Há dias em que as memórias se apoderam de nós... e hoje é um desses dias...
A notícia de que ganhei o prémio de melhor estágio da Ordem dos Engenheiros foi publicada hoje na página do programa de estágios do ICEP que me levou a Cabo Verde, e quase de imediato começaram a aparecer mails de parabéns e de apoio de várias pessoas. Há momentos na vida de uma pessoa que nos apercebemos que somos capazes de fazer coisas difíceis, ou quase impossíveis, coisas que nos exigiram muito esforço e dedicação, e é muito bom quando vemos que esse esforço valeu a pena.
O ano do meu estágio em Cabo Verde (2005) começou com uma grande euforia e felicidade que foram rapidamente substituídas por desespero e tristeza profunda... Alguns de vocês não sabem, mas exactamente uma semana depois de ter chegado àquela terra maravilhosa, recebi a notícia que fez abalar o meu mundo e que me roubou definitivamente a inocência da juventude. Perdi-me e fui obrigada a achar-me... coisa que só tenho agora posso afirmar estar a conseguir fazer... No dia 5 de Fevereiro de 2005, à chegada ao aeroporto de Lisboa fui recebida com abraços e beijos de consolo, porque este foi o dia em que o meu pai morreu.
Não consigo explicar por palavras o que senti e o que ainda sinto, mas aqueles que já passaram pelo mesmo sabem bem do que falo, sentiram-no e sentem-no na pele tal como eu. Só consigo descrever como uma dor profunda de uma ferida que fica no peito e que com o passar do tempo nos habituamos a ela... nunca desaparece, apenas nos habituamos a sentir esta dor, e a cada segundo que passa sentimos a saudade cada vez a apertar mais e mais. Quem diz que o tempo tudo cura não sabe o que é perder alguém...
Depois da morte do meu pai fiquei por Lisboa durante 3 semanas, pensei várias vezes em não voltar a Cabo Verde, afinal não tinha nada que me obrigasse a voltar lá. Mas depois percebi que ficar cá não me ia ajudar nada, ao passo que voltando para Cabo Verde poderia continuar a ter uma vida minimamente normal. O programa de estágio estava definido, já tinha casa onde ficar e as minhas coisas tinham já desembarcado no porto do Mindelo. Pensei muito sobre o que fazer, e entre ficar quietinha no meu lugar (em Lisboa) sem trabalho, sem objectivos, sem nada para fazer além de me lamentar e chorar, decidi voltar. Em Cabo Verde tinha trabalho para pelo menos 9 meses, tinha um plano de estágio perfeitamente definido para mim, só tinha que trabalhar ao meu ritmo e no fim apresentar o relatório. Por outro lado as pessoas não me conheciam e como tal não sabiam nada de mim, nem tinham expectativas sobre o que podiam esperar de mim. O que era bom, tinha apenas de viver a minha vida sem ter que fazer e ser a pessoa que os outros esperavam ver em mim.
Então voltei. Nos primeiros tempos fiquei no meu canto, mas a pouco e pouco fui passeando nas ruas, fui conhecendo pessoas, fui passeando e mais tarde fazendo amigos. E os amigos que fiz foram daqueles que ficam, daqueles que estavam lá sempre prontos a dar-me apoio sem saberem o quanto me ajudaram a sobreviver. Alguns deles nunca chegaram a saber a importância que tiverem e têm para mim, alguns nunca souberam o que se tinha passado em Portugal, alguns só sabiam a minha história de Cabo Verde, e mesmo assim, estavam sempre lá para mim... A todos eles, aos que sabiam e aos que não sabiam da minha história, a todos os que me ajudaram a reencontrar-me e a construir uma nova história, a todos os que me ajudaram a viver em vez de sobreviver, a todos vocês Muito Obrigado.
O prémio que agora recebo vejo-o como um prémio por ter conseguido sobreviver e depois viver. Vejo-o como um prémio ao Amor e à Amizade, à conquista de independência e à celebração da união entre as pessoas. É um prémio que partilho com todos, principalmente com o meu Pai, a minha Mãe, a minha Irmã, os meus Avós, e toda a família, é um prémio que partilho também com todos vocês, os que chamo e considero meus Amigos.
Este prémio é tanto meu como vosso, foi a força e a amizade que recebi de todos, que me permitiu ir em frente e ultrapassar aquela que até agora foi a barreira mais dura e difícil de passar na minha vida.
Este prémio vem fechar um ciclo, um grande ciclo. Vem celebrar o pior e o melhor ano da minha ainda curta vida.
