terça-feira, fevereiro 19, 2013

O caminho da felicidade


Decidi há muitos anos que queria ser feliz. Mas entre o decidir e o agir fui sendo feliz quase por acaso, quase sem esforço da minha parte e, devo dizer, tenho tido sorte porque tenho sido feliz.

Há 3 anos atrás, no entanto, a vida decidiu dar-me mais uma daquelas voltas que quase me deitou por terra, e foi a muito custo que me fui levantando... cheguei a comentar comigo mesma que dei demais para coisas que já não fazem sentido. Cheguei a dar sangue suor e lágrimas e foi nesse momento que percebi que tinha que mudar algo, e tinha que ser eu, apenas eu, o motor desta mudança.

Passaram-se estes 3 anos e percebo que o percurso foi longo, por vezes penoso, quase sempre difícil, mas fazível. Tão fazível que aqui estou a percorrer, agora de sorriso no rosto, o meu caminho da felicidade.

Com a ajuda de muitas pessoas (família e de muitos amigos, alguns deles que já considero família também), saí do buraco onde me deixei cair. Saí mas continuava perdida quanto ao caminho que queria percorrer de seguida, e por isso decidi fazer uma pausa para pensar sobre o que quero para mim.

Fiz algumas sessões de coaching com uma grande amiga. Todas as sessões foram duras e emocionalmente carregadas. Ria e logo depois chorava, retirando de mim a carga que tinha acumulado ao longo da minha vida, em particular desde a perda do meu pai, do meu avô e a também a carga profissional exagerada desde há 3 anos.

Nestas sessões fui confrontada com perguntas minhas que surgiram pela boca dela. A principal e recorrente "O que queres?" era no início demasiado difícil de responder, mas por ser demasiado vaga "Quero ser feliz".

E surge de seguida a pergunta cuja resposta não é simples, nem única, nem mesmo imutável, "O que te faz feliz?". A minha resposta foi inicialmente "Não sei", mas depois fui reflectindo sobre o assunto e percebi novamente (já havia percebido isto na minha adolescência) que a felicidade está nas pequenas coisas. Obviamente não só nas pequenas coisas, nas médias e grandes também, mas foi nas pequenas coisas que percebi que sou uma pessoa naturalmente feliz. Só preciso não me esquecer disto, todos  os dias.

Quando me comecei a lembrar disto todos os dias (há mais ou menos 1 anos atrás) comecei a perder os 20 kg que tinha a mais, retomei o contacto com os amigos que por sorte não fugiram do meu mau humor, voltei a ler, voltei à jardinagem, voltei  a passear. Voltei a fazer todas estas pequenas coisas que me dão muito gozo.

Voltei também a namorar... :) essa grande coisa que finalmente deixei que acontecesse na minha vida. Estar apaixonada é mesmo das melhores sensações do mundo, porque quando nos apaixonamos por alguém ou mesmo por algo, no fundo apaixona-mo-nos pela vida e pelo mundo que nos rodeia. E isso é tão bom...


Mas quero falar-vos de hoje. Hoje o caminho que trilhei trouxe-me a Mocímboa da Praia, onde inicio um novo projecto de vida profissional. Decidi finalmente abrir a minha própria empresa - Magambi. Pode não dar certo, mas também pode dar certo. Não tenho medo, apenas esperança no que o futuro que trará.

Estava aqui sentada a trabalhar no meu primeiro projecto, quando percebi que me apetecia escrever, porque me sinto feliz. Estou sozinha num dos sítios mais calmos do mundo, com vista para a foz do rio, no meio da província de Cabo Delgado, a ser atacada por todo o tipo de insectos (que nem os milhares de osgas conseguem comer), e a ser protegida por uma família de canitos que me adoptaram desde que cheguei.

Aqui faz calor e está uma humidade daquelas que mantém o céu cinzento todo o dia. Quase que chove, mas não chove quase nada. E eu gosto.

Os sons são os do  mato, para mim alguns deles indecifráveis, mesmo depois das inúmeras idas ao kruger.
Fico pensativa... aliás, contemplativa do que me rodeia.


Percebo,com tudo isto, mais uma vez, que o caminho para a felicidade se faz com ligeiros e também duros sobressaltos, faz-se todos os dias, a cada momento, a cada passo.


