quinta-feira, janeiro 06, 2011

NOSSO COLORIDO MARINHEIRO MALANGATANA

Disseram-me, esta manhã, que tinha chegado um barco grande a Matosinhos. De um porto tão distante que os homens só dele sabem de ouvirem falar. Veio munido de entorpecentes luzes, lento e majestoso como uma baleia divagando em seus mares. De dentro, tambores e cânticos ecoavam, rufando e seduzindo, enquanto bailarinas líquidas, dançando, se embrulhavam em milhentas mil cores sob os pássaros gentios que as acompanhavam.

Havia sol. Estranharam os contadores, pois que não é costume em tempos de tão rígidos frios serem ali solarengas as madrugadas e que nem pássaros se agitem em tão acordados voos. A nave, continuam eles, era um gigantesco vapor feito de invulgares materiais. Estrelas do mar, búzios, escamas prateadas de peixes, carapaças de caranguejos, conchas de um ouro luzídio e muitas máscaras de variáveis rostos. Também se viam areias encarnadíssimas de uma fineza só igualável às mais longínquas sedas e madeiras rosa e negra e castanhamente canforizadas e também fortes como o ferro e negras como o bréu.

E haviam, estranhamente, musculados negros vestidos de uma roupagem quase nua, carregando consigo enormes lanças e elmos de pele e escudos de enormes e vivas cabeças de leopardos rosnando. Também, contam-se as mulheres elegantíssimas cujos seios eram da mais perfeita e dura redondez e que os seguiam agitadas entre seus gritos comemorativos.

Dizem que Matosinhos terá acordado atónita com tão invulgar espectáculo. Eram as altíssimas labaredas que ondulavam de inúmeras fogueiras crepitando sobre o mar, as estrelas havidas baixas e amarelas como o sol, como as luzes vastas de uma grande cidade, cintilantes e irrequietas, e, sobre elas, crianças rindo-se com papagaios tocando o azul límpido dos céus.



Em volta do navio, contam-se incontáveis as almadias com os seus pescadores remando e golfinhos saltando, demorada, lentamente em sua volta e que também emitiam envidraçados sons cristalizados por todos os lados em flâmulas e minúsculas bandeiras coloridas, enquanto do seu casco se estendia, até junto à terra, uma enorme passadeira púrpura ladeada por árvores frutadas e perfumadas. Sobre ela caminhava um homem negro e forte que, em meio a sonoras gargalhadas, falava e cantava, palavras e músicas indizíveis, e dos seus cabelos brancos um extenso e distante algodoal se agitava, e das mãos, enormes montanhas verdes de chá enobrecidas o guardavam e da boca, um grande rio trovejando para as duas gigantescas luas negras dos olhos aluando tudo.

Falam as mais variadas vozes que, depois deste espectáculo, do navio se fez ouvir uma estridente sirene, tão forte, tão aguda, tão capaz de fazer tremer as casas dos homens, os prédios da terra, os campos em volta. Com esse som, os cães ladraram e os relógios pararam e o mar se abriu calmo e sereno para engolir aquela visão fantástica. E o silêncio, então, fez sentir-se como uma cortante e sibilante brisa para que a cidade voltasse a dormir de novo.

Apenas mais tarde se soube, de um país haver percorrido o Mundo para embarcar o seu pintador enfeitiçado da vida, que, agora, naquela enorme nave, voltava para vivê-la na consanguinidade moçambicana das suas telas. Desse homem, nosso colorido marinheiro do mundo e de seu nome MALANGATANA, só mesmo elas, justa e merecidamente, poderão falar.


Eduardo White
5 de Janeiro de 2011

quarta-feira, janeiro 05, 2011

terça-feira, janeiro 04, 2011

Ano novo....

Uma das resoluções de ano novo era a organização do blog, ou pelo menos a actualização da informação que por aqui anda. Assim fotos, histórias, algumas palavras sem sentido e talvez alguns vídeo... vão ser "postados" mais frequentemente.
Começando pelo princípio, ou talvez pelo fim... aqui vai a descrição dos primeiros momentos do novo ano.

