quinta-feira, outubro 27, 2005
E finalmente as coisa estão prontas para regressar a Portugal... eu é que não estou pronta... mas tem de ser. A Duna lá ao fundo em cima daquilo que já foi o meu sofá, olha com um ar pensativo para a bagagem... nem imagina que a seguir a mandar as caixas também ela vai entrar dentro de uma para seguir de avião no dia 12 do próximo mês.
terça-feira, outubro 18, 2005
O bilhete
E finalmente confirma-se... o bilhete já está nas minhas mãos...
Ao entrar esta tarde na TACV nem me apercebi muito bem do que se estava realmente a passar. Só quando o Miguel entrou para me dizer que também ele já tinha o bilhete para dia 28 deste mês, é que me apercebi que a minha resposta era de conformação total com o destino. Olhei então à minha volta, vi a senhora que me atendia a encrever umas coisas no computador, vi aquela sala onde passei largos minutos a comprar viagens e confirmar voos nos últimos meses, reparei que já falava regularmente com as pessoas que ali trabalham. Esta seria então a última vez que pisava aquele chão? Então é assim que me apercebo da minha partida? sentada num banco desconfortável, com o ar condicionado gelado a bater-me nas costas, com o barulho das impressoras de bilhetes... foi assim de choque que acreditei que vou mesmo partir.
Quase me apetecia chorar... afinal é mesmo verdade... vou-me embora... dia 12 mal o sol desponte no horizonte estarei a entrar no voo VR4211 com destino ao Sal, para às 15h finalmente virar as costas a estas ilhas que tão bem me acolheram...
Não é o partir que me preocupa... é o facto de não saber se algum dia irei voltar...
Cabo Verde é sabe... sabe, sabe, sabe, sebim....
Ao entrar esta tarde na TACV nem me apercebi muito bem do que se estava realmente a passar. Só quando o Miguel entrou para me dizer que também ele já tinha o bilhete para dia 28 deste mês, é que me apercebi que a minha resposta era de conformação total com o destino. Olhei então à minha volta, vi a senhora que me atendia a encrever umas coisas no computador, vi aquela sala onde passei largos minutos a comprar viagens e confirmar voos nos últimos meses, reparei que já falava regularmente com as pessoas que ali trabalham. Esta seria então a última vez que pisava aquele chão? Então é assim que me apercebo da minha partida? sentada num banco desconfortável, com o ar condicionado gelado a bater-me nas costas, com o barulho das impressoras de bilhetes... foi assim de choque que acreditei que vou mesmo partir.
Quase me apetecia chorar... afinal é mesmo verdade... vou-me embora... dia 12 mal o sol desponte no horizonte estarei a entrar no voo VR4211 com destino ao Sal, para às 15h finalmente virar as costas a estas ilhas que tão bem me acolheram...
Não é o partir que me preocupa... é o facto de não saber se algum dia irei voltar...
Cabo Verde é sabe... sabe, sabe, sabe, sebim....
quarta-feira, outubro 12, 2005
1 mês... é quanto falta para acabar...
Daqui a exactamente um mês estarei a sobrevoar território português… está a chegar ao fim o que eu já sabia que tinha tempo limitado para existir… os nove meses de estágio completam-se a dia 28 de Outubro, o trabalho na Electra concluí-se a 4 de Novembro e a data que escolhi para a viagem é dia 12 de Novembro.
Por muito que eu queira ficar por cá, sei que sem trabalho e sem rendimentos é impossível aguentar, por isso, em vez de prolongar o meu sofrimento da despedida decidi partir logo que possível. Agora, ainda hoje começo a desmontar a minha casa, a minha primeira casa que tanto gozo me deu a montar. Começo a montar as caixas esquecidas à quase 9 meses atrás.
Muito a custo tento ver novamente os telejornais portugueses e é com muita tristeza que volto a um país que anda de pernas para o ar. Cada vez vejo o cenário mais negro, não sei se é por estar tudo mais difícil se é por estar de fora a observar.
Tenho bons motivos para voltar, claro que tenho. Mas preferia que esses bons motivos viessem para cá. Ou então posso tentar arrastar este país para águas territoriais portuguesas… seria uma boa opção, mas nem sequer tenho forças para tentar.
A distância que me separava de Cabo Verde à um ano atrás era imensa… eu não sabia nada sobre este país… e em tão pouco tempo, o tempo de uma mãe dar à luz um filho, sei muito mais do que podia imaginar. Não só sei como sinto. Sinto que podia cá morar.
Pode parecer estranho para alguns, mas tenho muitos bons motivos para amar este país. Quem teve a oportunidade de me vir cá visitar teve também a oportunidade de perceber porque me sinto assim, teve a oportunidade de sentir o mesmo ou um pouco do mesmo.
Quando saí de Moçambique em 1992 pensei que saía para não mais regressar… que ideia estranha e estúpida, voltei lá em 1997, em férias, e verdade, mas voltei.