Parei este bocadinho o trabalho, porque me apetecia escrever, porque me sinto feliz. E a felicidade é algo que tenho que partilhar convosco.

sábado, junho 09, 2012

Laricia Sofia

Esta semana foi cansativa mas positiva :) muito positiva.
Na 2ª feira nasceu a Laricia Sofia, a filha mais nova da minha empregada / amiga Teresa. A Teresa, para quem não sabe, trabalha comigo desde que eu vim para Moçambique. Damo-nos muito bem e damos apoio uma à outra, sempre que é necessário. Cozinha maravilhosamente bem, e tem treinado outras empregadas de amigos meus, adora e cuida dos meus bixos quando estou fora, e gere toda a casa. Sem a ajuda dela a minha vida aqui seria um stress imenso.
Então 2ª feira a bebé nasceu, às 21:15, com 3.120kg, depois de muitas horas em trabalho de parto (desde sábado á noite).
Durante os 9 meses não se escolheu nome, até porque nem sabíamos se ia ser menina ou menino. A minha mãe dizia que ia ser menina, e eu e a Teresa estávamos convencidas que seria um menino.
A menina nasceu bem, é linda, super calma, um doce... hoje fui conhecê-la e dar-lhe o nome.
Na casa da Teresa, onde sou sempre bem recebida, estava eu, ela e as duas filhas já grandes. Enquanto a bebé mamava tranquila, falámos sobre os nomes, e graças à tecnologia móvel conseguimos pesquisar o significado de alguns nomes. A decisão foi relativamente rápida, quanto ao 2º nome, todas concordámos com Sofia.
O primeiro nome é que foi mais difícil e foi a Teresa que sugeriu, Laricia.
Laricia, ou Larissa ou ainda Larissia, é um nome de origem grega que significa "cheia de vida", "cheia de alegria", "tem charme", "é agradável". Na mitologia grega é o nome de uma ninfa de Thessaly. É ainda o nome de uma das luas de Neptuno.
Sofia é também um nome de origem grega, que significa "sabedoria", "a sábia".
Bem vinda a este mundo Laricia Sofia, que a tua vida seja recheada de amor e felicidade.




segunda-feira, maio 28, 2012

Como ser feliz...


DESCOBERTA DO AMOR

Ensaia um sorriso
e oferece-o a quem não teve nenhum.
Agarra um raio de sol
e desprende-o onde houver noite.
Descobre uma nascente
e nela limpa quem vive na lama.
Toma uma lágrima
e pousa-a em quem nunca chorou.
Ganha coragem
e dá-a a quem não sabe lutar.
Inventa a vida
e conta-a a quem nada compreende.
Enche-te de esperança
e vive à sua luz.
Enriquece-te de bondade
e oferece-a a quem não sabe dar.
Vive com amor
e fá-lo conhecer ao Mundo.

Mahatma Gandhi

Um aniversário diferente

Escrevo a história do meus 34º aniversário, porque não quero nunca esquecer-me destes dias. Todos os meus aniversários têm sido especiais e lembro de cada um deles. Mas nunca me tinha acontecido, durante o meu aniversário lembrar-me tão claramente dos outros aniversários... dos amigos que estiveram aqui e dos que não puderam estar.
Cada aniversário é especial, e é uma oportunidade única de nos sentirmos rodeados de felicidade e carinho, abraçados pelos braços da amizade. Sim,  cada aniversário é especial, mas este ainda mais, porque num único aniversário recordei-me de todos os outros, por isso foi um aniversário onde estiveram todos presentes :) mesmo os ausentes...

O aniversário começou na sexta-feira no momento em que entrei no carro da minha grande amiga P.. Éramos 4, eu apenas conhecia a P. mas ao fim de uns 100 km já cantávamos alto e bom som, com muito movimento, as músicas boas e não tão boas, que nos fazem recordar, sorrir e cantar.
Já na Swazilândia o frio começou a apertar e por cima da blusa de alças fui vestindo casacos, enrolei o lenço ao pescoço e já à entrada do festival Bushfire esperámos um outro grupo de amigos com quem tínhamos combinado ir jantar.
Àquela hora só um sítio ainda tinha comida, o Royal Swazi Hotel. Para aquecer pedimos uns shots de Kahula, Amarula e natas, era já quase meia-noite e a comida veio acompanhada de um bom vinho. A conversa e risadas fluíam com uma naturalidade quase surpreendente.

