terça-feira, março 27, 2012

O regresso do emigrante

Às vezes perguntam-me se penso em regressar a Portugal, e respondo que sim... penso nisso. E cada vez que vejo um amigo partir, dou por mim a pensar no meu regresso, enquanto lhes explico que já fiz um regresso e não foi nada fácil.
Serão estas as novas preocupações dos emigrantes, as grandes ansiedades, que aliadas à tão típica saudade, faz com que alguns dos novos emigrantes passem anos a pendulando entre ficar aqui ou finalmente regressar a casa.

Depois de 3 anos aqui (mais os 3 de quando era miúda) posso dizer que já vi demasiadas pessoas a ir embora, já vi como custa muito, a todos os que regressam, voltar a encaixar no dia-a-dia de Portugal. Por isso decidi escrever uma carta a um amigo que agora parte para Londres, fazendo uma pequena paragem em Portugal.
Escrevo para ele, mas é como se fosse para todos, e principalmente para mim, para um dia voltar a ler o que escrevo, na esperança que as minhas próprias palavras me dêem a força que preciso para partir e deixar o continente que adoro... África.

" (...)
Sobre o teu regresso aí… eu sei que é doloroso, eu sei que é estranho e que já não encaixas, principalmente nesta altura de crise. Mas apesar disso, repara como sabe bem ir ao café, andar pelas ruas da cidade com essa luz que só Lisboa tem, como é fantástico o nosso frio oceano atlântico, e como é bom rever família e amigos, e perceber que aqueles amigos continuam sempre nossos amigos.

Escrevo-te assim, porque quando regressei de Cabo Verde, foi um choque demasiado grande voltar a viver em Portugal e, sendo honesta comigo própria, acho que encaixo melhor em África do que em Portugal, pelo menos nesta fase da minha vida.
Mas tenho quase a certeza que um dia também eu farei o regresso por vontade própria, e nessa altura sei que vou sofrer por antecipação e sei que vai doer quando aterrar em Lisboa de armas e bagagens, mas também sei que à primeira oportunidade vou a Sintra comer as queijadas, vou a Óbidos andar na muralha do castelo e vou à praia da Arrifana brincar com a prancha de bodyboard nas ondas pequenas de verão.

E se em vez de Portugal decidisse regressar ao velho continente, escolheria uma cidade como Londres, Amesterdão ou Barcelona, para morar.
E se fosse em Londres, comprava um carro para poder ir passear para o “countryside” aos fins-de-semana, ir a Bath, a Stonehendge, a Portsmouth, a Stratford-upon-Avon ou a Cambridge.
E nos fins-de-semana que não me apetecesse sair da cidade, ia fingir-me de turista e comprava um bilhete para um musical, ou ia passear pelos mercados que vendem um pouco de tudo, ou ia esticar-me na relva dos jardins e parques. Ou talvez ainda, estender-me no chão da Tate Modern… onde “sonhei” com um pôr-do-sol africano.
(…)"