguardamos. Afinal eles têm uma cria ali no meio... não a consegui fotografar mas era tão mini...
Já mais calmo o elefante mantém-nos debaixo de olho enquanto o resto da família se embrenha na savana, só depois de estarem todos a salvo é que ele também segue a sua vida e nos deixa seguir o nosso caminho.
Travagem a fundo, travessia de peões mal assinalada, o que vale é que só se pode andar a 50 km/h, esta impala atravessou sem olhar. Lindo, não é?
E agora temos de esperar que acabe a macacada... uma família inteirinha de babuínos deciciu literalmente descer da árvore e vir fazer macacadas para o meio da estrada. Rebolam, saltam, brincam, catam-se, dão de mamar às crias, deitam-se no asfalto, sentam-se a olhar para nós, andam ao nosso lado e até acasalam... que pouca vergonha, já não há respeito. Ao fim de uns minutos e dos bébés do grupo terem feito as passagens todas de modelo para a fotografia, lá vão desimpedindo a estrada e a custo conseguimos passar.
Agora chegámos ao "bed & breakfast" das impalas, estas duas descansam, mas ao lado estão 3 a comer... vida de impala é difícil...
Galinha do mato. Conhecem? preta com pintinhas brancas, forma esquisita, cabeça careca azul e com crista pequena vermelha. É uma galinha com muita pinta.
Ao almoço as vistas e a companhia não podia ser melhor... lá ao fundo aqueles montinhos junto da margem do rio são uma família de hipopótamos a almoçar... hummm tá-se bem.
Entretanto surge um amigo de longa data e que tinha andado desaparecido, o Búfalo. Come umas ervinhas e depois vai a banhos, fica de molho o almoço todo e despede-se antes de seguir a sua vida.
E finalmente eu na despedida. De binóculos na mão, sentada na varanda a olhar para uma vista deslumbrante sobre a savana, o rio desliza ali em baixo e os animais passeiam aqui ao lado. Não há vedações, não há barulho, só tranquilidade. Era capaz de ficar aqui no coração de África, na África do meu coração.

Praia da Macaneta

Aproveitando um sol tímido de fim-de-semana fui à 2 semanas à praia da Macaneta. Estas são algumas das imagens do passeio, da viagem, do lugar, dos momentos. Descansei um bocado, apanhei sol e tirei as primeiras fotografias, só não dei um mergulho no mar porque... já vão ver porquê.
Aqui estão as imagens de um domingo bem passado.
A caminho encontro o famoso cabeleireiro Yur Yurica, pena estar fechado... fica para a próxima.
O nosso batelão... leva 6 jipes e muitas muitas pessoas.... não parece pois não?
Aqui estão os trabalhadores que se dedicam afincadamente a arranjar a estrada... a ver se recebem alguma moedinha... é preciso ter lata... ao fim da tarde ainda estava tudo na mesma...
Uma casa de praia tem de ter uma coleção de barcos de pesca... e cá está ela.
A praia da Macaneta - vista do lado direito, com os pescadores ao fundo.
Mais praia da Macaneta - vista do lado esquerdo sem ninguém á vista... um luxo.
O motivo porque não podia entrar na água - garrafa azul, também conhecida por caravela portuguesa. A praia estava apinhada dela e água então...
Do outro lado da duna está um jardim com árvores altas, estão as casas e está o futuro centro cultural.
Ali ao fundo a mesa do almoço... vive-se mal por aqui.... não há restaurantes apinhados de gente e com misturas de cheiros de fritos e perfumos baratos... saudades.... naaaaaa
Já no caminho de regresso passamos pela aldeia, as casas tradicionais apresentam-se em aglomerados de um e do outro lado da estrada. Palhotas redondas e quadradas, com o terreno limpo, liso e varrido à volta.
Sim meus amigos, é desta África que eu gosto.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Dia dos Heróis Moçambicanos

Celebrado hoje em Moçambique, passados 40 anos da morte de Eduardo Mondlane, aquele que é considerado o aquitecto da unidade nacional moçambicana.
Eduardo Mondlane foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Frelimo (Frente de Libertação Moçambicana), assassinado neste dia pela PIDE, numa tentativa de travar o rumo natural da história... a independência deste país.
Hoje são támbém lembrados todos os outros heróis deste país, mais conhecidos ou não do grande público, heróis nacionais como Samora Machel, Josina Machel, Filipe Samuel Samuel Magaia, entre muitos outros.

Caminhos

Quando vivia cá, entre 1989 e 1992, sair de Maputo por estrada era um sonho que muitos tinham e poucos concretizavam. Quando o faziam, a cada metro de estrada percorrida, arriscavam a sua própria vida. Os que iam e conseguiam chegar, e dos que ainda regressavam e conseguiam contar, as histórias eram terríveis, mas de sobrevivência.
Na altura não saí por essa estrada fora, mas logo depois da guerra civil ter terminado (já estavamos nós em Portugal) foram muitos os que se fizeram à estrada e finalmente sairam desta "prisão dourada" que era a cidade de Maputo.
Em 1997 voltámos cá de férias e fizémos uma viagem para norte de Maputo até Vilanculo, passando por Xai-Xai e Inhambane. Agora que voltei, as viagens sucedem-se e agora sou eu que pego no volante saio da cidade e sigo naquela estrada.
Estes são alguns dos caminhos que percorro por aqui, aqueles que antes não percorri.
Saída de Maputo, estrada larga, "chapas" por todo o lado, mais de duas faixas em cada sentido, bermas cheias de gente e mercados ambulantes que vendem de tudo um pouco.
Caminho entre Marracuene e o batelão que nos leva à praia da Macaneta. pertinho de Maputo, caminho de areia mas em muito boas condições.
Estrada entre o batelão e a praia da Macaneta, só mesmo para 4x4 e mesmo assim.... vamos a 20km/h no máximo com muitos buracos á mistura, muita lama, muita aventura. Pelo caminho cruzamo-nos com algumas almas inteligentes que fingem arranjar a estrada na esperança que algum turista lhes dê uns trocos... hilariante. Entretanto, do nada, um sinal de curva perigosa à direita... é melhor abrandar... eheheh
Estrada interminável, daquelas que se estendem por quilómetros sem ver um único carro. Aqui estamos na África do Sul, mas poderia ser em território moçambicano que temos iguais extensões de asfalto para percorrer. E eu feliz com o volante nas mãos, vidro aberto para sentir o vento quente que me bate na cara, e com o braço direito de fora a fazer ondinhas contra a corrente, tal e qual como quando era miúda... é mesmo assim que eu gosto de viajar...