Decidi
há muitos anos que queria ser feliz. Mas entre o decidir e o agir fui sendo
feliz quase por acaso, quase sem esforço da minha parte e, devo dizer, tenho
tido sorte porque tenho sido feliz.
Há
3 anos atrás, no entanto, a vida decidiu dar-me mais uma daquelas voltas que
quase me deitou por terra, e foi a muito custo que me fui levantando... cheguei
a comentar comigo mesma que dei demais para coisas que já não fazem sentido.
Cheguei a dar sangue suor e lágrimas e foi nesse momento que percebi que tinha
que mudar algo, e tinha que ser eu, apenas eu, o motor desta mudança.
Passaram-se
estes 3 anos e percebo que o percurso foi longo, por vezes penoso, quase sempre
difícil, mas fazível. Tão fazível que aqui estou a percorrer, agora de sorriso
no rosto, o meu caminho da felicidade.
Com
a ajuda de muitas pessoas (família e de muitos amigos, alguns deles que já
considero família também), saí do buraco onde me deixei cair. Saí mas
continuava perdida quanto ao caminho que queria percorrer de seguida, e por isso
decidi fazer uma pausa para pensar sobre o que quero para mim.
Fiz
algumas sessões de coaching com uma grande amiga. Todas as sessões foram duras
e emocionalmente carregadas. Ria e logo depois chorava, retirando de mim a
carga que tinha acumulado ao longo da minha vida, em particular desde a perda
do meu pai, do meu avô e a também a carga profissional exagerada desde há 3
anos.
Nestas
sessões fui confrontada com perguntas minhas que surgiram pela boca dela. A
principal e recorrente "O que queres?" era no início demasiado difícil
de responder, mas por ser demasiado vaga "Quero ser feliz".
E
surge de seguida a pergunta cuja resposta não é simples, nem única, nem mesmo
imutável, "O que te faz feliz?". A minha resposta foi inicialmente
"Não sei", mas depois fui reflectindo sobre o assunto e percebi
novamente (já havia percebido isto na minha adolescência) que a felicidade está
nas pequenas coisas. Obviamente não só nas pequenas coisas, nas médias e
grandes também, mas foi nas pequenas coisas que percebi que sou uma pessoa
naturalmente feliz. Só preciso não me esquecer disto, todos os dias.
Quando
me comecei a lembrar disto todos os dias (há mais ou menos 1 anos atrás)
comecei a perder os 20 kg que tinha a mais, retomei o contacto com os amigos
que por sorte não fugiram do meu mau humor, voltei a ler, voltei à jardinagem,
voltei a passear. Voltei a fazer todas
estas pequenas coisas que me dão muito gozo.
Voltei
também a namorar... :) essa grande coisa que finalmente deixei que acontecesse
na minha vida. Estar apaixonada é mesmo das melhores sensações do mundo, porque
quando nos apaixonamos por alguém ou mesmo por algo, no fundo apaixona-mo-nos
pela vida e pelo mundo que nos rodeia. E isso é tão bom...
Mas
quero falar-vos de hoje. Hoje o caminho que trilhei trouxe-me a Mocímboa da
Praia, onde inicio um novo projecto de vida profissional. Decidi finalmente
abrir a minha própria empresa - Magambi. Pode não dar certo, mas também pode
dar certo. Não tenho medo, apenas esperança no que o futuro que trará.
Estava
aqui sentada a trabalhar no meu primeiro projecto, quando percebi que me
apetecia escrever, porque me sinto feliz. Estou sozinha num dos sítios mais
calmos do mundo, com vista para a foz do rio, no meio da província de Cabo
Delgado, a ser atacada por todo o tipo de insectos (que nem os milhares de
osgas conseguem comer), e a ser protegida por uma família de canitos que me
adoptaram desde que cheguei.
Aqui
faz calor e está uma humidade daquelas que mantém o céu cinzento todo o dia.
Quase que chove, mas não chove quase nada. E eu gosto.
Os
sons são os do mato, para mim alguns
deles indecifráveis, mesmo depois das inúmeras idas ao kruger.
Fico
pensativa... aliás, contemplativa do que me rodeia.
Percebo,com tudo isto, mais uma vez, que o caminho para a felicidade se faz com ligeiros e também duros sobressaltos, faz-se todos os dias, a cada momento, a cada passo.
Parei
este bocadinho o trabalho, porque me apetecia escrever, porque me sinto feliz.
E a felicidade é algo que tenho que partilhar convosco.