Pensei que já que me estava a mimar com a presença de amigos, estes e os que vim a encontrar ao longo do fim-de-semana, achei por bem mimar-me a sério para o meu fim-de-semana de aniversário.
O Hotel estava cheio, nós tínhamos reservado umas casinhas num lodge no meio de um parque natural, mas com aquele frio todo lá fora e o conforto do Royal Swazi Spa, achei melhor ver se conseguia arranjar um quarto. E depois de alguma conversa, o bláblá de que faço anos, etc etc, consegui um quarto e ainda por cima a metade do preço no Lugogo Hotel (mesmo ao lado e que é do mesmo grupo do Royal). Alguém tinha cancelado uma reserva à última da hora.
Quando chego ao quarto tenho um dilema... em qual das 2 camas de casal me havida de deitar :) Há pessoas com sorte, eu sei, e acho que fui uma delas.

Não dormi muito mas o suficiente para deixar o stress da semana de trabalho para trás. Acordei mesmo a tempo do pequeno-almoço gigantesco, tomei banho e vesti-me.
Era sábado dia, dia de festival.
Fui ter com o resto dos amigos ao Royal, aproveitei para comprar um gorro de lã e um cachecol, e assim fiquei equipada para o frio da noite de festival (frio a sério acho que chegámos a ter 7ºC).
Fomos almoçar ao Calabash, onde já não ia há 22 anos, desde que era pequenina. Entro na sala e vejo uma mesa grande lá ao fundo e praticamente todos os meus amigos (dos que foram ao festival) estavam lá, para me dar um beijinho no último dia dos 33 anos e começarmos a festejar os 34 logo ali.
Éramos mais de 30 :), seríamos 34? talvez.
Comemos da melhor carne, entradas fabulosas e no fim um bolo de chocolate divinal que deu para todos. As velas não apagavam apesar da minha determinação em as apagar. Eram daquelas velas chatas que não param de acender outra vez.
No fim do bolo uma rodada de shots, de uma qualquer coisa demasiado alcoólica, e transparente. Depois do shot é que vimos que era o álcool que estava dentro de uma garrafa com cobras e lagartos em conserva :) um bocadinho melhor do que o que bebemos no Vietnam ;)
Tive direito à sempre única música dos parabéns que este ano foi mais ou menos assim "Parabéns a você, Só amanhã!, Nesta data querida, Só amanhã!,...." foi muito bom :)

Saímos do restaurante e fomos para a House on Fire onde decorre o festival Bushfire. Um espaço ao ar livre com construções estranhas de uma mente criativa completamente louca, mas fenomenal. O espaço é mesmo espectacular.
O ritmo da festa eram as músicas do mundo, com um toque muito especial de África. Bons concertos, boa onda, boa gente, muitos sorrisos, abraços e mimos dos amigos que rodeavam. O calor humano era tanto que só ao fim de umas horas tive frio suficiente para vestir o casaco. Gritei, saltei, dancei e cantei... adorei :)

Quase perto da meia-noite consegui comer um hot-dog daquelas salsichas sul-africanas que detesto, mas como há alturas que não vale a pena ser esquisita.
Rapidamente esqueci os apertos da fila da comida (a comida acabou nas outras barraquinhas), esqueci a fome e com a música de fundo recebi abraços e beijinhos dos amigos que ainda se aguentavam no festival. Era dia 27 de Maio, começava assim o meu dia de anos em pleno festival.

Dancei, dancei até não poder mais... as pernas doíam tanto... nem me lembro de alguma vez ter tido tantas dores...
Já estoirada mas com um sorriso nos lábios voltei para o hotel, dormi um pouco e no meu aniversário fui tomar outro pequeno-almoço fantástico, e segui para as massagens :)
1:30 de massagem, daquelas a sério, com pedras quentes ao som dos pássaros no spa no meio do jardim. Rejuvenesci.

Seguimos para um almoço já tardio mais uma vez no Calabash, mas desta vez éramos menos e daqui seguimos para Maputo, onde os meu "bixos" esperavam ansiosamente por mim. O Pumba, a Matilde e o Valentim, brindaram-me de mimos enquanto recebia chamadas de Portugal e de outros lados do mundo...

Mais uma vez senti-me abraçada por todos, amigos e família, senti-me abraçada por aqueles que me fazem muita falta, mas que estiveram comigo neste dia especial.

