Tudo o que vivi aqui é demasiado grande e bonito para descrever, acho que nem as fotos, ou filmes fazem justiça ao paraíso que é esta parte do mundo perdida no meio do Índico. Tudo o que disser parecerá sempre pouco face ao que senti e naveguei. Apesar disso aqui vai um resumo do que fiz, e do que espero muitos possam fazer tal como eu. Entrei num barco tipo Dhow, que tem uma vela pequena e um motor, barco este sem grandes luxos, sem wc, sem aquilo a que se pode chamar cozinha, sem quartos, sem camas, sem cadeiras... enfim sem nada mas afinal com tudo o que é preciso. Mar azul de águas transparentes com corais e milhares de peixes às cores no fundo, logo ali a apenas um mergulho de distância. Estrelas no céu, num céu tão denso de estrelas que me chamavam todas as noites para as apreciar, contar, partilhar histórias, decifrar enigmas. O vento tão suave que me tocou a cara refrescando-a com ares de mar a cada dia quente que passava. Os seres que nos visitaram, tartarugas, golfinhos e peixes voadores. O xaréu ou King Fish que pescámos e comemos já no fim do segundo dia. Aquele colchão de ar que se ia esvaziando durante a noite mas que me abraçava enquanto adormecia. As ilhas de areia branca, lisa, perfeita, plantadas no meio do mar azul, dos corais, com algumas árvores e palmeiras, sem sons do homem, sem as mãos do homem, intocadas, ou quase... o paraíso na terra.
No primeiro dia enjoei logo à chegada ao barco. Coisa rara, nunca vista, mas com uma explicação muito simples, tenho andado doente ou quase doente há já 3 dias, para além disso dormi muito pouco, e ainda decidi comer backed beans (feijões) ao pequeno-almoço. Vomitei os feijões, depois a água, depois os Doritos e novamente a água. Só ao fim do dia consegui comer a galinha estufada que fizemos a bordo e assim repor energias. Viajámos de Pemba até à ilha de Quipaco, já ali. Ancorámos e dormimos, não logo porque as estrelas chamavam-me sem cessar e fiquei perto de 2 horas a contemplar, já sozinha com o barco bamboleante e em silêncio.
Acorda-se bem cedo no mar, acorda-se com o sol que nasce, ainda consegui ver os primeiros raios de sol :) absolutamente fantástico. Não tinha dormido muito esta noite, o vento forte e a chuva miudinha e ainda o barco que teimosamente de vez em quando batia no fundo. Mas acordei bem, e cheia de vontade de seguir viagem rumo a norte. Mais do mesmo cenário :) desta vez o percurso foi a partir de Quipaco passando por Quissiva, Mefunvo, Gamba, Quilálea, Sencar, Macula, Quirimba, Ibo, Matemo, Rolas, Macalue e terminando ao largo de Pangane, naquela grande ilha chamada continente africano. Neste dia pescámos um king fish, de cerca de 6kg, quando eu quase rezava para que nenhum decidisse morder o isco... não me apetecia matar nenhum animal sem necessidade, mas as verdade é que não tínhamos comida suficiente para todos os dias e precisávamos de um peixe para pelo menos 2 das refeições. Depois de morto, ajudei a amanhar e limpar, cortei um filetezinho como se fosse sashimi, e deliciei-me... era mesmo muito bom. Comemos nessa noite peixe frito com batatas fritas, já ancorados ao largo de Pangane onde se ouviam os chamamentos das mesquitas desde as 4h30 da manhã.
Depois de mais horas e horas a contemplar as estrelas e desta vez já com uma noite de sono descansada, acordei pouco depois do nascer do sol para comer banana, ovos estrelado e torradas. Saí então do barco no pequeno caiaque, com o senhor Abib (Rapala para o comandante do barco, Peter) para irmos a Pangane ao mercado comprar ovos e pão. Logo que voltámos ao barco, seguimos viagem para Medjumbe, a ilha paraíso mesmo, e ao lado Quissanga, aquela que elegi como a minha ilha, aquela que um dia quando for grande vou comprar. Um dia terei um barco pequenino, para ir a Medjumbe buscar mantimentos, terei uma casa tipo palhota para dormir, vou ter um sistema de painéis solares, uma cisterna para água da chuva e vou passar o resto do tempo a plantar batatas e coisas afins, enquanto o Pumba e a Matilde correm loucos à volta da ilha, sem nunca se perderem. :) é tão bom sonhar... Mergulhei nas águas límpidas ao largo da minha ilha e amei, era mesmo aqui que queria ficar. Saímos daqui porque a ilha ainda não é minha e regressámos às Rolas para passar a noite, mais mergulhos, mas estrelas, mais mar. Amanhã acabamos no Ibo... adeus paraíso, espero um dia poder regressar.
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