22h de quarta-feira, horas normais de um dia normal da recolha de lixo na cidade de Maputo. Os camiões já iniciaram a recolha, daqui a cerca de 2 horas devem iniciar as primeiras descargas da noite na lixeira. Acabo de jantar, com o rádio em punho e os mapas das rotas na mão, saio para as ruas quase desertas atrás deles. Hoje sigo as rotas 1 e 2, vou só ver se está tudo a correr bem, ver quais são as maiores dificuldades, e são muitas. “Rota 1, rota 1, chama”, “Aqui rota 1, diga Engª”, “Em que ponto está”, “Ponto 16, na Av. Karl Marx”, “ok, vou ter consigo”. Já um pouco mais à frente cruzo-me com a viatura, pelo caminho ficaram umas 5 brigadas de trânsito que se posicionaram ao longo da 25 de Setembro, deve estar cá alguém importante hoje… isto só é normal ao fim-de-semana. Assisto à recolha, falo com eles, combino por volta das 23h entrar no camião para ir acompanhar a descarga à lixeira, os olhares e espanto transformam-se em satisfação.
À hora combinada trepo para a cabine, mais parece uma suite com tanto espaço, ou o cockpit do avião com tantas luzes, seguimos com o ar condicionado ligado, porque doutra forma aqui era impossível. Saímos da cidade, passamos pelos subúrbios em tempos chamados cidade de caniço, para distinguir da cidade de cimento, agora é tudo feito de cimento, mas o ordenamento é que continua marcadamente diferente. Em apenas 25 minutos aproximamo-nos da lixeira, a vista de dia é completamente diferente da vista de noite. O cenário é agora dantesco… os montes de lixo escuros deixam escapar uma névoa de fumo da combustão lenta e quase invisível de um lado, do outro lançam labaredas vivas e com cerca de 2 metros de altura. A zona da descarga de lixo é lá ao fundo, temos de avançar em marcha a trás por entre este corredor de lixo, orientado apenas pelo instinto, e desta vez o instinto falhou, atolámos a meio deste corredor, ficámos com as rodas submersas em lixo fresco.
Lá ao fundo começam a surgir alguns vultos na penumbra, um cambaleante trás na mão um copo de shot e acaba de beber a bebida de elevado teor alcoólico que o deve acompanhar há anos, outros trazem ganchos e sacos às costas, outros trazem lanternas. São os catadores. Aproximam-se para tentar ajudar. Começam a tirar o lixo que bloqueou as rodas, mas nem isso faz mover o monstro, “vem lá um camião” pedimos reboque, temos apenas um problema, não há cabo de reboque, em 5 minutos com um corropio de gente para trás e para a frente, surge do meio da lixeira um cabo de reboque de aço, daqueles mesmo bons. Entretanto o camião já tinha descarregado e seguido caminho. Vêm os nossos camiões fazem as descargas, passam, cumprimentam, sorriem e fazem adeus, “é a Engª”, que espanto. Nesta confusão estão 3 carros nossos a descarregar, 1 atolado e nos entretantos chega um outro que se liga a nós com o cabo de reboque e nos puxa dali para fora. O motorista todo contente pega no rádio e comunica com um sorriso nos lábios o seguinte “Já vamos sair da lixeira, levo a Engª comigo, desta vez conseguimos não a deixar cá”, do outro lado ouve-se o supervisor a dizer “bom trabalho”. Os outros motoristas ainda ali ao lado riem e acenam, a noite ainda agora começou, ainda virão à lixeira fazer mais uma descarga esta noite, mas desta já se safaram.
segunda-feira, janeiro 26, 2009
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2 comentários:
Olá coleguinha
Só tu para andares metida nessas confusões :-)
Beijokas grandes
Epa, tava à espera que eles tivessem saltado para cima do camião e tivessem começado a abanar o camião até tentar tombar e entretanto tivesse aparecido o James Bond de cor "Obama" e vos salvasse mesmo à ultima da hora!!! :)
Assim é que é! De mãos na massa...ou melhor...no Lixo! É assim que tem de ser para isso avançar!
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