Obrigada amigos, por me darem mais um dia (ou vários dias) tão especial.

Beijinhos grandes para todos do fundo do coração.

Para os meus amigos...

Quero ser teu amigo
Nem demais e nem de menos
Nem tão longe e nem tão perto
Na medida mais precisa que eu puder
Mas amar-te como próximo, sem medida ...
E ficar sempre em tua vida
Da maneira mais discreta que eu souber
Sem tirar-te a liberdade
Sem jamais te sufocar
Sem forçar a tua vontade
Sem falar quando for a hora de calar
E sem calar quando for a hora de falar
Nem ausente nem presente por demais,
Simplesmente, calmamente, ser-te paz
É bonito ser amigo,
Mas confesso,
É tão difícil aprender,
Por isso, eu te peço paciência
Vou encher este teu rosto
De alegrias, lembranças!
Dê-me tempo
De acertar nossas distâncias


(Autor: Fernando Pessoa )

quarta-feira, maio 23, 2012

Mudanças

Há dias... vários dias... que penso que tenho que escrever isto ou aquilo, mas depois penso que o melhor é mesmo guardar para mim as palavras, tal como guardo para mim as imagens (e por isso tenho tão poucas fotografias). Mas depois há dias como o de hoje, em que sinto que escrever me faz bem, me faz pensar num futuro lá longe, onde vou ler o que agora escrevi e vou recordar o que senti, o que vivi, o que experienciei.
Hoje é um apenas mais um dia normal, mas no meio de uns meses que em nada têm sido normais. Já vos contei a história da minha vida? venho contando aos bocadinhos... mas, e a história da minha vida desde o início deste ano? essa ainda não.
Então em breves palavras conto o que me vem à cabeça sem grande ordem lógica. E faço-o hoje porque perdi mais uma tia, daquelas do coração, e percebi (mais uma vez, infelizmente) que a vida são pequenos retalhos que partilhamos, pequenos momentos em que nos damos e em que recebemos o que os outros são.

Durante 3 anos andei a lutar para provar ao mundo e a mim mesma que era capaz de levar a avante um projecto profissional, que agora percebo era completamente louco, e que me desgastou fisica e psicologicamente, de uma forma que nunca pensei que fosse possível. Sem vos conseguir descrever os momentos que passei, falo apenas de alguns alertas que tive e que fui ignorando até estar à beira de um esgotamento.
 No primeiro ano do projecto, a felicidade que sentia por estar em Moçambique era tanta que o meu corpo foi sugado de toda e qualquer energia, sem que me apercebesse disso. Foi só no início do 2º ano de projecto que percebi que alguma coisa não estava bem.
Alergias, constipações, infecções e enxaquecas pareciam que estavam em disputa permanente para ver quem conseguia maior tempo de antena. Depois vieram os ataques de ansiedade durante o dia, depois ao acordar e mais tarde um aperto no peito constante que se agudizava quando o telemóvel começava a tocar. Inconscientemente associei o som e até mesmo a vibração do telemóvel a problemas de trabalho e a stress, e isso fez gerar mais stress.

Nesta altura fui a 2 médicos em Moçambique e 1 em Portugal, e mesmo assim foi difícil acreditar que algo estava errado comigo. Diagnosticaram-me uma depressão associada a um esgotamento físico. Nesta altura percebi que a pressão arterial normal não é 18 / 12, percebi que o meu corpo estava em stress constante, o colestrol altíssimo, os açucares também, e etc etc etc. Tive ordem imediata para parar, para dormir... caso contrário qualquer um destes médicos iria passar-me uma baixa médica.
Ok. Foi aqui que vi que exagerei, foi aqui que percebi que tinha que mudar de vida. Assim, lentamente, fui tentando por as peças do puzzle, que era a minha cabeça, no lugar.
Apercebi-me que não conseguia decorar mais nada, que não me lembrava de compromissos, que para pensar tinha que fazer um esforço brutal e mesmo assim pensava a passo de caracol, quando comparado com o meu eu passado que pensava à velocidade da luz.
Então, entrando no último ano do projecto programei umas férias e uma viagem que parecia demasiado arriscada e louca, mas que acabou por ser tão simples, tranquila, magnífica e centrada nas coisas belas e momentos que ficam na memória.