Dia 31-12-2010
Escritório até às 12:00, sempre com muito stress, e apesar de ter saído cedo, o telemóvel não parou de tocar, como aliás já é habitual.
Fui a casa buscar o saco de viagem, alguns jogos e um livro, confirmei a presença de chapéu de abas largas, biquínis, protector solar e uma capulana para a praia. Check... time to go.
Saída de Maputo em direcção à Macaneta, passando pelo caminho de terra batida que vai da Costa do Sol até Marracuene. O caminho fez-se sem sobressaltos e sem mais atrasos, mas já em Marracuene tivemos uma longa paragem na fila de espera do batelão.
De 30 em 30 minutos avançávamos o carro mais umas dezenas de metros na fila, e a cada paragem parávamos nós também no bar para beber Savana fresquinha.
A passagem de batelão sobre o rio Incomati foi rápida e o caminho de areia no meio de mato e palhotas foi quase demasiado rápido até chegar ao Jay Lodge.
Logo na entrada, e para refrescar, mais umas Savanas e siga para a casa.
Pousámos as coisas um bocado à pressa e depois disto foram horas no banho na piscina.
Já de noite fizemos o Brai e jantámos em comunidade, acendemos os candeeiros a petróleo e passámos a duna em direcção à praia.
Céu estrelado límpido, praia vazia, água quente, fogo de artifício em Maputo e na Inhaca, passas na mão, garrafas de espumante na outra, contagem decrescente 60, 59, 58, 57...... 3, 2, 1
Come as passas, abraços, beijinhos e desejos de bom ano, mergulho no mar e novamente mergulho na piscina.

Dia 1-1-2011
Acordar cedo com o calor abrasador, duche rápido, jogos na mala de capulana, biquíni e segue para o bar do logde passar o dia. Jogámos Pictonary, Poker e Uno, até o cansaço nos obrigar a ir para casa. Depois de uma refeição ligeira, caminhada na praia e de novo para dentro da piscina (sim... os dedos ficaram enrugados...).
À noite juntámo-nos a mais uns amigos que estavam na casa da frente, fizemos um Brai gigante acompanhado de muitas saladas e cocktails de sabores diferentes (melancia, lichias e ananás). E durante horas ao som da guitarra cantaram-se todas as músicas de que nos conseguimos lembrar... mais uma vez sob o céu estrelado e um calorzinho confortável no ar.

Dia 2-1-2011
Arrumações, mais um mergulho na piscina, encher os carros com a tralha e mudança de planos no percurso da viagem. Era suposto regressarmos por Marracuene passando mais uma vez o batelão, mas os marinheiros estavam bêbados (ainda...) e não se conseguia fazer a travessia. Segundo o boer do Lodge estavam mais de 200 carros já na fila à espera de vez para passar (o batelão leva 6 carros em cada viagem...).
Vamos dar a volta por terra? Claramente. Pedimos autorização ao complexo de produção de cana de açúcar da Maragra para passar por terra, pedimos indicações do "caminho" - picadas no meio do mato e de vez em quando passando por alguma povoação de palhotas. Depois de 2 horas às voltas completamente perdidos, lá começámos a aproximar do rio e passámos para a outra margem. A paisagem era fantástica e valeu cada solavanco e a suspensão partida.
Paragem em Marracuene para uma coca-cola gelada, e seguimos pelo caminho de terra batida em direcção a Maputo. Desta vez cortámos antes da Costa do Sol e atravessámos o bairro Polana Caniço, desaguando no Xikelene. Daqui já só havia estrada alcatroada com os típicos buracos/crateras abertos pelas chuvas, e mais 10 minutos entrávamos em casa.
O Pumba e a Matilde (os meus canitos lindos / feras gigantes) ansiavam por festinhas e passeios na rua, pediam mimos e davam lambidelas. Depois dos momentos de mimo, cama, rede mosquiteira, raquete mata-mosquitos e janelas abertas... tudo pronto para uma óptima noite de sono...

Resoluções de Ano Novo
Fiz algumas, penso que todas muito realistas, e já as comecei a por em prática. Vamos ver quanto tempo duram.
Mais novidades nos próximos episódios.