Agora que estou a deixar mais um país, um país que se pudesse escolher seria o meu país natal, tenho medo de não conseguir regressar… mas o que eu mais quero é voltar a ter o meu dia-a-dia no Mindelo… ir ao mercado, falar com as pessoas com quem me cruzo diariamente na rua de Lisboa, passear à noite na marginal com a melhor companhia… ouvir histórias para crianças sussurradas ao ouvido, enquanto ao longe se escutam as ondas do mar da Laginha a rebentar… comer peixe grelhado todos os dias, ouvir música ao vivo em qualquer canto e lugar… até já nem me importo com o barulho ensurdecedor da R. de S. João… quero andar à vontade nas ruas, quero beber sumos naturais a toda a hora, quero ir às quintas feiras ao Fou Nana, quero ouvir falar línguas diferentes em todos os cantos, quero ter mais festas até de manhã bem cedo à beira mar… quero meter-me no barco e em apenas 1 hora estar na paz de Sto Antão, quero ter esta terra seca debaixo dos meus pés e ali ao lado a frescura do verde dos vales… quero comer cachupa guisada todos os dias de manhã, quero não ter frio todo o ano, quero o sol a tocar a minha pele, quero ficar com esta pele dourada… quero fazer body board e fazer mergulho sempre que me apetece sem ser preciso usar nada mais que o biquini… quero ir andar a cavalo por toda a ilha, quero subir a mais um vulcão…quero procurar tubarões todos os fins-de-semana em todas as praias de difícil acesso que rodeiam a ilha, quero subir ao Monte Verde e sentir-me no topo do mundo…
Enfim… quero fazer parte desta realidade que não era a minha mas que aos poucos adaptei para mim…
Quero viver e ser feliz aqui…
Por muito que eu queira ficar por cá, sei que sem trabalho e sem rendimentos é impossível aguentar, por isso, em vez de prolongar o meu sofrimento da despedida decidi partir logo que possível. Agora, ainda hoje começo a desmontar a minha casa, a minha primeira casa que tanto gozo me deu a montar. Começo a montar as caixas esquecidas à quase 9 meses atrás.
Muito a custo tento ver novamente os telejornais portugueses e é com muita tristeza que volto a um país que anda de pernas para o ar. Cada vez vejo o cenário mais negro, não sei se é por estar tudo mais difícil se é por estar de fora a observar.
Tenho bons motivos para voltar, claro que tenho. Mas preferia que esses bons motivos viessem para cá. Ou então posso tentar arrastar este país para águas territoriais portuguesas… seria uma boa opção, mas nem sequer tenho forças para tentar.
A distância que me separava de Cabo Verde à um ano atrás era imensa… eu não sabia nada sobre este país… e em tão pouco tempo, o tempo de uma mãe dar à luz um filho, sei muito mais do que podia imaginar. Não só sei como sinto. Sinto que podia cá morar.
Pode parecer estranho para alguns, mas tenho muitos bons motivos para amar este país. Quem teve a oportunidade de me vir cá visitar teve também a oportunidade de perceber porque me sinto assim, teve a oportunidade de sentir o mesmo ou um pouco do mesmo.
Quando saí de Moçambique em 1992 pensei que saía para não mais regressar… que ideia estranha e estúpida, voltei lá em 1997, em férias, e verdade, mas voltei.
Agora que estou a deixar mais um país, um país que se pudesse escolher seria o meu país natal, tenho medo de não conseguir regressar… mas o que eu mais quero é voltar a ter o meu dia-a-dia no Mindelo… ir ao mercado, falar com as pessoas com quem me cruzo diariamente na rua de Lisboa, passear à noite na marginal com a melhor companhia… ouvir histórias para crianças sussurradas ao ouvido, enquanto ao longe se escutam as ondas do mar da Laginha a rebentar… comer peixe grelhado todos os dias, ouvir música ao vivo em qualquer canto e lugar… até já nem me importo com o barulho ensurdecedor da R. de S. João… quero andar à vontade nas ruas, quero beber sumos naturais a toda a hora, quero ir às quintas feiras ao Fou Nana, quero ouvir falar línguas diferentes em todos os cantos, quero ter mais festas até de manhã bem cedo à beira mar… quero meter-me no barco e em apenas 1 hora estar na paz de Sto Antão, quero ter esta terra seca debaixo dos meus pés e ali ao lado a frescura do verde dos vales… quero comer cachupa guisada todos os dias de manhã, quero não ter frio todo o ano, quero o sol a tocar a minha pele, quero ficar com esta pele dourada… quero fazer body board e fazer mergulho sempre que me apetece sem ser preciso usar nada mais que o biquini… quero ir andar a cavalo por toda a ilha, quero subir a mais um vulcão…quero procurar tubarões todos os fins-de-semana em todas as praias de difícil acesso que rodeiam a ilha, quero subir ao Monte Verde e sentir-me no topo do mundo…
Enfim… quero fazer parte desta realidade que não era a minha mas que aos poucos adaptei para mim…
Quero viver e ser feliz aqui…
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