Esta viagem foi a volta a Moçambique. E foi aqui que se iniciou a minha verdadeira mudança. Foi depois da viagem que decidi que tinha que mudar a minha vida e voltar a agarrar as rédeas do meu destino. Foi durante a viagem que percebi que tinha vivido os últimos 12 anos a pensar na minha evolução profissional, e que me tinha, algures no caminho, esquecido de mim.
Decidi que até Fevereiro de 2012 tinha que tomar alguma decisão que implicasse mudança, e é essa mudança enorme que se está ainda hoje a processar em mim.

E em Fevereiro iniciaram-se então as mudanças. Pedi licença sem vencimento no grupo Águas de Portugal, abracei um desafio profissional diferente, mudei de casa, adoptei um gato para dar cabo das baratas e confusionar os meus canitos. Agora que já iniciei este processo de mudança percebo que ainda não acabou, e que afinal as mudanças que preciso são ainda mais profundas do que imaginei no início.
Preciso de voltar um bocadinho atrás no tempo e deixar de ser tão adulta e tão pouco criança. Não me apercebi desta mudança, mas crescer assim não me fez bem, foi muito rápido, e por pouco não perdi a o meu eu criança, aquele eu que deve sempre habitar em nós.
Mas a maior de todas as mudanças é o facto de eu agora assumir claramente que adoro viver aqui :) e, pelo menos por enquanto, é aqui que quero viver. Nesta terra que me abraça calorosamente desde o amanhecer, onde tomo o pequeno-almoço no quintal enquanto os canitos dormitam ao sol e o gatufis sobe às árvores.

É agora, antes de continuar neste processo de mudança, que tenho que vos dizer, olhando nos olhos de cada um (assim o imagino) "Desculpa por ficar tão longe, tanto tempo. Desculpa por ter decidido que agora vivo em África." e ao mesmo tempo dizer "Penso em ti todos os dias, sinto a tua falta todos os dias. Sinto falta das nossas conversas, dos nossos cafésinhos, do sorriso dos teus filhos, sinto falta de os ver crescer." .
Ainda ontem escrevi a uma amiga e disse-lhe "Espero que me compreendas, tu que me percebes tão bem" (tal como os meus amigos, aqueles do coração). Eu sei que compreendem incondicionalmente, porque isso é amizade, mas acho que vos devo uma explicação. Adoro ver-vos e, quando a distância não permite, adoro falar convosco ao telefone. Mas de cada vez que falo convosco choro por dentro com uma dor infinita que me custa tanto, mas tanto, aguentar. É por isto que não ligo tantas vezes... pelo menos não tantas como gostaria.

Não posso prometer nada neste meu discurso longo, nesta introspecção pública. Não posso prometer mais viagens a Portugal, visitas a toda a gente, mas uma coisa posso prometer, estão sempre no meu coração. E durante este processo de mudança foram vocês que me deram força para começar, e são agora também o que me move. A nossa amizade é uma parte fundamental da minha vida, e da minha felicidade. A única coisa que posso prometer, e prometo sempre a mim própria, é que todos os dias sou feliz, e se tal é possível, a mudança em curso tem apenas como objectivo trazer ainda mais felicidade para junto de mim.

terça-feira, março 27, 2012

O regresso do emigrante

Às vezes perguntam-me se penso em regressar a Portugal, e respondo que sim... penso nisso. E cada vez que vejo um amigo partir, dou por mim a pensar no meu regresso, enquanto lhes explico que já fiz um regresso e não foi nada fácil.
Serão estas as novas preocupações dos emigrantes, as grandes ansiedades, que aliadas à tão típica saudade, faz com que alguns dos novos emigrantes passem anos a pendulando entre ficar aqui ou finalmente regressar a casa.

Depois de 3 anos aqui (mais os 3 de quando era miúda) posso dizer que já vi demasiadas pessoas a ir embora, já vi como custa muito, a todos os que regressam, voltar a encaixar no dia-a-dia de Portugal. Por isso decidi escrever uma carta a um amigo que agora parte para Londres, fazendo uma pequena paragem em Portugal.
Escrevo para ele, mas é como se fosse para todos, e principalmente para mim, para um dia voltar a ler o que escrevo, na esperança que as minhas próprias palavras me dêem a força que preciso para partir e deixar o continente que adoro... África.