São momentos como estes que nos fazem crescer e nos fazem olhar para o mundo e para a vida como coisas extraordinárias que devemos cuidar e preservar. São momentos como estes que me fazem dizer
"Carpe diem"
A notícia de que ganhei o prémio de melhor estágio da Ordem dos Engenheiros foi publicada hoje na página do programa de estágios do ICEP que me levou a Cabo Verde, e quase de imediato começaram a aparecer mails de parabéns e de apoio de várias pessoas. Há momentos na vida de uma pessoa que nos apercebemos que somos capazes de fazer coisas difíceis, ou quase impossíveis, coisas que nos exigiram muito esforço e dedicação, e é muito bom quando vemos que esse esforço valeu a pena.
O ano do meu estágio em Cabo Verde (2005) começou com uma grande euforia e felicidade que foram rapidamente substituídas por desespero e tristeza profunda... Alguns de vocês não sabem, mas exactamente uma semana depois de ter chegado àquela terra maravilhosa, recebi a notícia que fez abalar o meu mundo e que me roubou definitivamente a inocência da juventude. Perdi-me e fui obrigada a achar-me... coisa que só tenho agora posso afirmar estar a conseguir fazer... No dia 5 de Fevereiro de 2005, à chegada ao aeroporto de Lisboa fui recebida com abraços e beijos de consolo, porque este foi o dia em que o meu pai morreu.
Não consigo explicar por palavras o que senti e o que ainda sinto, mas aqueles que já passaram pelo mesmo sabem bem do que falo, sentiram-no e sentem-no na pele tal como eu. Só consigo descrever como uma dor profunda de uma ferida que fica no peito e que com o passar do tempo nos habituamos a ela... nunca desaparece, apenas nos habituamos a sentir esta dor, e a cada segundo que passa sentimos a saudade cada vez a apertar mais e mais. Quem diz que o tempo tudo cura não sabe o que é perder alguém...
Depois da morte do meu pai fiquei por Lisboa durante 3 semanas, pensei várias vezes em não voltar a Cabo Verde, afinal não tinha nada que me obrigasse a voltar lá. Mas depois percebi que ficar cá não me ia ajudar nada, ao passo que voltando para Cabo Verde poderia continuar a ter uma vida minimamente normal. O programa de estágio estava definido, já tinha casa onde ficar e as minhas coisas tinham já desembarcado no porto do Mindelo. Pensei muito sobre o que fazer, e entre ficar quietinha no meu lugar (em Lisboa) sem trabalho, sem objectivos, sem nada para fazer além de me lamentar e chorar, decidi voltar. Em Cabo Verde tinha trabalho para pelo menos 9 meses, tinha um plano de estágio perfeitamente definido para mim, só tinha que trabalhar ao meu ritmo e no fim apresentar o relatório. Por outro lado as pessoas não me conheciam e como tal não sabiam nada de mim, nem tinham expectativas sobre o que podiam esperar de mim. O que era bom, tinha apenas de viver a minha vida sem ter que fazer e ser a pessoa que os outros esperavam ver em mim.
Então voltei. Nos primeiros tempos fiquei no meu canto, mas a pouco e pouco fui passeando nas ruas, fui conhecendo pessoas, fui passeando e mais tarde fazendo amigos. E os amigos que fiz foram daqueles que ficam, daqueles que estavam lá sempre prontos a dar-me apoio sem saberem o quanto me ajudaram a sobreviver. Alguns deles nunca chegaram a saber a importância que tiverem e têm para mim, alguns nunca souberam o que se tinha passado em Portugal, alguns só sabiam a minha história de Cabo Verde, e mesmo assim, estavam sempre lá para mim... A todos eles, aos que sabiam e aos que não sabiam da minha história, a todos os que me ajudaram a reencontrar-me e a construir uma nova história, a todos os que me ajudaram a viver em vez de sobreviver, a todos vocês Muito Obrigado.
O prémio que agora recebo vejo-o como um prémio por ter conseguido sobreviver e depois viver. Vejo-o como um prémio ao Amor e à Amizade, à conquista de independência e à celebração da união entre as pessoas. É um prémio que partilho com todos, principalmente com o meu Pai, a minha Mãe, a minha Irmã, os meus Avós, e toda a família, é um prémio que partilho também com todos vocês, os que chamo e considero meus Amigos.
Este prémio é tanto meu como vosso, foi a força e a amizade que recebi de todos, que me permitiu ir em frente e ultrapassar aquela que até agora foi a barreira mais dura e difícil de passar na minha vida.
Este prémio vem fechar um ciclo, um grande ciclo. Vem celebrar o pior e o melhor ano da minha ainda curta vida.
São momentos como estes que nos fazem crescer e nos fazem olhar para o mundo e para a vida como coisas extraordinárias que devemos cuidar e preservar. São momentos como estes que me fazem dizer
"Carpe diem"
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