" (...)
Sobre o teu regresso aí… eu sei que é doloroso, eu sei que é estranho e que já não encaixas, principalmente nesta altura de crise. Mas apesar disso, repara como sabe bem ir ao café, andar pelas ruas da cidade com essa luz que só Lisboa tem, como é fantástico o nosso frio oceano atlântico, e como é bom rever família e amigos, e perceber que aqueles amigos continuam sempre nossos amigos.

Escrevo-te assim, porque quando regressei de Cabo Verde, foi um choque demasiado grande voltar a viver em Portugal e, sendo honesta comigo própria, acho que encaixo melhor em África do que em Portugal, pelo menos nesta fase da minha vida.
Mas tenho quase a certeza que um dia também eu farei o regresso por vontade própria, e nessa altura sei que vou sofrer por antecipação e sei que vai doer quando aterrar em Lisboa de armas e bagagens, mas também sei que à primeira oportunidade vou a Sintra comer as queijadas, vou a Óbidos andar na muralha do castelo e vou à praia da Arrifana brincar com a prancha de bodyboard nas ondas pequenas de verão.

E se em vez de Portugal decidisse regressar ao velho continente, escolheria uma cidade como Londres, Amesterdão ou Barcelona, para morar.
E se fosse em Londres, comprava um carro para poder ir passear para o “countryside” aos fins-de-semana, ir a Bath, a Stonehendge, a Portsmouth, a Stratford-upon-Avon ou a Cambridge.
E nos fins-de-semana que não me apetecesse sair da cidade, ia fingir-me de turista e comprava um bilhete para um musical, ou ia passear pelos mercados que vendem um pouco de tudo, ou ia esticar-me na relva dos jardins e parques. Ou talvez ainda, estender-me no chão da Tate Modern… onde “sonhei” com um pôr-do-sol africano.
(…)"

terça-feira, setembro 27, 2011

Futuro próximo

Ando assim, como que arrastada pela corrente, ora me aproximo de terra ora me afasto novamente para alto mar, lá onde as ondas são altas, onde subo e desço em flutuações de humor, ainda mais enjoativas do que o habitual.
Hoje acordei muitas vezes durante a noite... desde frio, calor, mosquitos, enjoos... a minha cabeça anda às voltas e voltas, e nem este último fim-de-semana grande, nem o reiki ou o yoga, me conseguem acalmar.
Estes meses são parecidos com os que antecederam a minha vinda para Maputo. Estes meses são de silêncio, introspecção, apoio na família (que agora está a 10,5 horas de viagem), expectativa, nervoso miudinho... São o prelúdio do futuro, de um futuro aqui tão perto e ao mesmo tempo, que demora tanto a chegar.
Gosto desta emoção, mesmo que diga que não gosto. Mas gosto de verdade, porque é daqui, deste turbilhão, que sai mais uma mudança, uma daquelas que pode não ser física, mas que é claramente emocional.
O meu coração vibra ao ritmo da minha alma, quero dar um passo em direcção ao meu futuro que já está ali, mas olho em volta, pisco os olhos, tento focar e não o vejo com clareza. Para falar a verdade nem sei por onde devo seguir, nem sei como é este futuro, apenas sei que quero e preciso de avançar.
Mas, por agora, paro tudo e aguardo, aguardo que me digam algo, aguardo que um sino dentro de mim toque exigindo uma reacção.
Não sou, normalmente, uma pessoa que espera acções para depois agir, mas a verdade é que neste momento preciso que todos os restantes actores ajam para que eu, depois de reflectir (e aproveito estes momentos para isso), possa então dar esse passo grande ou pequeno, que me leva para lá, para o meu futuro mais próximo, que está já ali.

quarta-feira, julho 27, 2011

Provérbio zambeziano

“Mulher é terra.
Sem semear, sem regar, nada produz”

Um bocadinho da nossa realidade...

A lixeira de Hulene, na zona suburbana de Maputo, mesmo ao lado do aeroporto, recebe todos os dias os resíduos produzidos por esta cidade em crescimento. A vida e o trabalho ali são duros, e estão longe dos olhares menos atentos de quem vive no centro da cidade. Ali vivem-se vidas, constroem-se famílias, sobrevive-se e criam-se negócios. Ali há gente, muita gente...
A reportagem fotográfica que se pode ver no link mostra um bocadinho desta realidade.
http://www.behance.net/gallery/Trash-Land/1820899